A suspensão do X no Brasil ocorreu no melhor momento possível para a extrema direita no país.
A derrubada da rede controlada por Elon Musk, no dia 30 de agosto, ocorreu exatamente uma semana após a suspensão temporária de perfis de Pablo Marçal (PRTB) nas redes sociais. No dia 23 de agosto, a Justiça Eleitoral de São Paulo entendeu que o candidato promovia abuso de poder econômico em sua campanha e aplicou a sanção cabível. No entanto, no dia anterior, o Datafolha divulgou que as intenções de voto em Marçal haviam disparado.
De acordo com a pesquisa, Marçal, com 21%, estava empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (PSOL), com 23%, e com o atual prefeito, Ricardo Nunes, com 19%. Atrás deles apareceram empatados José Luiz Datena (PSDB), com 10%, e Tabata Amaral, com 8%, cujo partido, o PSB, fez a acusação que levou à suspensão de perfis de Marçal nas redes. Ato contínuo, Marçal passou a utilizar um perfil reserva no Instagram. Na foto da nova conta, que já acumula 3,8 milhões de seguidores, o candidato aparece com um papel cobrindo sua boca no qual está escrito "sistema".
Em um primeiro momento, Jair Bolsonaro e seu clã procuraram conter o crescimento eleitoral do ex-coach. Após a divulgação no canal de Bolsonaro no WhatsApp de um vídeo com falas controversas de Marçal, teve início uma troca de farpas nas redes sociais. Em uma postagem de Bolsonaro no Instagram, Marçal escreveu: "Para cima deles, capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". Bolsonaro respondeu: "Nós? Um abraço."
Eduardo Bolsonaro, por sua vez, lembrou que, em 2022, Marçal havia dito que a diferença entre Lula e Bolsonaro "é que um tinha um dedo a menos". Por fim, Carlos Bolsonaro, ameaçou, no X, processar Pablo Marçal por crimes de injúria e difamação após ter sido xingado pelo ex-coach de "raivoso", "retardado" e "estúpido". Em resposta, Marçal provocou: "Manda o Pix que eu já te mando o dinheiro pra procurar um tratamento psiquiátrico".
No entanto, após a publicação de uma pesquisa da Quaest, no dia 28 de agosto, a família Bolsonaro reviu a estratégia. A pesquisa registrou a continuidade do empate técnico dos três principais candidatos à Prefeitura de São Paulo, bem como o avanço de Marçal entre o eleitorado de Bolsonaro. Além disso, nas redes sociais, eleitores passaram a sinalizar que Marçal seria o verdadeiro candidato do bolsonarismo na cidade.
Com a mediação de Nikolas Ferreira (PL), Carlos Bolsonaro e Pablo Marçal "fizeram as pazes". No mesmo dia, 28 de agosto, Jair Bolsonaro deu a senha para a cristianização de Ricardo Nunes. O ex-presidente anunciou em um vídeo que o ato de 7 de setembro promovido por seus apoiadores em São Paulo será suprapartidário e autorizou qualquer candidato à prefeitura —leia-se, Pablo Marçal— a subir no carro de som.
Para completar a tempestade perfeita, passados apenas dois dias do convite de Bolsonaro para que Marçal participe do "grande ato nacional em defesa das vítimas perseguidas pelo sistema", Alexandre de Moraes suspende o X no país. Agora, a cidade de São Paulo, que até então era o principal reduto do antibolsonarismo no Sudeste do país, pode se tornar o coração político da extrema direita.