segunda-feira, 11 de julho de 2022

Combater o negacionismo para salvar a democracia, Rose Marie Santini, professora da Escola da Comunicação da UFRJ e diretora do Netlab - Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais.

 Quando pela primeira vez se registrou um buraco negro no coração da Via Láctea, como o caso da foto do corpo celeste Sagitário A*, o fascínio e a admiração do público foram imediatos. Já quando se descobre que a queima de combustíveis fósseis causa mudanças climáticas, ou que a contaminação por um vírus letal só pode ser evitada com máscaras e distanciamento social, a resposta dos políticos e do público tende a ser bem menos favorável. No Brasil, temos assistido, catatônicos, a muitos cientistas e especialistas que sofreram agressões e ameaças, tornando-se alvos de discurso de ódio e teorias da conspiração.

A pandemia da covid-19 ilustra à perfeição o imbricado elo entre política e ciência. Certos argumentos políticos têm maior capacidade persuasiva quando associados a certa percepção pública da ciência. Estamos diante de uma guerra de narrativas que polariza a população, e na qual questionar ou negar consensos científicos são uma estratégia central para a manipulação das massas.

A desinformação sobre a pandemia foi disseminada nas redes sociais, porém seus efeitos mais perversos ocorreram no mundo real, com consequências fatais. Chefes de Estado como Donald Trump e Jair Bolsonaro amplificaram informações falsas ou imprecisas: um estudo recente aponta que Trump foi o maior disseminador de desinformação do mundo durante a pandemia – e Bolsonaro, sua principal marionete.

Mas qual seria o interesse em divulgar mentiras diante de uma das maiores crises sanitárias da história da humanidade? A resposta não é nova, mas nem por isso deixa de ser espantosa: a fabricação da dúvida para uso político.

Numa crise, a disputa da opinião pública é fundamental. E não à toa nessa hora o questionamento sobre a legitimidade das descobertas científicas ocupa o centro do debate. O negacionismo científico tem a função de distorcer a percepção pública da realidade e dividir a sociedade. A polarização acirra a hostilidade, abre espaço para ações excludentes e permite o avanço de uma agenda autoritária.

O objetivo último consiste em minar a confiança em especialistas e cientistas para desestabilizar as instituições democráticas, espalhando mentiras sobre a vulnerabilidade das urnas eletrônicas ou fabricando pesquisas eleitorais fakes cujo intuito é dar insumo para um determinado grupo questionar a vulnerabilidade das urnas e a validade do pleito –caso o resultado das eleições não os agrade.

A desinformação virou um mercado muito lucrativo, dominado por atores altamente organizados. Segundo estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology), as informações falsas têm 70% mais chance de serem compartilhadas do que as verdadeiras. Produtores de desinformação maximizam lucros a curto prazo, atraindo usuários para cliques e compartilhamentos.

Estima-se que em 2021 os sites que publicaram repetidamente notícias falsas faturaram 2,6 bilhões de dólares em receita publicitária. E o negacionismo também faz parte dessa indústria rentável: uma análise recente mostra que os principais mobilizadores da campanha online antivacina acumulam receitas anuais de 35 milhões de dólares, e seus 62 milhões de seguidores geram uma receita de mais de um bilhão de dólares por ano para as grandes plataformas.

Mas a desinformação não é só um problema de incentivos econômicos ou interesses ideológicos. Atinge todo o tecido conjuntivo da democracia: se os cidadãos não confiam nas instituições, são enganados ou não querem participar do processo democrático, a democracia está gravemente ameaçada.

Em ano de eleição, enfrentar o flagelo das narrativas falsas é fundamental para garantir aos eleitores a escolha do futuro que queremos.


Após salvar Bolsa, commodities afundam e exigem nova estratégia, Marcos de Vasconcellos - FSP

 Há 522 anos, o interesse dos europeus por metais e plantações brasileiras ditam os rumos da nossa economia.

"Até agora não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro [...]. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem", relata, por sinal, o primeiro documento escrito da história do Brasil, a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei d. Manuel 1º, de Portugal.

A carta, datada de 1.500, parece ter selado nosso destino. O petróleo só foi descoberto em 1859. Não fosse isso, posso apostar que constaria na correspondência lusitana.

Você deve ter aprendido, talvez no ensino médio: O Brasil exporta matéria-prima e importa bens manufaturados. E foram essas commodities que seguraram as pontas no mercado financeiro nos últimos meses. Até agora.

Operários trabalham em indústria metalúrgica em Barueri, na Região Metropolitana de São Paulo - Eduardo Knapp/Folhapress

Digo até agora porque uma sirene soou no mercado, e é hora de definir os próximos passos com cautela.

Um relatório do Bank of America (BofA) divulgado na semana passada aponta que grandes fundos europeus estão se desfazendo de suas posições em aço, mineração e celulose brasileiros. Os metais e as plantações, almejados, justamente, pelos primeiros europeus a pisar em solo nacional.

Em 20 reuniões com grandes investidores, dizem os analistas do banco, poucos disseram manter o interesse em empresas que até então estavam na "crista da onda", como Suzano, Klabin, Gerdau, Usiminas e Vale.

Não se trata de uma impressão isolada. O índice de preços de commodities da Bloomberg (BCOM) caiu 18% entre 9 de junho e 6 de julho. O preço do barril de petróleo tipo Brent, referência para o brasileiro, despencou 18,7% no período analisado.

E aí fica cristalino o problema da concentração do nosso mercado em commodities. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa brasileira, caiu 7,8% no mesmo período. O S&P 500, principal indicador das ações negociadas nos EUA, caiu 4,3%.

Como deve ser um mantra na cabeça de quem opera na Bolsa de Valores: os preços são definidos pelos grandes players internacionais. E, se eles estão saindo das commodities, em um período no qual o crescimento da economia (traduzido pelo PIB) deverá ser mínimo, é melhor apertar os cintos, para mais turbulência.

A crise dos insumos desabasteceu grande parte do mundo. E a produção brasileira está batendo recorde. Mas os preços do setor estão sofrendo com a migração do dinheiro para ativos com menos risco. São os ciclos dos investimentos.

Para quem investe pensando no crescimento das empresas e de seus mercados, analistas enxergam um bom momento de compras à frente, pelo barateamento das ações. Para quem quer ganhar a curto prazo, algumas apostas nas quedas, como operações de venda a descoberto (short selling), devem se tornar cada vez mais comuns.

Nessa estratégia, você aluga uma ação por um período e a vende para outra pessoa. Se o preço do papel cai, você compra ele de novo e "devolve" para as pessoas de quem você alugou. Assim, embolsa a diferença entre o preço pelo qual vendeu e aquele pelo qual comprou de volta, descontando o preço que pagou pelo aluguel. Se eu vender por R$ 10 e recomprar por R$ 8, ganho R$ 2 por ação. Se o aluguel custar R$ 1, sobrará outro R$ 1 de lucro.

Trata-se de algo de alto risco, mas com boas possibilidades de ganho e que tende a conquistar mais espaço com o mercado em queda. Quem quiser conhecer mais detalhes dessas operações para ganhar nas quedas da Bolsa pode baixar este ebook gratuito do Monitor do Mercado.

A mudança de tendência é algo corriqueiro para quem investe em renda variável. O mais importante é ter uma estratégia que te permita bons rendimentos e proteção nas altas e nas quedas.