O Ministério Público do Rio de Janeiro deflagrou nesta terça-feira (10) a Operação Calígula, que tem como objetivo desarticular um esquema para proteger uma organização criminosa especializada em jogos de azar. Entre os alvos estão agentes da Polícia Civil —só na casa de uma delegada foram apreendidos cerca de R$ 1,2 milhão.
Segundo a denúncia, um dos integrantes do grupo é Ronnie Lessa, acusado de ser o autor dos disparos que mataram a vereadora Marielle Franco na noite de 14 de março de 2018. Ele foi preso em março de 2019 e se tornou réu sob acusação de homicídio da parlamentar.
Segundo a Promotoria, o grupo é liderado por Gustavo de Andrade e seu pai, Rogério de Andrade —sobrinho de Castor de Andrade, um dos maiores bicheiros cariocas. Castor sofreu um infarto em 1997 enquanto cumpria prisão domiciliar. Segundo o Ministério Público, a organização criminosa atuava no Rio de Janeiro e em outros estados do país.
A Folha entrou em contato com a defesa de Ronnie Lessa, mas não obteve resposta. A defesa de Gustavo e Rogério de Andrade ainda não foi localizada.
Segundo a denúncia, a parceria entre Rogério de Andrade e Ronnie Lessa existe pelo menos desde 2009, quando Lessa atuava como um dos seguranças do contraventor.
Em 2018, segundo a investigação, os dois abriram uma casa de apostas na Barra da Tijuca, zona oeste, que foi fechada pela Polícia Civil no dia em que foi inaugurada. No entanto, após acordos de corrupção com policiais civis e militares, as máquinas apreendidas foram liberadas, e o local voltou a funcionar.
A operação busca cumprir 29 mandados de prisão e 119 de busca e apreensão, inclusive contra quatro bingos comandados pelo grupo. Ao todo, 30 pessoas foram alvos de denúncia pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Ao menos 11 pessoas foram presas até o momento.
ACERTOS COM POLICIAIS
Segundo a denúncia, os criminosos tinham acertos com agentes da Polícia Civil mediante pagamento de propina. O objetivo do acordo era garantir a proteção do bando. Já os agentes da Polícia Militar receberiam valores mensais para permitir o funcionamento das casas de aposta do grupo
Na casa da delegada Adriana Belém, foram apreendidos cerca de R$ 1,2 milhão. Ela foi titular 16ª DP, localizada na Barra da Tijuca, bairro onde Ronnie Lessa morava. A Folha ainda não localizou a defesa dela.
Segundo a denúncia, o delegado Marcos Cipriano teria intermediado um encontro entre Lessa, a delegada Belém e um inspetor de polícia que seria braço direito dela.
Na reunião, teria sido combinada a liberação de 80 máquinas caça-níqueis que foram apreendidas em casa de apostas da organização criminosa, mediante pagamento de propina.
Os promotores denunciaram também um policial civil aposentado suspeito de ser o interlocutor do bando com as delegacias. Outro alvo da denúncia é inspetor acusado de ser receptador de propinas, fazendo a ligação do dinheiro entre o bando e integrantes do alto escalão da Polícia Civil.
O grupo também é suspeito de usar a violência para garantir suas operações. De acordo com as investigações, a organização liderada por Rogério de Andrade é suspeita da praticar inúmeros homicídios.