Ao falar sobre a Venezuela, Lula disse que "o conceito de democracia é relativo". Segundo o petista, o governo do ditador Nicolás Maduro é democrático, já que lá há eleições.
O discurso remete a um conceito caro à antropologia. Em oposição à visão evolucionista, que considera que há culturas menos e mais desenvolvidas, o relativismo cultural parte do pressuposto de que não há cultura superior ou inferior. Cada uma tem suas crenças e práticas, que devem ser interpretadas dentro de seus contextos, em vez de julgadas pelos padrões de outras culturas.
O conceito é precioso, por valorizar diversidade e apontar opressões imperialistas. Contudo relativismo cultural não implica relativismo ético, como denota a fala de Lula.
Afinal, não se trata de comparar samba com Bach ou cachaça com champanhe, mas de princípios universais como os direitos humanos.
A democracia não se resume ao pleito. Tal regime se caracteriza por Estado de Direito, respeito aos direitos individuais e às liberdades civis, pluralismo político, e, quanto às eleições, devem ser livres e justas. A Venezuela falha em todos os quesitos.
O Tribunal Penal Internacional abriu investigação por crimes contra a humanidade no país. Segundo relatório do Conselho de Direitos Humanos da ONU, autoridades são responsáveis por assassinatos, uso sistemático de tortura e detenções arbitrárias. No ranking de liberdade de imprensa do Repórteres Sem Fronteira, a Venezuela ocupa a 159ª posição na lista de 180 países. Eleições são realizadas sem o escrutínio de observadores internacionais, como é de praxe no mundo democrático.
A falácia de Lula não só é um acinte aos direitos humanos como estimula a polarização ideológica aqui.
Segundo o Datafolha, 52% dos eleitores acham que o Brasil corre risco de virar comunista. Uma insensatez, por óbvio, mas um presidente que defende regime autoritário de esquerda tende a respaldá-la, acirrando extremismos numa sociedade já dividida —um perigo para a democracia, como prova a Venezuela.
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