sexta-feira, 8 de julho de 2022

Grupo recria ferrovia em palco de sangrenta batalha na Revolução de 1932, FSP

 Marcelo Toledo

RIBEIRÃO PRETO

A região do túnel da Mantiqueira, com quase um quilômetro de extensão e que divide São Paulo de Minas Gerais, foi um dos mais relevantes locais de conflitos na Revolução Constitucionalista de 1932, que completa 90 anos neste sábado (9) e é alvo de um projeto em andamento que tem como objetivo recriar a ferrovia que ligava os dois estados.

Pesquisadores apontam o registro de centenas de mortes de combatentes na região, inclusive a do tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, então comandante do 7º Batalhão da Força Pública de Minas Gerais.

O 9 de julho marca o início da Revolução Constitucionalista, uma revolta que São Paulo organizou contra o governo de Getúlio Vargas (1930-1945). Os paulistas queriam uma nova Constituição para o país, o que Vargas não admitia em hipótese alguma.

Trecho da área urbana de Cruzeiro (SP) em que equipe da ABPF desenterrou trilhos para recriar ferrovia
Trecho da área urbana de Cruzeiro (SP) em que equipe da ABPF desenterrou trilhos para recriar ferrovia - Divulgação/ABPF

A data é considerada feriado estadual desde 1997, quando Mário Covas (1930-2001), então governador, assinou o projeto de lei 9.497.

O túnel de 998 metros, essencial na revolução, é o principal ponto de um roteiro ferroviário que está em andamento a partir de Cruzeiro (a 219 km de São Paulo), cidade do lado paulista do túnel.

Nela, a ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária) precisou até desenterrar trilhos para recriar a rota que prevê a ligação com Passa Quatro, vizinho município já em Minas Gerais.

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Foram desenterrados cerca de 300 metros de trilhos da linha principal na área urbana, num trabalho essencialmente manual, para evitar mais danos à linha férrea.

Até aqui, já foram recriados cerca de quatro quilômetros de trilhos, em operações prejudicadas por conta da pandemia da Covid-19 e também pela temporada de chuvas no último verão.

A meta da associação é, até o final do ano, chegar à estação Rufino de Almeida, o que significa mais dois quilômetros de avanço rumo ao túnel da Mantiqueira, num trajeto total de 25 quilômetros e que ligaria São Paulo à rota turística já existente na cidade mineira.

O trecho até Rufino de Almeida é apontado como o mais bonito e ao mesmo tempo complexo da antiga Estrada de Ferro Minas e Rio. O trecho é plano, mas como corta toda a cidade tem locais às margens dos trilhos que foram invadidos.

"Concluindo essa meta para 2022, a ideia é ano que vem começar o trecho de subida da Serra da Mantiqueira rumo ao túnel", disse o presidente da ABPF, Bruno Crivelari Sanches.

O túnel Grande, de 998 m de extensão, conta muito da história da Revolução de 1932. Do lado mineiro, a região da linha férrea foi cenário de uma batalha sangrenta entre as forças paulistas e as tropas federais.

Os registros indicam que o tenente-coronel Fulgêncio morreu perto do túnel quando tropas paulistas tentaram invadir Passa Quatro.

Cartaz do MMDC que convocava os paulistas a combater o governo de Getúlio Vargas em 1932
Cartaz do MMDC que convocava os paulistas a combater o governo de Getúlio Vargas em 1932 - Reprodução

O túnel entre os dois estados era estratégico por ser o meio de transporte de tropas para regiões de conflitos e por ter sido bloqueado por uma locomotiva no lado paulista com o objetivo de impedir o avanço de tropas inimigas.

Coronel Fulgêncio batizou a estação, que até então se chamava Túnel e que ficou abandonada entre os anos 1970 e 2004, quando a ABPF a assumiu e a restaurou.

No período de obras, em meio ao mato alto que dominava o local, foram encontradas cápsulas e objetos que supostamente foram utilizados no período da revolução.

