quinta-feira, 6 de julho de 2023

O QUE A FOLHA PENSA PIB Bodes fora da sala

 Aprovado pelo Senado para ocupar a diretoria de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, uma indicação do governo petista, mostrou sensatez ao ser sabatinado pelos parlamentares.

Não esboçou nenhum sinal de confronto com o atual comando do BC nem de inclinação a experimentalismos heterodoxos. Ex-número dois de Fernando Haddad na Fazenda, preferiu expor os progressos que considera terem sido obtidos pela atual gestão.

Em sua lista, incluiu a valorização da moeda nacional ante o dólar, a queda das previsões para o déficit orçamentário, a iminente aprovação de uma nova regra fiscal, a alta dos prognósticos para a expansão do PIB e os recuos da inflação e da taxa de juros esperada.

É tudo verdade, mas cumpre observar que boa parte da melhora se deu sobre expectativas que haviam se deteriorado após a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e seus ataques ao controle da despesa pública e à autonomia do BC.

Os humores mudaram com o cenário internacional mais favorável, a safra agrícola recorde e a constatação de que, a despeito do falatório do presidente da República, as piores ideias econômicas petistas não têm prosperado —é o proverbial bode retirado da sala.

O Congresso logo fez saber que não avançariam eventuais tentativas de mudar a governança da política monetária e reverter reformas dos últimos anos. Do mesmo modo, barrou-se a investida estatista do Palácio do Planalto contra o marco legal do saneamento.

Especulações sobre aumento das metas de inflação, insufladas por Lula, foram deixadas de lado. O recurso ao Judiciário para enfraquecer a privatização da Eletrobras, até aqui, deu em nada. O programa anacrônico de apoio à indústria automobilística teve suas dimensões limitadas.

As teses gastadoras e inflacionistas parecem circunscritas ao BNDES. Em vez disso, Haddad e sua equipe se dedicaram à prioridade correta de fazer avançar a nova regra de contenção de gastos.

É nesse ponto, entretanto, que a listagem otimista de Galípolo merece a principal ressalva. Apesar de alguma queda recente, as expectativas mais consensuais ainda são de déficits orçamentários elevados neste ano e no próximo, além de alta contínua da dívida pública, hoje já equivalente a excessivos 73,6% do Produto Interno Bruto.

O governo Lula, portanto, ainda tem muito a fazer para desarmar o principal obstáculo à queda célere dos juros e ao crescimento da economia brasileira. Se sua regra fiscal não conquistar credibilidade maior, será mais difícil —e suscetível às intempéries do cenário internacional— tornar duradoura a atual melhora de humores.

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