domingo, 23 de junho de 2024

Hélio Schwartsman- Liberalismo como modo de vida, FSP

 Pelo menos no Ocidente, nós respiramos liberalismo —não apenas as instituições políticas que nos acostumamos a associar a essa corrente de pensamento, como eleições livres, império da lei e livre mercado, mas também seu sistema de valores, que inclui noções como igualdade, equidade e respeito.

Esses elementos estão tão entranhados na cultura que nossa tendência é tomá-los como dados da natureza, não como resultado de um movimento filosófico. E, por estarmos tão imersos no liberalismo, deixamos de apreciar quanto ele molda nossa psicologia e influencia os mais diversos aspectos de nossa sociedade, da moral à estética.

Esse é o ponto de partida de "Liberalism as a Way of Life", de Alexandre de Lefebvre. O autor prossegue dizendo que pelo menos aqueles de nós que não seguem uma religião deveriam intensificar esse processo, abraçando também seus aspectos metafísicos, até transformar o liberalismo numa filosofia de vida, da qual possamos extrair satisfação pessoal e preencher vazios existenciais.

A ilustração de Annette Schwartsman, publicada na Folha de São Paulo no dia 22 de junho de 2024, mostra uma pequena multidão de pessoas de diferentes sexos, idades e classes sociais que caminham, como numa romaria, em direção a uma estátua representando a justiça.
Ilustração de Annette Schwartsman para a coluna de Hélio Schwartsman, publicada também na versão impressa da Folha deste domingo (23 de junho de 2024)

Lefebvre monta sua argumentação com base em dois autores principais. O primeiro é John Rawls, de quem tira a ideia de que o liberalismo não apenas leva as sociedades a funcionar como um sistema justo de cooperação como também a de que ele embute uma concepção de boa vida. O segundo é o classicista Pierre Hadot, para quem filosofias devem ser vistas também como uma receita para viver a vida, um exercício espiritual.

O texto de Lefebvre junta comentários eruditos com inúmeras referências pop a livros, filmes e séries de TV, o que torna leitura divertida e faz ver quanto a ideologia liberal permeia nossa cultura.

Ao mostrar o que falta para o liberalismo converter-se numa "religião civil", que responda ao que seriam necessidades metafísicas do homem, Lefebvre acaba dando algumas pistas de por que visões de mundo iliberais estão ganhando espaço em tantas partes do mundo.

Militares custosos, Editorial FSP

 

O déficit das contas federais e a dificuldade do governo petista em lidar com o problema provocam debate urgente sobre gastos, até agora praticamente intocados. A reforma da Previdência das Forças Armadas é um exemplo dessa pauta.

O gasto com militares da ativa equivale a só 57% daquele com militares na reserva, reformados e pensionistas. No caso dos civis, a proporção é de 156% —no último ano até abril, desconsideradas sentenças judiciais e precatórios.

A despesa com inativos das Forças está em 0,53% do PIB por ano (R$ 58,9 bilhões); com os civis, em 0,84% do produto (R$ 92,9 bilhões). Mas os beneficiários militares somam 313 mil, ante 796 mil civis.

Segundo dados do Tribunal de Contas da União, publicados pela Folha, o déficit por beneficiário no INSS ronda os R$ 9.400. Entre civis, são R$ 69 mil; já entre os militares, a conta vai a R$ 159 mil.

Servidores das Forças se aposentam mais cedo e mantêm seus vencimentos quando inativos. Sobrevivem regimes especiais de proteção para pensionistas. Sua Previdência não sofreu reforma ampla neste século, como a dos civis.

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Os militares argumentam que trata-se de compensação para especificidades da carreira —não têm hora extra, adicional noturno nem sindicatos e são obrigados a mudanças constantes de cidade.

No entanto cerca de metade dos trabalhadores brasileiros não possui os direitos de contratados formais nos setores privado e público. Ademais, não é na Previdência que se deve corrigir desigualdade do mercado de trabalho. Ainda que a condição militar deva ser levada em conta, a disparidade na aposentadoria é exagerada.

Em comparação internacional, o gasto nas Forças do Brasil é alto. É fato que a despesa com servidores federais (ativos, inativos e pensionistas) tem diminuído, de 4,26% do PIB em 2008 para 3,17% do PIB atualmente, redução considerável, em particular entre os civis.

Ainda assim, é urgente uma reforma administrativa, também de organização e métodos, a fim de modernizar o trabalho e dirigi-lo aonde é mais necessário. O serviço público militar não pode ficar fora dessa revisão geral.

editorial@grupofolha.com.br

sexta-feira, 21 de junho de 2024

A Declaração dos Direito do Homem e do Cidadão foi assinada em Paris, Betty Milan , FSP

 Paris não foi chamada cidade–luz por acaso. Cintila de várias maneiras : nas ruas, onde a luz alaranjada dos lampadários se espraia convidando ao passeio; no Sena, quando o bateau-mouche passa como se fosse uma centopeia iluminada; na Torre Eiffel, que, no dia 14 de julho –dia que comemora a Revolução Francesa– varia de cor conforme a luz e, como se fosse uma fonte, jorra fogos de artifício sempre inusitados.

Paris é cidade luz desde o século 17 porque Luiz 14 mandou instalar lanternas nas ruas para controlar a desordem social. Paris foi primeiro cidade-luz por uma questão de segurança. Depois, no século 18, por causa do Iluminismo, um movimento que promoveu ideias de liberdade e conhecimento. A cidade que, até então brilhava pela luz física, passou a brilhar também pela luz espiritual. Com a chegada da eletricidade, no século 19, ela se consagrou como cidade-luz. A Torre Eiffel foi construída para a Exposição Universal de 1900 e se tornou um ícone cultural.

Por ser de treliça de ferro, também é chamada Dama de Ferro. Tem o nome do engenheiro que a concebeu, Gustave Eiffel, e foi construída para comemorar a Revolução Francesa. Isso importa mais que o fato de ela ter sido, por mais de 40 anos, a estrutura mais alta do mundo –Gustave Eiffel terminou uma das suas palestras sobre ela dizendo que a torre simbolizava o século da indústria e da ciência... para o qual o caminho foi preparado pelo movimento científico do século 18 e pela Revolução de 1789, que, apesar da guilhotina, culminou na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Pela primeira vez, o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" foi invocado