Por um futuro melhor, precisamos conhecer e usar corretamente todos os recursos de que dispomos, principalmente a inteligência. Precisamos de honestidade intelectual, usando toda a informação existente e avaliando imparcialmente os riscos e benefícios de cada ação. Se ficarmos imobilizados em debates estéreis, criaremos desastres.
Um debate atual, muito polarizado, trata da produção, uso e descarte de plásticos. Críticos dos plásticos os associam ao petróleo, outro indigitado vilão, omitindo que se pode produzir plásticos usando biomassa, sem petróleo. Por exemplo, uma empresa brasileira chegou a produzir 200 mil toneladas/ano de polietileno a partir de etanol. O sucesso do álcool brasileiro motivou, a partir de 2002, um intenso esforço global de pesquisa e desenvolvimento, criando rotas para a fabricação de qualquer um dos plásticos atuais a partir de madeira e restos vegetais. Mas isso cresceu pouco, porque os produtores de petróleo manipulam seu preço sempre que se sentem ameaçados, inviabilizando o uso maciço de biomassa pela indústria química. E biomassa é cara porque os produtores florestais e agrícolas querem ser recompensados pelos seus esforços.
É fácil entender porque o uso de plásticos cresce o tempo todo. Em uma UTI, unidade de hemodiálise, posto de vacinação ou sala cirúrgica, estamos rodeados por plásticos: seringas, luvas, vestes, toucas, acessos, tubos etc. O PVC viabiliza o fornecimento de água potável para populações de baixa renda. Não se trata de ganância, mas sim de evitar diarreia, cólera, sede. Trata-se de sobrevivência. Os viveiros de plantas, as estufas de cultivo de vegetais, os sistemas de irrigação e os drones que vigiam as florestas seriam inviáveis sem os plásticos.
Mas os benefícios dos plásticos são ofuscados pela poluição de praias, rios e mares, causadora de justa indignação. É uma pena, porque qualquer poluente tem valor e pode ser explorado usando ciência, tecnologia e criatividade. Garrafas PET formam ilhas sobre oceanos, mas agricultores brasileiros guardam o feijão em garrafas PET usadas, evitando o caruncho e outras pragas. O PET é reciclável e, anos atrás, o mesmo grupo econômico era o maior fabricante de PET no Brasil e o maior reciclador. Ganhavam dinheiro praticando a economia circular e reduzindo a poluição por plásticos.
A maioria dos plásticos é reciclável, mas ninguém se interessa pela reciclagem de fraldas ou absorventes usados. Esse problema e outros análogos são resolvidos na Europa incinerando 60 milhões de toneladas de lixo anualmente, em usinas que produzem energia. No Brasil, ainda prevalece uma legislação que ignora o quanto evoluíram as tecnologias de pirólise, gaseificação e incineração de lixo. E também estamos presos aos interesses de grupos de políticos e empresários poderosos ligados ao mercado do lixo.
Em resumo, qualquer poluição é uma manifestação de ignorância, burrice ou preguiça. Todos têm muito a ganhar usando plásticos, mas buscando o seu reaproveitamento por qualquer uma das muitas formas já conhecidas (e inventando outras), geradoras de riqueza e empregos.
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