quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Humilhação no trabalho, uma realidade feminina, Joanna Moura, FSP

 Eu tinha 22 anos na primeira vez que fui humilhada no trabalho. Eu trabalhava numa dessas agências de publicidade grandes e metidas a legaizonas, com salas de vidro e vista para o mar, e um chefe divertido que faz piada em reunião, pede pizza para todo mundo às 22h e te deixa pegar reembolso de táxi quando você trabalha no fim de semana. A rotina era intensa e sem hora, mas eu trabalhava feliz porque era uma agência famosa e eu estava apenas começando.

Até que um dia o dono da agência, que nunca aparecia no escritório, baixou por lá preocupado com uma grande conta que estava ameaçando ir embora. Foi um dia particularmente estressante para mim. Meu computador (um trambolho enorme e lento desses que não se vê mais nem nos escritórios mais antiquados) resolveu desistir da vida, me deixando na mão justamente na reta final da entrega de uma campanha. Impossibilitada de mandar mensagens ou emails, andei de um lado para o outro da agência resolvendo pepinos à moda antiga, debruçada sobre mesas e computadores alheios.

A imagem mostra uma mulher sentada em uma mesa, usando um laptop. A tela do laptop exibe gráficos e dados. A pessoa está segurando um celular com a mão direita e tem um copo de café ao lado, em uma mesa de madeira. Há um caderno e uma caneta sobre a mesa, além de plantas ao fundo.
Apesar da minha pouca idade e experiência, eu não chorei. Enquanto ele proferia seu discurso supostamente motivacional, me concentrei nos rostos da plateia - foxyburrow /Adobe Stock

O dono, sentado em sua redoma de vidro, me observava à distância sem que eu desse importância. Ao final do dia, sentada na minha baia, com o problema do meu computador jurássico momentaneamente resolvido, fui surpreendida pelo tal dono em pé ao meu lado. O homem alto e corpulento gesticulou para que todos se aproximassem. Eu fiz menção de me levantar para me juntar ao grupo em sua frente, mas ele tocou meu ombro indicando que eu deveria permanecer sentada.

Nos quinze minutos que se seguiram, ele falou, aos gritos, sobre como a agência não ia bem por causa de gente como eu.

"Eu te vi hoje, menina, andando de um lado para o outro, conversando aqui e ali. Não sentou a bunda na cadeira cinco minutos! Para trabalhar aqui não adianta ser só bonitinha não, viu? Tem que dar duro!"

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Apesar da minha pouca idade e experiência, eu não chorei. Enquanto ele proferia seu discurso supostamente motivacional, me concentrei nos rostos da plateia, um grupo de homens e mulheres, todos mais velhos e experientes do que eu, com melhores salários e mais responsabilidade. Em suas expressões, detectei um misto de pena e alívio. Pena pela ciência da injustiça em andamento, alívio por não serem eles os escolhidos como bode expiatório da vez.

Meu chefe legalzão, aquele das piadas e da pizza, foi demitido uma semana depois. Mas sua saída da agência não envolveu nenhuma humilhação. Eu permaneci por lá mais seis meses, trabalhando na mesma intensidade e sofrendo com frequentes intimidações, comentários irônicos e constrangimentos vindos desse dono que, dada a situação financeira da agência, passou a aparecer com mais frequência.

Quando entreguei minha carta de demissão, porque tinha arrumado um emprego em outro lugar, me ofereceram um aumento de salário para que eu ficasse. Agradeci e recusei. Não era muito, mas mesmo que fosse, não valia a pena.

Eu adoraria dizer que essa foi a única vez que me senti diminuída e perseguida no ambiente de trabalho. Alguns anos depois, porém, me vi na mesma situação. Com um cliente absolutamente descontrolado, gritando e gesticulando numa sala de reunião lotada. Eu queria responder, defender o trabalho que tantas pessoas tinham participado para entregar, mas minha chefe —também mulher— me aconselhou do contrário. "Deixa ele. Ele precisa dar o show dele. Depois passa."

Quando mudei para a Inglaterra, a terra da polidez, achei que estaria livre desse tipo de comportamento. Ledo engano. Com vinte anos de carreira nas costas, me vi novamente sentada diante de homem de meia idade, numa posição de poder, com um ego enorme e uma insegurança maior ainda, procurando um culpado para suas falhas e encontrando na mulher à sua frente um alvo fácil.

