sexta-feira, 8 de julho de 2022

Servidora diz que redige sentenças e oferece curso a advogados, FSP

 Mônica Cristina da Costa, servidora da 1ª Vara Federal de Mafra (SC), usa logotipo de tribunal para fazer propaganda nas redes sociais de curso dirigido a advogados sobre Direito Previdenciário. "Com o Curso Expert, você vai ter em mãos todo o conhecimento e experiência de um servidor público com mais de 10 anos de profissão redigindo sentenças", anunciou.

Juízes entendem que houve abuso.

"Quanto vale para você obter honorários muito superiores para o resto da sua vida? Algo que ninguém mais vai tirar de você. Este caminho de sucesso não tem volta e não tem preço!" Uma das peças do Curso em Direito Previdenciário informa que as "inscrições abertas" têm "R$ 1.000,00 de desconto, só hoje".

"Atuo como oficial de gabinete e a principal atribuição do meu cargo é redigir minutas de sentenças nas ações previdenciárias", anuncia a servidora, vinculada ao TRF-4. "O que eu mais vi nos mais de 6.000 processos previdenciários que eu já analisei, são erros bobos que fazem o cliente perder parte dos seus direitos ou até perder todo o processo."

Oficial de gabinete diz que redige sentenças e oferece cursos para advogados
Peças promocionais em que a oficial de gabinete Mônica Costa, da Justiça Federal de Santa Catarina, diz redigir sentenças e oferece cursos para advogados - Divulgação/Reprodução

Mônica Costa diz que o curso "é voltado aos advogados que não detêm conhecimentos técnicos na área, já que as Universidades não abordam o tema de modo suficiente a um bom desempenho profissional."

"A minha atividade docente, assim como a de vários outros servidores públicos, como juízes, procuradores, delegados, em nada afeta o exercício do meu cargo público", afirma. [íntegra no final]

Em artigo no Consultor Jurídico, Vladimir Passos de Freitas, ex-presidente do TRF-4, critica a "mistura de funções privadas com as públicas". Ele não cita o nome da servidora, mas diz que "nada retrata tão bem essa situação" como o caso dela.

"É ético tal procedimento? Legal? Valer-se do cargo, envolver a administração pública para conquistar clientes? Estes novos mentores surgem com um apelo diferente, algo como: 'venham, eu tive sucesso e ocupo posição na administração pública, por isso será mais fácil levá-los ao sucesso'", diz Freitas.

Eis trechos de comentários feitos por outros magistrados:

- Achei um absurdo a propaganda feita pela servidora, jactando-se de redigir decisões judiciais.

- Embora os servidores de gabinete façam minutas, não é possível a um servidor afirmar esta autoria. É trabalho de assessoria.

- Ela faltou com o decoro, dever de lealdade, além de usar a Justiça em propaganda para uma atividade remunerada.

- Nada falou sobre eventual quebra de sigilo ou confidencialidade. Oficial de gabinete é cargo de confiança.

A Direção do Foro da Justiça Federal em Santa Catarina e o TRF-4 informam que estão analisando o caso.

OUTRO LADO

Eis a íntegra dos esclarecimentos prestados pela servidora:

O meu Curso Expert em Direito Previdenciário é voltado aos advogados que não detêm conhecimentos técnicos na área, já que as Universidades não abordam o tema de modo suficiente a um bom desempenho profissional.

É ofertado somente na modalidade on line, via plataforma digital, com aproximadamente 60 horas em vídeo-aulas disponíveis para acesso durante dois anos. Ou seja, todo o conteúdo do Curso já está gravado e, o foi, ao longo de mais de um ano.

As Lives que ofereço são todas gratuitas e no período da noite, como pode verificar no meu Instagram. Assim, a atividade é totalmente compatível com as atribuições e jornada de trabalho do cargo de analista judiciária.

O cargo e a função que ocupo fazem parte do meu currículo, assim como as duas especializações, em Direito Previdenciário pela Escola da Magistratura Federal do Rio Grande do Sul, e em Gestão Pública dos Direitos Sociais.

Sou professora da JusAulas (Juspodvim); da Escola Superior de Advocacia do Paraná ESA-OAB, do Curso 360 e do Focus Concursos, com aulas gravadas no contra-turno ao longo de mais de 3 anos e que estão disponíveis para aquisição.

A minha atividade docente, assim como a de vários outros servidores públicos, como juízes, procuradores, delegados, em nada afeta o exercício do meu cargo público: do contrário, contribui para a minha formação e crescimento profissional.

