quarta-feira, 21 de setembro de 2022

'É falso, é mentira', diz Guedes sobre 33 milhões de brasileiros passando fome, FSP

 Fernanda Brigatti

SÃO PAULO

Na avaliação do ministro Paulo Guedes (Economia) é impossível que o Brasil tenha 33 milhões de pessoas passando fome. Nesta quarta-feira (21), ele disse considerar que o dado é falso, em evento do setor automotivo em São Paulo.

Guedes defendeu que, na comparação com outras grandes economias, o desempenho brasileiro está melhor. "Isso são fatos econômicos, não adianta. A tática política é de barulho: 33 milhões de pessoas passando fome. É mentira, é falso. Não são esses os números."

O ministro não disse, no entanto, quais seriam os números corretos, na avaliação dele. O dado questionado por Guedes consta no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, que aponta a existência de 33,1 milhões de pessoas vivendo em situação de insegurança alimentar grave, quando não há garantia de acesso à alimentação em quantidade suficiente.

Para o ministro da Economia, Paulo Guedes, números da fome no Brasil são falsos - Adriano Machado-14.set.22/Reuters

Pesquisa Datafolha divulgada no início de agosto também mostrou que um em cada três brasileiros disse não ter comida suficiente em casa nos últimos meses. O percentual de pessoas com comida insuficiente passou de 26% em maio para 33% em julho.

"O consumo dos mais frágeis está garantido com a transferência de renda. Por isso, é impossível que tenha 33 milhões de pessoas passando fome. Elas estão recebendo três vezes mais do que recebiam antes. E mesmo que tenha tido inflação e aumento de preço, não multiplicou por três, então o poder de compra está mais do que preservado", afirmou.

Ele disse ainda que as políticas atuais de transferência de renda, como o Auxílio Brasil, correspondem a 1,5% do PIB. Segundo Guedes, antes, esse percentual era de 0,4%.

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"Nós estamos transferindo três vezes mais recursos para os frágeis", completou.

O ministro também disse que o percentual de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza vem caindo no Brasil, enquanto cresce no resto do mundo.

A afirmação é similar às conclusões de um estudo publicado pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Erik Alencar de Figueiredo, em agosto. A publicação, criticada por servidores do órgão e por especialistas, defende que um aumento no número de brasileiros com fome deveria ter resultado em um "choque expressivo" no aumento de internações por doenças decorrentes da desnutrição. Figueiredo foi subsecretário de Política Fiscal do Ministério da Economia.

Em julho, quando o governo negociou a aprovação de uma emenda constitucional para abrir espaço no Orçamento e pagar o aumento de R$ 200 no Auxílio Brasil, Guedes defendeu a medida, que era apontada como eleitoreira. Na ocasião, ele entendia que havia gente com fome.

"Se há fome no Brasil, se as pessoas estão cozinhando à lenha, esse programa não é eleitoreiro. Ou ele é eleitoreiro e não tinha ninguém passando fome", disse, na época.

Segundo Guedes, com reformas, marcos regulatórios e um plano de reindustrialização, o Brasil tem um "crescimento contratado" para os próximos anos.

Guedes também voltou a criticar projeções que ele considera ruins sobre o crescimento do Brasil para os próximos anos, como já havia feito nesta semana, em entrevista à rádio Guaíba.

Mais de uma vez, disse que essas previsões são "militância política" e que apostam em "rolagem de desgraça". Segundo o ministro, parte dos erros deve-se ao que ele chamou de modelo econômico antigo, quando o crescimento dependia de investimentos públicos.

"O eixo da economia mudou e agora está voltado para o investimento privado", afirmou. "Apesar do investimento público colapsar para quase zero, os investimentos privados estão chegando a quase 19% do PIB. Isso garante uma taxa de crescimento mais forte. Esse é o crescimento estrutural, orgânico, contratado."

Passeio de trem no Rio Grande do Sul leva turista ao viaduto mais alto das Américas, FSP

MUÇUM (RS)

Conhecida carinhosamente como ‘’Princesa das Pontes’’, a pequena e tranquila cidade de Muçum, no Vale do Taquari (RS), distante pouco mais de 110 km de Porto Alegre, é o cenário de partida do Trem dos Vales, passeio que acontece em breves temporadas desde 2018.

Os 12 vagões são puxados por uma locomotiva a diesel elétrica norte-americana dos anos 1950, e conduzem os turistas por duas horas e meia pelos trilhos que integram a Ferrovia do Trigo (EF-491). No trajeto, cruza-se os municípios de Muçum, Vespasiano Corrêa, Dois Lajeados e Guaporé.

