RIO DE JANEIRO
Um amigo, adolescente no Rio durante a 2ª Guerra e hoje perto dos 90, me falou da diferença entre aquela época e a nossa, sob a Covid. A guerra era disputada lá fora e só participávamos dela pelos jornais, cinejornais e rádio. Saía-se à rua à vontade, não nos jogavam bombas. À noite, ia-se para o escurinho da orla com a namorada a fim de “vigiar” os submarinos alemães. E, quando o Brasil mandou seus rapazes para a Europa, foi melhor ainda porque, diziam, a FEB ganhava todas.
A guerra atual é muito pior. Também é mundial, mas, ao contrário da outra, desconhece fronteiras. Dá-se na nossa rua, na nossa casa e dentro de nós. O inimigo é invisível e não escolhe veículo para nos invadir —30 segundos de conversa a menos de dois metros com um estranho podem bastar. Há inúmeros casos de contágio por amigos, filhos, netos. É cruel imaginar que a transmissão possa se dar por gestos de amor.
Esta guerra já dura nove meses e, para muitos que continuamos fiéis à quarentena, a rotina do front interno começa a ser um suplício. O consumo de álcool, cigarros e ansiolíticos disparou. Secretárias de médicos já mantêm blocos de receitas assinadas autorizando a compra dos remédios que as exigem.
Quantos enfartes não se darão por falta de exercício dos cardiopatas? E, pelos índices de violência doméstica, quantos casamentos não se tornaram uma jaula a dois?
De repente materializa-se a esperança da vacina. E o que faz o demente Bolsonaro? Aproveita-se de que muitos estão loucos por um pretexto para sair e estimula uma última onda de contágio ao anunciar que a pandemia está “no finalzinho”.
Enquanto outros países cuidam de orientar seus cidadãos, os assassinos que nos governam fazem da nossa tragédia uma farsa. Em breve, aqueles países estarão maciçamente vacinados. Nós, precariamente —alguns sim, outros não. Mas ninguém nos quererá por perto em conjunto.
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