O Estado de S.Paulo
O manejo adequado do lixo no Brasil pode possibilitar uma redução de 54 milhões de toneladas de gases de efeito estufa por ano. É a conclusão de um estudo feito na Universidade de Utrecht (Holanda), levando em conta o cenário de mudanças estabelecido pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, na comparação com o padrão atual de descarte.
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O trabalho considerou as estimativas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para as emissões do setor, e o padrão da composição dos resíduos sólidos no Brasil elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), que encomendou a pesquisa.
Em 2011, 51,4% dos resíduos brasileiros eram matéria orgânica (passível de compostagem), 31,9% eram recicláveis e 16,7% entravam na categoria outros (em geral rejeitos que não têm nenhum aproveitamento).
Esse quadro foi complementado com o dado de que 42,44% dos resíduos têm destino inadequado (vai para lixões) e só 3% são reciclados. Pelos cálculos dos pesquisadores, numa projeção para 2030,mantidas essas condições, as emissões do setor seriam equivalentes a 95,5 milhões de toneladas de CO2 por ano.
Em sua decomposição, o lixo emite principalmente metano (CH4), um dos gases de efeito estufa que, apesar de contribuir com o problema em menor volume que o gás carbônico, tem um poder calorífico maior. Para somar todos os gases, os cientistas converter o valor para o do CO2, daí essa unidade "equivalente".
O ano 2030 também foi pensado porque é o estabelecido pelas metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Na ocasião, 36% do "lixo seco" deverá ser reciclado, e 53% do lixo orgânico deverá ser compostado. O trabalho considera também o aproveitamento de 83% do gás gerado nos aterros para produção de energia elétrica. Com tudo isso, deixaria de ser emitido o equivalente a 54 milhões de toneladas de CO2 por ano - redução de 56% em relação à projeção se nada fosse feito.
"Além do ganho climático, essa diminuição geraria créditos de carbono que poderiam render US$ 570 milhões", comenta Carlos Silva, diretor executivo da Abrelpe.
O trabalho também considerou um cenário mais ousado, com padrões semelhantes aos europeus: reciclagem maior, compostagem de 80% e incineração do que não for reciclado, gerando energia.
A redução poderia chegar ao equivalente a 82 milhões de toneladas de CO2 por ano, com ganho em créditos de US$ 1,3 bilhão. "E nesse cálculo nem foram considerados os ganhos com a venda da reciclagem. A ideia é que essas atividades poderiam gerar recurso para o próprio setor melhorar", afirma. / GIOVANA GIRARDI