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Viaduto Pesseguinho visto de dentro de um dos vagões do Trem dos Vales, em Muçum, no Rio Grande do Sul - Luciano Nagel

Além da observação das paisagens naturais, a diversão fica por conta dos 23 túneis e 15 viadutos do percurso, sendo um deles o V13, o mais alto viaduto ferroviário das Américas e segundo mais alto do mundo —ele perde apenas para o Mala Rijeka em Montenegro, no sudeste do continente Europeu.

São 143 metros de altura e 509 metros de extensão.

O V13 foi construído pelo Exército Brasileiro, na década de 1970, durante a ditadura militar. É um dos mais fotografados pelos turistas que embarcam no Trem dos Vales.

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Outros dois viadutos que merecem destaque pela sua engenheira são o Mula Preta, com 98 metros de altura e 360 metros de comprimento, e o Pesseguinho, um pouco mais baixo, com 86 metros de altura e 268 metros de extensão.

Ao contrário do V13, estes são vazados em curva, ou seja, não contam com muretas de proteção —fica mais fácil de o turista experimentar a sensação de ‘’flutuar’’ nas alturas.

São 46 km no total, partindo da Estação Férrea de Muçum, inaugurada em dezembro de 1979 e restaurada em 2021. O destino final é a Estação Férrea de Guaporé. Cada bilhete vale para uma "perna" do trajeto, que também pode ser feito no sentido contrário.

Em cada vagão, um comissário explica aos turistas os dados geográficos e fatos históricos de cada região. O turista conta, ainda, com serviço de bordo em que são oferecidos petiscos e bebidas em geral —vale ressaltar que o trem não realiza paradas nos municípios.

Abaixo do percurso de 46 km da Ferrovia do Trigo (EF-491), em certas localidades, há campings, pequenas pousadas e alguns chalés para alugar, como por exemplo no interior do município de Vespasiano Corrêa, onde está o V13.

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Ariel, Francine e Álvaro Agnoletto, família que fez o passeio com o Trem dos Vales (RS) - Arquivo Pessoal

Os gaúchos Ariel e Francine Agnoletto, de 46 e 43 anos, se dizem apaixonados por viagens, e já realizaram a viagem no Trem dos Vales com o filho Álvaro, 12. Agora, Francine se programa para levar seus pais para conhecer o trajeto no dia 2 de outubro.

"É o passeio de trem mais lindo que temos no Brasil, e isso que já fiz vários. O diferencial desta viagem são as vistas dos vales, do rio, dos túneis e viadutos. É incrível’’, acredita a arquiteta, que também administra um blog de viagens.

Uma dica de Francine é que os turistas cheguem à Estação Ferroviária de Muçum com pelo menos 30 minutos de antecedência. "O trem parte às 14 horas pontualmente’’, afirma. Enquanto se espera, vale a pena tirar fotos da estação e dos vagões.

O VAGÃO DE GETÚLIO VARGAS

Dos 12 vagões que integram a composição, dois deles são considerados especiais pela Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF): o primeiro, com a cifra AD-09, foi construído em 1925 no Rio Grande do Sul, e era usado para transportar diretores da viação férrea para outros municípios do estado gaúcho.

Este vagão também acabou sendo utilizado muitas vezes pelo ex-presidente Getúlio Vargas nas décadas de 1930 e 1940, o que lhe rendeu o apelido de ‘’Vagão Getúlio".

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Vagão do Trem dos Vales utilizado pelo ex-presidente Getúlio Vargas nas décadas de 1930 e 1940, e que recebeu o apelido de 'Vagão Getúlio' - Juniana Persch

O segundo vagão "especial" é o AM-01, fabricado em 1924, em Curitiba, no Paraná. Este também era utilizado para transporte de diretores do modal ferroviário e personalidades políticas, como Nereu Ramos, que foi vice-presidente e presidente da República —neste cargo foram apenas dois meses e 21 dias.

Planejado por mais de 20 anos, o Trem dos Vales virou realidade em 2018, quando convidados e imprensa fizeram o primeiro embarque em dezembro daquele ano. Em 2019, em dois finais de semana viajaram mais de 5.000 turistas em oito passeios.

Na pandemia, houve apenas 50% de ocupação nos vagões. Para a temporada 2022, que teve início em 6 de agosto, a previsão é realizar 60 passeios, transportando mais de 35 mil turistas.

TREM DOS VALES

  • Quando Até 29/10
  • Onde Rota Guaporé-Muçum e Muçum-Guaporé
  • Preço Ingresso por trajeto R$ 148,00 (vagão tradicional) e R$ 198 (vagão executivo). Transporte de retorno rodoviário R$ 21. Crianças entre 0 a 5 anos e que não ocupam assento não pagam. Informações e compras em www.tremdosvales.com.br