terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Rial sai e entra Rothschild na negociação da Americanas com credores, FSP

 Julio Wiziack

BRASÍLIA

O ex-presidente da Americanas Sergio Rial foi oficialmente substituído nesta segunda (16) na tarefa de tentar acalmar bancos credores e investidores, que havia assumido informalmente, após a notícia bombástica de que o balanço da companhia que presidia deixou de contabilizar dívidas de R$ 20 bilhões.

O conselho de administração da varejista contratou a Rothschild & Co como interlocutora na renegociação da dívida, no Brasil e no exterior. O banco de investimentos, controlado pela família Rothschild, tem escritórios em 57 países e Luiz Muniz, que chefia o braço brasileiro, é próximo do trio de bilionários Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles —que, juntos, possuem 31% da empresa.

Rial, que, segundo fontes próximas da operação, participou da seleção da Rotschild para a função, não poderia assumir oficialmente essa negociação, já que preside o conselho de administração do banco Santander Brasil —um dos credores da rede varejista. Ele continua como assessor do trio de empresários para cuidar da reestruturação societária que pode ser necessária numa eventual capitalização.

O banqueiro havia sido anunciado como presidente da Americanas no ano passado com a tarefa de "destravar o valor" da companhia —no jargão do mercado, uma empresa precisa ter seu valor destravado quando, embora tenha uma enorme capacidade de geração de caixa, é percebida pelos investidores como pouco atraente.

Sergio Rial, ex-CEO da Americanas e presidente do conselho do Santander - 02.dez.2019-Zanone Fraissat/Folhapress

Assumiu o posto na virada do ano e, segundo executivos próximos, em menos de 48 horas se deparou com um problema que acabou se transformando em escândalo contábil bilionário.

Segundo relatos, dois executivos do grupo chegaram a ele com um relatório mostrando o que lhes parecia um erro de procedimento nos lançamentos. Inicialmente, Rial não teria se dado conta da gravidade do rombo, confundindo as ordens de grandeza e perguntando se eram R$ 20 milhões.

Ainda segundo relatos, Rial achou que se tratava de uma inconsistência "menor", que exigiria apenas um ajuste no balanço. Para uma empresa do porte da Americanas, R$ 20 milhões seria mesmo "nada", nas palavras de quem presenciou a cena.

Ao ouvir que eram R$ 20 bilhões, de acordo com executivos da varejista, chamou toda a equipe emergencialmente, incluindo o diretor de Relações com Investidores à época, André Covre. Os dois pediram demissão dez duas após a posse de Rial —e, segundo os executivos ouvidos pela Folha, oito dias após tomarem pé da situação.

Rial acionou imediatamente Lemann, Sicupira e Telles, contou o que se passava na Americanas, pediu demissão, e concordou em prestar uma assessoria informal aos acionistas na tentativa de salvar a companhia, de acordo com pessoas próximas ao executivo.

Procurado, Rial não quis comentar. A Americanas não respondeu até a publicação deste texto.

Logo após o ex-banqueiro determinar a divulgação dos problemas encontrados, a Americanas foi à Justiça para tentar se proteger de ações judiciais de seus principais credores —fundamentalmente os maiores bancos da praça.

O Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro concedeu uma espécie de carência, barrando qualquer tipo de pagamento antecipado a credores, para que a empresa pudesse se preparar para um eventual pedido de recuperação judicial.

O BTG Pactual foi o primeiro a recorrer da decisão —a dívida total da Americanas com o banco é de ao menos R$ 2,3 bilhões, segundo informações incluídas na ação cautelar..

Outros bancos, como Bradesco e Safra, planejam seguir o mesmo caminho.

Em seu pedido, o BTG —controlado por André Esteves— levanta a possibilidade de ter havido fraude e contesta a proteção judicial dada à rede para evitar a cobrança.

A revelação de inconsistências contábeis da ordem de R$ 20 bilhões acionou um mecanismo contratual em que os credores podem cobrar antecipadamente a dívida integralmente. Especula-se no mercado que ela seja de cerca de R$ 40 bilhões, mas executivos da rede dizem que deve chegar a R$ 30 bilhões, no máximo.

SABIA OU NÃO SABIA?

O escândalo fez consultores, concorrentes e agentes do mercado debaterem se Rial sabia ou não do problema contábil quando aceitou presidir a Americanas.

Segundo pessoas próximas, ele afirma que não sabia. Interlocutores do executivo na empresa afirmam que ele concordou em dirigi-la tendo acesso a dados abertos. Dizem ainda que, por se tratar de uma companhia listada na B3, o ex-banqueiro só poderia fazer uma due dilligence (vistoria prévia) já com um contrato assinado. Foi isso o que ocorreu, ainda segundo relatos.

O ex-banqueiro queria utilizar sua experiência acumulada no Santander —instituição que ele presidiu e consolidou como importante rede varejista— e na Marfrig para reposicionar a Americanas.

Outro questionamento de banqueiros se refere ao fato de o executivo ter "mudado de lado" e passado a, supostamente, trabalhar pelos acionistas bilionários.

Uma das condições impostas por Rial para que ajudasse os três a salvar a empresa foi a ampla publicidade das falhas. O executivo afirmou internamente na Americanas que a divulgação foi a prova de que não tinha conhecimento prévio.