Acordemos para a pauta ESG!, OESP

 José Renato Nalini*

08 de julho de 2022 | 09h00

José Renato Nalini. FOTO: DIVULGAÇÃO

A lenta edificação de uma consciência ecológica iniciada na década de setenta não pode ser sumariamente sepultada pelos desvarios recentes. É hora de fazer com que a sociedade civil assuma as rédeas de uma agenda de sustentabilidade, restaurando a imagem do Brasil, tão deteriorada pela antipolítica ambiental que nos conduziu à condição de “Pária”.

O maior perigo que ronda a humanidade não é a pandemia, nem a guerra na Ucrânia e seus efeitos colaterais. Está comprovado que é o aquecimento global, gerado pela emissão de gases causadores do efeito estufa e que tornam completamente caótico o clima terrestre.

Rodrigo Tavares, fundador e presidente do Granito Group, ao analisar qual o país que merece o título de capital mundial do mercado ESG, salienta que “o Brasil também apresenta predicados. A credibilidade do seu sistema bancário e o seu colossal patrimônio ambiental dão-lhe naturalmente uma voz no debate global sobre sustentabilidade, mesmo quando a riqueza ética do ocupante presidencial seja inversamente proporcional à riqueza de biodiversidade do país”.

Verdade que o Reino Unido tem todas as condições para exercer esse protagonismo, pois dispõe de inúmeras instituições governamentais que, de forma apolítica, apartidária e consistente, lançam programas de apoio às finanças sustentáveis. A Grã-Bretanha é o maior cenário de eventos dedicados ao tema, tanto que a COP26 foi em Glasgow, na Escócia.

Mas também estão no páreo os Emirados Árabes. Eles contam com a maior densidade de políticas públicas, estratégias nacionais e visões para a sustentabilidade. Desde 2006 se edifica Masdar, a cidade sustentável e futurística próxima à capital Abu Dhabi. Tanto esta cidade como Dubai são centros de inovação e investimento em energias renováveis. Os Emirados também se preocupam com a energia limpa em todos os continentes. Tanto que patrocinam concurso de ciências para estimular crianças e jovens de todos os países a repensarem a matriz energética e a proporem soluções alternativas não poluentes. Aqui em São Paulo, por duas oportunidades, uma escola do interior ganhou o certame e seus alunos e professora foram viajar aos Emirados para conhecer de perto sua realidade, que é a do amanhã. Ainda muito longe daquilo que o Brasil oferta aos seus.

Não é de se ignorar que em 2023 os Emirados serão os anfitriões da COP28 e tenderão a mostrar tudo aquilo que conseguiram graças à previsão pioneira e eminentemente ética de seus governantes.

O Brasil começou a perceber que o Estado não pode ser a única opção. Quando ele não atende às expectativas do povo, este deve assumir o controle da coisa pública, zelar pelo interesse comum, pois o povo é o único titular da soberania. As autoridades governamentais são servas da população. Devem prestar contas. Devem ser fiscalizadas, controladas e coibidas quando se afastarem da consecução do bem comum.

Ora, o Brasil já possui uma sociedade civil engajada e atenta para as catástrofes que já estão acontecendo, mas que poderão se tornar a cada momento mais graves e danosas. A pauta ambiental entrou no radar e é cada vez mais intensificada porque a comunidade internacional se angustia vendo a destruição da Amazônia, entregue à criminalidade organizada e desenvolta. Entre dendroclastas, grileiros, posseiros, exterminadores de índios, exploradores de minério ilegal, tráfico de armas, de drogas, de tesouros da biodiversidade e outras práticas nefastas, parece não sobrar lugar para a presença do Estado e da sociedade lícita.

As instituições financeiras tupiniquins têm um discurso ecológico bem consistente e sua prática, tudo indica, vai caminhando nessa direção. A Universidade está formando profissionais na área da sustentabilidade, a mídia não economiza espaço para mostrar desmandos, mas também para louvar iniciativas micro, mas que lembram o lema ambiental nos seus primórdios: pensar globalmente, agir localmente.

Antes que se destrua toda a cobertura vegetal brasileira, é preciso que os nacionais patriotas, de boa vontade e lucidez, se oponham ao extermínio. Com isso, o Brasil poderá contar com trilhões de dólares disponíveis para o processo de descarbonização, que é mais do que urgente. O belo efeito colateral será a implementação da democracia participativa, com efetiva atuação cidadã na gestão da coisa pública, diante do funeral da democracia representativa e do malfadado sistema político partidário hoje vigente.

