Vivemos um tsunami de informações no mundo e dentro do Brasil. Há temas importantes, outros secundários, joias reluzentes, hackers, capítulos inteiros de novelas jornalísticas.
Como determinar hierarquias nesse tumulto? Como definir o que é importante e observá-lo prioritariamente, sem se distrair muito?
A resposta a isso depende do observador. Na minha opinião, o fato mais importante no planeta é a emergência climática, determinada pelo aquecimento global. As consequências já se fazem sentir, sobretudo na frequência dos eventos extremos.
Se a tese é verdadeira, o movimento mais importante a ser observado é exatamente a transição para uma economia verde. É um fenômeno mundial, embora não homogêneo, que já mobiliza bilhões de dólares e emprega milhares de pessoas.
Embora não pareça, pela modéstia dos passos até agora dados e pela efervescência de nossa vida política, o Brasil também vive um processo de transição tanto na esfera do governo como na iniciativa privada.
Como as iniciativas, além de tímidas, são também fragmentárias, é preciso um pequeno esforço para sistematizá-las e, por meio desse trabalho, dar um modesto empurrão no processo. No meu entender, mesmo dentro do governo, falta ainda um movimento de ligar as pontas, traçar um quadro que possa medir o avanço da transição inevitável.
Recentemente, o lançamento do PAC colocou em destaque a transição energética. O Brasil já tem uma posição privilegiada neste campo. Mas a existência de uma energia abundante e renovável pode transformar o Brasil num centro de atração para as empresas do mundo que queiram desfrutar dessa vantagem competitiva. O ministro Fernando Haddad já defendeu essa tese em algumas oportunidades. Ela é viável.
Naturalmente, para exercer também um papel de destaque no processo de transição planetária, o Brasil precisa resolver um dos seus sérios problemas, que é o desmatamento. A promessa de zerá-lo até 2030 é vaga. É preciso apresentar metas temporárias e apressar o trabalho: 2030 pode ser tarde demais porque a floresta, sobretudo a Amazônica, aproxima-se do ponto de não retorno.
A transição não é apenas energética. No Congresso Nacional há projetos de senadores do próprio governo que precisam ser impulsionados, pois tratam da economia circular e da agricultura de baixo carbono.
No caso da economia circular, o Projeto de Lei 2.524, do senador Jean Paul Prates, é decisivo porque diz respeito também à saúde dos oceanos. Ele fortalece a economia circular dos plásticos, torna a lei mais severa e inclui catadores e cooperativas no programa nacional de compensação ambiental.
No Senado, há também o projeto do senador Jaques Wagner que regulamenta o uso de bioinsumos. O debate sobre o tema revelou que já existe uma cadeia produtiva no Brasil, envolvendo 10 mil empregos.
A questão dos bioinsumos se articula com o Plano Safra, que, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, está incentivando a produção agrícola familiar orgânica, com financiamento a juros que podem cair até 3%.
Tudo isso sem falar no grande tema do mercado de carbono, um projeto relatado pela senadora Leila Barros, que vai estimular a transição das empresas para uma economia de baixo carbono e, talvez, acabe sendo examinado na frente de todos os outros.
Esse apanhado é rápido e trata apenas do que ocorre no governo e no Congresso. Ainda assim, ele indica que são muitas as iniciativas empurrando para a transição verde, embora não exista uma coordenação nem uma régua para medir a eficácia do esforço conjunto.
A esta altura do governo, já com 38 ministérios, seria inadequado propor mais um para coordenar a transição.
No entanto, a maneira de superar o caos no debate e a troca de informações políticas seria ter um modo de olhar que elabore sempre esses fatos. Tudo indica que o planeta e o País caminham nessa direção. Tudo indica também que, apesar dos negacionistas, este é o rumo por meio do qual a humanidade pode escapar da autodestruição.
Como o mundo oficial é apenas uma parte da solução e as iniciativas se multiplicam no nível das empresas, grandes ou pequenas, na própria sociedade, temos diante de nós um imenso campo de observação cujas pontas precisam ser ligadas, tanto no plano prático como na avaliação intelectual.
Isso ajuda a responder pergunta que às vezes nos fazemos: quem somos nós, onde estamos e para onde vamos? Naturalmente, essa não é a única questão, apenas aquela que emerge do problema principal. De nada adianta trabalhar a sobrevivência sem contribuir para reduzir desigualdades.
Daí a complexidade da resposta: como transitar para uma economia verde ampliando as oportunidades? Com a ajuda internacional do Fundo Amazônia, por exemplo, já poderíamos começar a reflorestar em grande escala. Nossa exportação de produtos florestais perde para países como a Bolívia e Uganda.
Estamos caminhado, mas é necessária uma sacudida. Já não se trata tanto de rumo, mas da velocidade que os tempos exigem.
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JORNALISTA
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