Após vencerem os astecas, que dominavam o planalto mexicano, os invasores espanhóis se depararam com vestígios de uma cultura muito mais sofisticada, espalhados em Iucatã (sul do México), Guatemala, Honduras, Belize e El Salvador. São monumentos impressionantes em misteriosas cidades perdidas na selva, suas paredes cobertas com símbolos complicados, chamados glifos.
Era o que sobrara da brilhante civilização maia, cujo período de glória teve lugar entre os anos 250 e 900. Os descendentes ainda habitavam a região, mas, como eram empobrecidos e reduzidos a uma agricultura de subsistência, era difícil acreditar que pudessem ter algo a ver com a cultura que erguera tais monumentos.
Os europeus preferiram atribuir a autoria a algum povo desconhecido vindo do Velho Mundo, talvez até as Tribos Perdidas de Israel, e os maias foram esquecidos até a década de 1840, quando os viajantes John Lloyd Stephen e Frederick Catherwood publicaram o magnífico “Incidentes de viagem na América Central, Chiapas e Iucatã”. Repleto de suas observações, traduzidas em ilustrações espetaculares, esse livro foi responsável pela fascinação que os maias passaram a exercer sobre os intelectuais do Ocidente.
Infelizmente, fascinação não acarreta compreensão: os maias passaram diretamente do esquecimento para o mito.
Quando li pela primeira vez sobre eles, ainda prevalecia a ideia de que teriam sido um povo pacífico e contemplativo, voltado à busca dos valores espirituais, liderado por uma casta benevolente de sacerdotes astrônomos-matemáticos regidos pela moderação em todas as coisas, a disciplina, a cooperação, a paciência e o respeito pelo próximo.
Para perceber até que ponto era bobagem, tivemos que decifrar os escritos dos antigos maias, cuja leitura seus próprios descendentes tinham esquecido ao longo dos séculos. Hoje sabemos que, embora os seus avanços em astronomia e matemática tenham sido notáveis, isso não trouxe outra sabedoria: os maias viviam em guerra quase permanente, e suas elites eram particularmente sedentas de sangue e adeptas da tortura.
Stephens não duvidara que os glifos constituíam um sistema completo de escrita e pedira que “um Champolion” (referência ao descobridor da escrita hieroglífica egípcia) aplicasse seu talento para decifrá-los.
Mas esse desafio foi essencialmente ignorado —as principais obras sobre escritas antigas nem sequer o mencionavam— até meados do século 20, quando foi vencido no espaço de duas décadas. Fica para semana que vem.
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