O governo de Dilma Rousseff cometeu muitos e graves erros, especialmente na economia. Foi vendo o amplo apoio parlamentar de que nominalmente gozava esvair-se e, quando não conseguiu reunir nem 1/3 dos deputados ou dos senadores para salvar-lhe a pele, sofreu o impeachment. O governo de Jair Bolsonaro é colossalmente pior que o de Dilma. Ele cometeu muitos e graves erros na economia e em quase todas as esferas. Ainda assim, Bolsonaro foi poupado do impeachment. Como explicar isso?
O Parlamento é que dá as cartas —e é bom que seja assim. Dá para fazer uma democracia com deputados e sem um presidente, mas um presidente sem legisladores não passa de um tirano. Dilma tinha como vice Michel Temer, que fez sua carreira no Parlamento e se relacionava bem com os mais diversos grupos.
Quando o governo começou a fazer água, os congressistas olharam para Temer, que piscou de volta. Foi para ele que a massa de parlamentares sem grandes convicções ideológicas, mas ciosa de conservar-se no poder, correu. Não foram traídos. Na Presidência, Temer inaugurou uma espécie de parlamentarismo branco, no qual o centrão e associados tiveram farto acesso a cargos e verbas.
Bolsonaro cometeu crimes de responsabilidade aos borbotões e viu seus índices de popularidade caírem. Poderia ter sofrido o impeachment. Mas os congressistas olharam para o vice Hamilton Mourão, que não piscou de volta. Viram, porém, uma oportunidade. Poderiam, em troca de manter Bolsonaro no cargo, explorar diretamente o Orçamento. As verbas para emendas parlamentares, tanto as declaradas como as secretas, aumentaram. Os cargos também apareceram. Bolsonaro e seus sequazes pararam até de falar mal do centrão.
O arranjo funciona para reduzir tensões políticas, mas cria um enorme problema moral. Em nenhum universo em que a ética tenha valor dá para sustentar que Bolsonaro merece menos o impeachment do que Dilma.
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