De acordo com uma pesquisa, mulheres são 41% mais propensas a vivenciar uma cultura corporativa tóxica do que os homens. E isso não diminui com o aumento do nível de senioridade. Ao alcançar o C-level (cargos de chefia), mulheres têm 53% mais chances de passarem por situações tóxicas no ambiente de trabalho. Os dados, apesar de me mostrarem que não estou sozinha, não servem de consolo. Pelo contrário, provavelmente indicam que o que vivi tende a se repetir.


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Como Charles Duhigg usou 'O Poder do Hábito' para se firmar na lista de best-sellers, FSP

 Carolina Azevedo

São Paulo

Para Charles Duhigg, é como se escrever best-sellers tivesse virado um hábito. Jornalista vencedor do Pulitzer, ele garantiu um lugar na lista de mais vendidos do jornal The New York Times para os três livros que publicou.

Sua obra de estreia, "O Poder do Hábito", vendeu mais de 1 milhão de exemplares só no Brasil, tornando-se presença constante nas vitrines das livrarias desde seu lançamento, em 2012. Em seu novo livro, "Supercomunicadores", o autor pretende encontrar a fórmula por trás da comunicação eficaz.

Fato é que o mercado literário brasileiro está saturado de livros que prometem desvelar "os segredos da produtividade na vida e nos negócios", como anuncia Duhigg na capa de "Mais Rápido e Melhor". Só em 2023, os livros de autoajuda somaram mais de 7,5 milhões de exemplares publicados no Brasil, segundo monitoramento da consultoria Nielsen.

Charles Duhigg, autor de 'O Poder do Hábito' e 'Supercomunicadores' - Glenn Matsumura/Divulgação

No meio dessa enxurrada de livros que reiteram o senso comum, no entanto, os livros de Duhigg se destacam. As capas das edições publicadas pela Objetiva podem não atrair o leitor mais intelectualizado, mas, superado o preconceito em relação à prateleira de autoajuda, é uma leitura prazerosa.

Afinal, as credenciais do autor sustentam sua capacidade literária: formado em Harvard e Yale, ele liderou a equipe de jornalistas do New York Times premiada em 2013 por "The iEconomy", uma série de reportagens que examinou a economia global sob a perspectiva da Apple.

Jornalista investigativo na revista New Yorker, Duhigg aposta que o segredo por trás do seu sucesso está na ciência que sustenta sua obra.

"Os meus livros são muito mais um testemunho do trabalho que outros fizeram do que qualquer coisa que eu tenha descoberto. Tenho a oportunidade de me apoiar nos ombros de gigantes o tempo todo", diz o autor, enquanto acaba de almoçar durante entrevista por vídeo à Folha. Ele se refere às centenas de entrevistas e estudos mobilizados no decorrer das quase cem páginas de notas que aparecem ao fim de "O Poder do Hábito".

É sua habilidade de Duhigg de contar histórias que dá vida aos achados científicos. O trabalho começa como investigação: ao visitar laboratórios e conversar com pesquisadores, ele pergunta: "Qual é a história sobre o seu trabalho que você conta quando está tomando uma cerveja com os amigos?"

Capa do livro "O Poder do Hábito", de Charles Duhigg
Capa do livro "O Poder do Hábito", de Charles Duhigg - Reprodução

Daí surgem as narrativas inusitadas que ilustram seus livros. Como os americanos incorporaram a pasta de dente em suas rotinas? Como a Nasa escolhe astronautas? Como uma falha de comunicação causou um incêndio que matou mais de 30 pessoas no metrô de Londres? Como Rosa Parks e Martin Luther King Jr. conseguiram alavancar o movimento pelos direitos civis?

Essas são algumas das histórias que ele explora, em tom de suspense, para convencer o leitor de que tomar o controle sobre sua própria vida é possível.

Mas os livros de Duhigg não deixam de replicar os modos da autoajuda que incomodam os leitores aversos ao gênero: servem como manuais práticos de sobrevivência no capitalismo. Entre cada boa história e fato científico interessante, infográficos simplificam o que está escrito, e as seções que pretendem servir de "guia" interrompem a fluidez literária das narrativas.