Fulgêncio empresta o nome a uma estação ferroviária na cidade mineira e também, desde 1985, a uma medalha do mérito entregue pela Polícia Militar de Minas Gerais para homenagear integrantes da PM, instituições e personalidades por serviços relevantes.

Quando a ferrovia alcançar o túnel, vai conectar com o trecho de 10 quilômetros que já opera em Passa Quatro, totalizando uma rota de 35 quilômetros.

O projeto é feito com parcerias, como uma com a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que doou 3.000 dormentes que estão sendo utilizados atualmente e são suficientes para o ressurgimento de mais dois quilômetros de trilhos.

"Esperamos que, nos próximos anos, possamos comemorar [o 9 de Julho] com trem no túnel", disse Sanches.

O bangue-bangue na cracolândia, Thiago Amparo FSP

 A prefeitura e o governo de SP precisam explicar como a dispersão violenta de usuários de drogas tornará o centro de SP mais seguro. A solução de SP é sufocar usuários, ora cercando-os com grades e cones como animais, ora afastando da região os serviços públicos como se essas vidas não importassem, ora fazendo da Guarda Civil Municipal (GCM) força policial —que não é para sair batendo em usuários como num faroeste.

Bar invadido por usuários de drogas da Cracolândia na rua Guaianazes esquina com rua dos Gusmões - Danilo Verpa/Folhapress


Devem se repetir cenas como as vistas na manhã desta quarta (6) de saques de lojas na Santa Ifigênia por usuários e o seu espancamento por comerciantes. Não se deve diminuir o clima de medo na região; tampouco se deve fazer política pública com o fígado ou as próprias mãos. A privatização da segurança, via pancadaria, não resolverá a questão. Redirecionemos o foco às forças estatais.


Reprimir usuários é caro, ilegal e ineficiente. Caro, porque só na compra de equipamentos para a GCM entre 2017 e 2020 o paulistano pagou mais do que a corporação apreendeu em drogas no período, segundo relatório da Iniciativa Negra. Aliás, o custo de reprimir drogas é bilionário, revelou outro estudo recente do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec).


Ilegal, porque no dia 22 de junho, o Tribunal de Justiça de SP deferiu, parcialmente, pedido liminar da Defensoria Pública e do Ministério Público, ordenando que a Prefeitura coíba excessos ilegais da GCM, de forma repressiva (investigando-os) e de forma preventiva. O TJ-SP, aliás, errou ao não determinar que GCM não é polícia. Se a Prefeitura só tem a oferecer cacete, de nada servirá. Repressão é ineficiente.


É praxe dizer que a cracolândia é complexa para justificar incompetência. Mas há caminhos internacionalmente reconhecidos. Contra tráfico, investigação, inteligência e combate à corrupção. Aos usuários, moradia e acesso à saúde e redução de danos. A comerciantes e moradores, investimento em segurança comunitária. Na cracolândia, quem torce para o bangue-bangue esquece que o alvo do cacete somos todos nós.

Shinzo Abe, ex-premiê do Japão, é assassinado em ataque a tiros durante ato de campanha, OESP

 

Atentado aconteceu no oeste do Japão, na cidade de Nara; o político sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu aos ferimentos

TÓQUIO - O ex-primeiro-ministro do japonês Shinzo Abe foi morto a tiros nesta sexta-feira, 8, em um ataque durante um ato eleitoral em Nara, oeste do Japão.

Abe, de 67 anos, foi baleado enquanto discursava antes das eleições parlamentares. Ele ainda foi transportado de avião para um hospital após sofrer uma parada cardiorrespiratória, mas não resistiu.

O suspeito foi identificado como Tetsuya Yamagami, de 41 anos. Ele foi preso por tentativa de homicídio e uma arma de fogo foi confiscada. A rede de TV NHK informou que o suspeito serviu na Força de Autodefesa Marítima - A Marinha Japonesa - por três anos na década de 2000.

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Conforme o jornal The New York Times, a Agência Japonesa de Gerenciamento de Incêndios e Desastres confirmou que o ex-primeiro-ministro sofreu um ferimento de bala no pescoço e no peito. Ainda não há informações sobre a motivação do crime.

