quarta-feira, 6 de setembro de 2023

Casa de Portugal em São Paulo se moderniza com as celebrações da democracia, FSP

 No centro de São Paulo, no início da Liberdade, existe um lugar que todos sabem onde fica, mas poucos sabem o que realmente é: a Casa de Portugal.


Fundada em 1935, a "casa" levaria 20 anos para se instalar no majestoso solar talhado em granito, dizem que inspirado pelo gênio revolucionário do arquiteto português Ricardo Severo, responsável por projetos de impacto como a Faculdade de Direito do largo São Francisco.

Desde a sua fundação, a Casa se afirma "a" instituição da comunidade luso-brasileira e, também por isso, no melhor e no pior, vai influenciar decisivamente a opinião que os paulistas têm das gentes da terrinha. De Eusébio a Ronaldo. De Zambujo a Leal.

Monumento Padrão dos Descobrimentos em Belém, Lisboa, visto a partir do Rio Tejo
Monumento Padrão dos Descobrimentos em Belém, Lisboa, visto a partir do Rio Tejo - Patrícia de Melo Moreira - 3.set.23/AFP

O atraso estrutural em relação à Europa, vítima de seu fascista e anacrônico Estado Novo (1928-1974), ajudou a sedimentar a história, mas a caricatura antiquada e a piada fácil também se devem à ditadura brasileira que, como todas as ditaduras, aprecia gestas toscas, frágeis e longínquas.

Em política, percepção é tudo. Como a redemocratização no Brasil ocorreu em um momento bem mais moderno (1985) que a Revolução dos Cravos (1974), esse discurso acabou perdurando no tempo, e o ranço com que o brasileiro comum fazia a piada de português até depois da primeira década do século 21 se devia fundamentalmente a muita desinformação e ainda maior desconhecimento.

O Portugal europeu — seguro, moderno, escolarizado, culturalmente rico e sofisticado, liderante em tecnologia, capaz de albergar eventos de dimensão global e de se tornar um dos mais reconhecidos destinos do mundo— continuou invisível por mais uns anos.

Mas hoje tudo é diferente. Andando pelas ruas, nos táxis e em edifícios públicos, falando com homens de negócios, políticos, servidores, estrelas de televisão, autores, atores, poetas e escritores (até você aí lendo este texto), nos deparamos quase unanimemente com a mesma sentença: eu amo Portugal.

Na última década o Brasil descobriu este Portugal diferente. Filho da Revolução dos Cravos, ele hoje é um lugar desejado por cada vez mais brasileiros. Fazendo jus ao seu legado, a mesma Casa de Portugal que representou essa imagem anacrônica hoje se prepara, de novo, para ser futuro.

Antecipando o ano das celebrações dos 50 anos da conquista da democracia portuguesa, a Casa inaugura um inovador ciclo de debates. Na mesma mesa, o escritor Tom Farias, biógrafo de Carolina Maria de Jesus, e o representante do Estado de Portugal em São Paulo, o embaixador António Pedro Rodrigues da Silva, vão conversar sobre o futuro comum dos povos da língua portuguesa.

No Brasil o futuro se encontra. Esta conversa (11/9), que ocorre na mesma semana em que o governo brasileiro regulamenta a concessão de visto de autorização de residência a nacionais da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, também marca uma nova era na relação com Portugal. Belos tempos se anunciam para as austeras colunas sonhadas por Severo.

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