A estabilidade na aprovação ao governo de Jair Bolsonaro, como aponta a mais recente pesquisa Datafolha, assim como a oscilação positiva no ponto neutro —o regular variou dois pontos percentuais para cima enquanto a reprovação regrediu na mesma proporção—, indica estado de inércia da opinião pública, que aguarda sinais mais claros nos diferentes cenários do país para se posicionar de maneira mais contundente.
A população está em compasso de espera e se equilibra sobre ambiente tenso de forças que se anulam —apesar de uma segunda onda da pandemia se desenhar pelas curvas crescentes de novos casos e mortes, a economia pulsa pela flexibilização do isolamento, pelo aquecimento do consumo e pelos reflexos das últimas parcelas do auxílio emergencial.
Mais do que o benefício em si, a injeção de recursos que ele representa, ao garantir acesso de vulneráveis ao básico e potencializar o consumo, manteve o patamar da popularidade do presidente especialmente onde o auxílio figura como única fonte de renda.
Nesse estrato, a avaliação positiva de Bolsonaro fica acima da média e bate 40%, enquanto a negativa se apresenta abaixo do total em cinco pontos percentuais.
Entre os que possuem renda de até dois salários mínimos, Bolsonaro acumula, desde sua posse, um crescimento de 11 pontos percentuais na aprovação ao seu desempenho, sendo que mais de 70% dessa evolução aconteceu nos últimos seis meses.
A tendência é a mesma entre os moradores do Nordeste, entre os menos escolarizados e entre os que vivem em cidades do interior.
O presidente chega à metade do seu mandato com o perfil de seu capital político alterado pelos fatores que influenciaram a opinião pública ao longo de 2020.
O discurso negacionista diante da pandemia, as demissões de ministros e a participação em atos antidemocráticos levaram a reprovação de seu governo a 44% em junho deste ano, patamar superior em 14 pontos percentuais ao verificado no início de sua gestão.
E o fenômeno foi alavancado especialmente por estratos que majoritariamente o elegeram. Entre os de maior renda e nível superior, a classificação de ruim ou péssimo chegou a ultrapassar 50% há seis meses.
Agora, com os efeitos da flexibilização do isolamento social e do auxílio emergencial sobre a economia, percebe-se um pequeno refluxo da tendência nesses segmentos, mas para um grau de frustração maior do que existia há quase dois anos —entre os mais escolarizados e os de maior renda, o crescimento da insatisfação totaliza mais de dez pontos percentuais nesse espaço de tempo.
Como a participação dos conjuntos de menor renda tem maior peso na população, sua reprovação entre os mais ricos e escolarizados (47% e 48%, respectivamente) não se projeta sobre o total da amostra na mesma proporção: os índices de 27% e 26% de ruim ou péssimo que ostenta entre os mais pobres e menos escolarizados puxam a média para baixo —32% entre os brasileiros de um modo geral.
Mesmo assim, Bolsonaro chega aos dois anos de governo como um dos presidentes mais reprovados pós-redemocratização, considerando período equivalente em um primeiro mandato.
Dos que foram eleitos pelo voto direto, só ganha de Fernando Collor, que à beira do impeachment, ao completar quase dois anos de gestão, era avaliado como ruim ou péssimo por metade dos brasileiros (48%).
Quanto ao futuro, o auxílio emergencial que garantiu base de apoio popular ao presidente é um dos ingredientes que alimenta a inflação, que cada vez mais é percebida e temida pelos entrevistados.
Com a população e conomicamente ativa às voltas com o desemprego e informalidade, mantido o padrão de aumento nos preços, a história mostra que a queda no poder de compra tende a impactar a imagem do governo a curto prazo.
As incertezas sobre a continuidade do benefício e seus reflexos sobre a economia devem compor um quadro que ainda traz a politização no debate sobre as vacinas contra a Covid como fator importante.
Por mais que sintam a aproximação de uma segunda onda da doença, os ruídos gerados pelas polêmicas sobre o assunto levam cada vez mais brasileiros a relativizarem os perigos da doença e resistirem à imunização.
Dependendo do comportamento da população em eventuais confraternizações de final de ano, os primeiros meses de 2021 podem trazer dados impactantes sobre o número de mortes que, ao não encontrarem uma força de resistência na outra ponta da corda (economia sem auxílio e com inflação) desequilibrem o delicado cabo de guerra sobre o qual vive hoje a opinião pública brasileira.
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