O ataque a Abe foi transmitido ao vivo na TV. Abe discursava do lado de fora de uma estação de trem principal em Nara. De pé, vestido com um terno azul marinho, ele levantava o punho, quando um tiro é ouvido.

O ex-premiê chegou a apertar o peito ao ser atingido, e desmaiou com a camisa ensanguentada. No momento do ataque, ele estava fazendo um discurso em prol da campanha eleitoral de Kei Sato, do Partido Liberal Democrata (PLD), para a Câmara Alta do Parlamento japonês.

O primeiro-ministro Fumio Kishida chamou o ataque de “covarde e bárbaro” e acrescentou que o crime ocorrido durante a campanha eleitoral, que é o fundamento da democracia, era absolutamente imperdoável.


Suspeito de atirar no primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, é detido por policiais na estação Yamato Saidaiji em Nara. Foto: Yomiuri Shimbun/KYODO via Reuters
Suspeito de atirar no primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, é detido por policiais na estação Yamato Saidaiji em Nara. Foto: Yomiuri Shimbun/KYODO via Reuters 

Trajetória

Abe foi o primeiro-ministro mais longevo do país e cumpriu dois mandatos -- de 2006 a 2007 e de 2012 a 2020. Ele renunciou ao cargo em agosto de 2020, após apresentar problemas de saúde. Enquanto esteve no poder, ganhou notoriedade pela ascensão econômica aplicada no país. No Brasil, ele ficou conhecido por participar do encerramento das Olimpíadas do Rio, em 2016.

Seu sucessor, Yoshihide Suga, 64, foi indicado pelo Partido Liberal Democrata (PLD). Depois de um ano no cargo, renunciou, em uma saída precipitada pela má gestão da pandemia. O atual líder do Japão, Kishida, foi escolhido para liderar o país com o apoio tácito de Abe.

O ex-primeiro-ministro foi preparado para seguir os passos de seu avô, o ex primeiro-ministro Nobusuke Kishi. Sua retórica política muitas vezes focada em tornar o Japão uma nação “normal” e “bonita” com uma militarização mais forte e maior papel nos assuntos internacionais.

O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe sofreu parada cardiorrespiratória após atentado durante uma campanha eleitoral, segundo informações da imprensa local. Foto: Kyodo/ Reuters
O ex-primeiro-ministro japonês Shinzo Abe sofreu parada cardiorrespiratória após atentado durante uma campanha eleitoral, segundo informações da imprensa local. Foto: Kyodo/ Reuters 

Ele disse aos repórteres na época que foi “doloroso” deixar muitos dos seus objetivos inacabados. Ele falou de seu fracasso em resolver a questão do japonês sequestrado anos atrás pela Coreia do Norte, em uma disputa territorial com a Rússia e uma revisão da Constituição de renúncia à guerra do Japão.

Seu ultranacionalismo irritou as Coréias e a China, e seu esforço para normalizar a postura de defesa do Japão irritou muitos japoneses. Abe não conseguiu reescrever formalmente a constituição pacifista redigida pelos EUA devido ao fraco apoio público.

A primeira passagem de Abe, repleta de escândalos, como primeiro-ministro foi o começo de seis anos de mudança anual de liderança, lembrado como uma era de ``porta’' política que carecia de estabilidade e políticas de longo prazo.

Morre Shinzo Abe, primeiro-ministro japonês mais longevo no cargo

Foi atingido por tiros durante um ato de campanha em Nara. Abe foi o premiê que ficou mais tempo no cargo e resistiu a vários escândalos político-financeiro

Quando voltou ao cargo em 2012, Abe prometeu revitalizar a nação e obter sua economia fora de sua estagnação deflacionária com sua fórmula ``Abenomics’', que combina estímulo fiscal, flexibilização monetária e reformas estruturais.

Ele ganhou seis eleições nacionais e construiu um sólido controle do poder, reforçando o papel e a capacidade de defesa do Japão e sua aliança de segurança com os EUA. Ele também intensificou a educação patriótica nas escolas e elevou o perfil internacional.