O remédio existe e se chama ESG: cuidado simultâneo do ambiente, redução das desigualdades sociais e governança corporativa. É só aplicá-lo e investir nele com garra e entusiasmo. A Terra cansou de pedir socorro e está respondendo do jeito que sabe. Não a provoquemos mais!

Acorda Brasil, enquanto é tempo!

*José Renato Nalini é reitor da Uniregistral, docente da pós-graduação da Uninove e presidente da Academia Paulista de Letras – 2021-2022

PF prende Colômbia, financiador da pesca ilegal onde Dom e Bruno foram assassinados na Amazônia, OESP

 Pepita Ortega e Fausto Macedo

08 de julho de 2022 | 10h18

Bruno Araújo Pereira e Dom Philips foram assassinados no dia 5 de junho. Foto: Bruno Jorge/Divulgação/Funai e Twitter/Reprodução

A Polícia Federal no Amazonas prendeu em flagrante, nesta quinta-feira, 7, Rubens Villar Coelho, conhecido como Colômbia, por uso de documento falso. O nome do preso é citado em meio às investigações dos assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips.

Colômbia é apontado como um dos financiadores da pesca ilegal em terras indígenas no Vale Javari, onde Bruno e Dom foram assassinados. Tem ligação com Amarildo da Costa Oliveira, o Pelado, que confessou o crime e indicou o local onde os corpos foram enterrados.

De acordo com a Polícia Federal, Colômbia compareceu espontaneamente, junto de seu advogado, à sede da corporação em Tabatinga para prestar esclarecimentos sobre o caso Bruno e Dom. Ele relatou que estava ‘preocupado’ com as citações constantes e disse saber que eventualmente seria chamado a esclarecer as menções, informou a corporação.

Ainda de acordo com os investigadores, Colômbia negou participação no duplo homicídio, inclusive ser mandante dos assassinatos. Com relação à Pelado, citou uma ‘relação comercial’. No entanto, durante a apresentação de documentos à autoridade policial, foi observada uma divergência.

‘Colômbia’ apresentou um documento brasileiro, que atestava que era havia nascido em Benjamin Constant. No entanto, durante a oitiva, disse que nasceu em outro local, apresentando um documento colombiano com outro nome. Segundo os investigadores, há notícia de que Colômbia ainda tem um documento peruano, com dados distintos.

Os investigadores esperam que Colômbia permaneça preso até sua identidade ser ‘esclarecida’. A prisão por documento falso não permite fiança e o suspeito passa por audiência de custódia ainda nesta sexta-feira, 8. A PF teme que, se ‘Colômbia’ for solto, ele fuja do País, o que é considerado pelos investigadores um motivo suficiente para prisão preventiva.

A PF entende que é o caso de Colômbia não ficar em liberdade provisória, já que ‘não se sabe a real identidade’ do preso. A corporação entrou em contato com as autoridades peruanas para descobrir o nome verdadeiro do custodiado. Na identidade brasileira, seu nome é Rubens Villar Coelho. No documento peruano, consta o registro Rubem Dario da Silva Villar.

Há três pessoas presas sob suspeita de participação direta no assassinato de Bruno e Dom: Amarildo da Costa Oliveira; o irmão dele, Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos; e Jeferson da Silva Lima, conhecido Pelado da Dinha, que se entregou ontem na Delegacia de Atalaia do Norte. Eles tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça do Amazonas.

A PF ainda investiga a suposta participação de mais cinco pessoas na ocultação dos corpos. Elas foram indiciadas, segundo informou a PF em coletiva nesta sexta-feira, 8.

Nesta quarta-feira, 6, a Polícia pediu que as prisões dos três principais investigados no caso sejam convertidas em preventiva. O prazo da prisão temporária dos investigados termina nesta sexta.

O pedido deve ser analisado pela Justiça Federal, uma vez que a juíza Jacinta Silva dos Santos, da Comarca de Atalaia do Norte, no interior do Amazonas, declinou da competência do caso. A decisão atendeu um pedido do Ministério Público do Estado.

Ao analisar o relatório das investigações realizadas pelas Polícias Civil e Federal, a magistrada considerou que a motivação dos assassinatos de Bruno e Bom está diretamente ligada com os direitos indígenas, ‘cuja análise da matéria jurídica é de competência da Justiça Federal’, informou o Tribunal de Justiça do Amazonas.

Segundo a promotoria, a possível motivação do crime está ligada à defesa dos direitos indígenas decorrente da atuação do indigenista Bruno Araújo no combate a pesca ilegal dentro da reserva indígena do Vale do Javari.