O argumento de Rial para deixar a presidência da rede foi o de que, com a descoberta das falhas, ele teria de usar sua experiência como banqueiro para renegociar dívidas, algo para o que não tinha sido contratado.

A negociação está diretamente relacionada ao rombo agora divulgado, que se deve a operações de antecipação de recebíveis a fornecedores da Americanas. Por meio delas, os bancos antecipam a fornecedores pagamentos que a varejista só faria após alguns meses, e depois são ressarcidos pela Americanas, com cobrança d ejuros.

Essas operações —conhecidas como risco sacado— foram registradas incorretamente no balanço. Em vez de lançamentos na conta de despesas com fornecedores, deveriam ter sido consideradas dívidas com instituições financeiras. Os credores não sabem ainda se os juros cobrados nessas operações foram computados, o que tornaria a dívida ainda maior.

Se aceitasse desempenhar essa função de negociação com os bancos, Rial teria de negociar com o Santander, algo que se configuraria conflito de interesse, inviabilizando sua permanência no conselho do banco.

Por isso, Rial aceitou continuar como consultor do grupo de acionistas, desde que fosse blindado. A saída foi a contratação de Luiz Muniz, que comanda o banco Rothschild no Brasil, instituição que vai conduzir as conversas com os credores.

PIB da China cresce 3% em 2022, um dos piores resultados em quase 50 anos, FSP

 A economia da China desacelerou no quarto trimestre de 2022, crescendo 2,9% na comparação anual, número menor que os 3,9% de expansão registrados no período de julho a setembro, segundo dados do Departamento Nacional de Estatísticas nesta segunda-feira (16). O resultado do PIB (Produto Interno Bruto) chinês superou expectativas, mas ainda mostra as consequências da rigorosa política de "Covid zero" adotada pelo país.

A previsão de analistas consultados pela Reuters era de expansão anual de 1,8%. O crescimento acumulado de 2022 foi de 3%, abaixo da meta de cerca de 5,5%. Excluindo a expansão de 2,2% após o primeiro golpe da Covid em 2020, este é o pior resultado desde 1976.

Na comparação trimestral, o PIB ficou estável no período entre outubro e dezembro, ante expectativa de queda de 0,8% e ganho de 3,9% no trimestre anterior.

Prédios em construção em Pequim, na China - Tingshu Wang - 11.jan.2023/Reuters

A economia da China teve dificuldades ao longo de 2022, com grandes centros industriais, incluindo Xangai e a área do delta do rio Yangtze, bem como Guangzhou, fechados ou sob restrições por longos períodos como parte da estratégia "Covid zero" do governo.

Essa rigorosa política foi suspensa abruptamente no mês passado, e os economistas esperam que o crescimento se recupere neste ano, embora o aumento das infecções por Covid possa segurar a retomada no curto prazo. Pequim prometeu mais apoio à economia à medida que a demanda externa vacila em meio aos riscos de recessão global.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Dissonância petista, Lygia Maria _FSP

 A retórica do PT gira em torno do combate à pobreza e da proteção de minorias, como mulheres, negros, indígenas e LGBTQIA+. Discurso louvável, o problema são os meios propostos para alcançar os objetivos.

O ministro da Fazenda apresentou um pacote para reduzir o rombo de R$ 231,55 bilhões nas contas públicas. Prometeu-se uma melhora fiscal na casa dos R$ 242,7 bilhões (R$ 192,7 bilhões com elevação de receitas e só R$ 50 bilhões com redução).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina medidas econômicas ao lado do ministro Fernando Haddad (Fazenda) - Pedro Ladeira - 12.jan.23/Folhapress

Especialistas, contudo, apontam que apenas R$ 120 bilhões seriam factíveis. O déficit ficaria em 1,8% do PIB, diferentemente do 1% anunciado. Para conter a crise, seria necessário um superávit de 2% do PIB.

Ou seja, a economia precisa crescer e os gastos precisam cair. Torna-se imperativo, portanto, liberar o mercado, desonerando produção, consumo e trabalho por um lado e, por outro, privatizar estatais, eliminar programas ineficientes, rever reajustes do salário mínimo e dos servidores, enxugar a máquina pública.

Mas essas ações são rechaçadas por uma visão arcaica e moralista: qualquer exigência de racionalismo econômico é tida como elitismo malvado. Lula reclamou que o mercado é insensível e prefere o termo "investimento" em vez de "gasto" (como se palavras mudassem a realidade).

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Essa ideologia obsoleta que opõe o mercado ao social trava o desenvolvimento do país há décadas, prejudicando os mais pobres e as minorias que a esquerda diz defender. Liberdade e bem-estar material não apenas não são estanques como estão diretamente ligados.

Ascensão social, de renda e de educação, é passo fundamental para a proteção e o fortalecimento de grupos minoritários que sofrem preconceito. Por certo, o governo deve manter programas de apoio aos mais vulneráveis, mas não pode resumir nisso sua política pública. Uma economia livre e pujante ainda é o meio mais estável e duradouro para diminuir desigualdades materiais e simbólicas. Ignorar esse fato, isso sim, é insensibilidade, além de incompetência.