Mesmo assim, o tom do autor não se iguala às falas dos coaches que se multiplicam nas redes sociais. Formado na escola de negócios da Universidade de Harvard, ele assume: "eu amo o mundo dos negócios". Mas a verdade é que ele rapidamente fugiu do meio para poder investigá-lo de longe, como repórter.

Logo que terminou sua formação, em 2003, aplicou para vagas de trabalho nas grandes firmas do mercado imobiliário, sem sucesso. De volta à sua cidade natal, no Novo México, pensou em se dedicar à política, mas logo conseguiu um emprego como repórter no Los Angeles Times, e vem se dedicando a denunciar os problemas do mercado desde então.

Essa trajetória lhe rendeu o entendimento de que não basta insistir no sucesso individual sem levar em conta as relações interpessoais. Se "O Poder do Hábito" e "Mais Rápido e Melhor" focam no indivíduo, "Supercomunicadores" entende que a maior parte da vida se dá em convívio.

"Percebi que deixei uma grande parte dessa conversa de fora ao não focar a comunicação. Por isso, o novo livro mira em como criar conexões com outras pessoas. Meu objetivo era ajudar as pessoas a entenderem como se tornar parte do coletivo, como contribuir para o coletivo de uma maneira que pareça real e significativa."

O autor finaliza o seu primeiro livro com uma citação do americano David Foster Wallace, autor de "Graça Infinita". Pode parecer contraditório incluir as palavras de um autor de vanguarda tão averso aos clichês ao fim de um best-seller de autoajuda, mas, no caso de Duhigg, não é.

Seus livros transformam as ciências do comportamento em uma experiência eletrizante de leitura, capaz de "desencorajar-nos de operar nas configurações padrão", nas palavras de Foster Wallace. Talvez baste ao leitor sair do automático para poder extrair significado —e, por que não, diversão— de livros que não lhe chamariam a atenção julgando pela capa.

"No fim das contas, nós amamos histórias. Quando essas histórias são divertidas de ler e nos ensinam algo, parece que é um uso valioso do nosso tempo. É isso que tento fazer: ajudar as pessoas a se tornarem versões melhores de si mesmas enquanto se divertem."

Supercomunicadores: Como desbloquear a linguagem secre

E Lá Se Vão Meus Anéis, Letra

 E lá se vão...

Lá se vão meus anéis diz o refrãoMas meus dedos são dez, duas mãosE a mulher que tu és: oh, não!Isso não são papéis não sãoNão merece os meus réis de pãoMete os pés pelas mãos
E lá se vão meus anéisLá se vão meus anéis diz o refrãoMas meus dedos são dez, duas mãosE a mulher que tu és: oh, não!Isso não são papéis não sãoNão merece os meus réis de pãoMete os pés pelas mãos
Todos sabem que o meu coraçãoÉ uma casa aberta não sei porquePortas e janelas dão pra vocêDão, deram e darãoÉ por que a chave do meu coraçãoSomente o teu coração pode abrirE lá vai meu coração por aíMas não perdoa nãoE lá se vão meus anéis
Lá se vão meus anéis, outros virãoNas primeiras marés encho as mãosMas me por a teus pés, oh, não!Nem que fosse o que resta entãoNem que virem cruéis os bonsE fiéis os cristãos
Todos sabem que o meu coraçãoÉ uma casa aberta não sei porquePortas e janelas dão pra vocêDão, deram e darãoÉ por que a chave do meu coraçãoSomente o teu coração pode abrirE lá vai meu coração por aíMas não perdoa nãoE lá se vão meus anéis
Lá se vão meus anéis, outros virãoNas primeiras marés encho as mãosMas me por a teus pés, oh, não!Nem que fosse o que resta entãoNem que virem cruéis os bonsE fiéis os cristãos
E lá se vão meus anéis
La laiá la laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLaiá laiá laiá
La la laiá la la laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLaiá laiá laiá
La la laiá la la laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLa laiá laiá laiá la laiáLaiá laiá laiá
Fonte: Musixmatch
Compositores: Paulo Cesar Francisco Pinheiro / Eduardo Gudin
Letra de E Lá Se Vão Meus Anéis © Edicoes Musicais Cordilheiras
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