sexta-feira, 6 de maio de 2022

Trens maiores tiram quase 800 composições do principal corredor ferroviário do país, FSP

 Marcelo Toledo

A implantação de trens com mais vagões no principal corredor do agronegócio no país, entre Rondonópolis (MT) e o porto de Santos, fez com que cerca de 800 viagens deixassem de ser feitas somente em 2021.

sistema de trens com 120 vagões foi implantado pela concessionária Rumo em março do ano passado, com o objetivo de reduzir custos e, ao mesmo tempo, transportar mais carga até o porto no litoral paulista. Até então, eram utilizadas somente composições com 80 vagões.

Trem da concessionária Rumo, com 120 vagões, trafega no principal corredor do agronegócio, que liga Rondonópolis (MT) ao Porto de Santos
Trem da concessionária Rumo, com 120 vagões, trafega no principal corredor do agronegócio, que liga Rondonópolis (MT) ao Porto de Santos - Divulgação

Para isso, o plano iniciado em 2018 envolveu mapeamento da tecnologia nas locomotivas, como é o carregamento em Rondonópolis, o tempo que leva para embarcar toda a carga, como seria trafegar por todas as cidades paulistas e a chegada a Santos.

Um dos problemas é que a malha paulista é muito recortada. Criada principalmente entre o fim do século 19 e as primeiras décadas do século passado, ela tem curvas irregulares e traçado que dificulta a operação de grandes composições. O percurso era o ideal para o período por buscar café nas fazendas, já que não havia outro meio de transporte de carga.

A proposta inicial da Rumo era utilizar cinco locomotivas para tracionar os 120 vagões, mas após estudos no decorrer de 2021 concluiu-se que era possível fazer a rota entre a cidade mato-grossense e Santos com quatro locomotivas.

"Esse fator e mais o auxílio das tecnologias embarcadas de condução semiautônoma permitem um ciclo mais eficiente para atender as principais regiões produtoras do país", diz a concessionária.

A medida reduziu a emissão de gases e fez, também, com que o comprimento de cada trem passasse de 1,5 quilômetro para 2,2 quilômetros.

De acordo com a concessionária, se mantivesse em 2022 as operações no formato antigo, seriam necessárias mais de 40 locomotivas e 1.445 vagões para cumprir o mesmo ciclo que agora é feito com 120 vagões.

Foram realizadas no ano passado 1.585 viagens com os 120 vagões, ante as 2.377 que teriam de ocorrer para levar a mesma carga caso a rota fosse percorrida com trens menores. A redução é de 792 viagens.

Gerente executivo de planejamento da Rumo, Thiago Alvarenga disse que a operação já trouxe "ganhos operacionais expressivos" e que a perspectiva é melhor para este ano. A fase de testes indicou que, a cada cem viagens com o trem maior, o ganho de combustível era equivalente a quatro trens.

agronegócio tem impulsionado o novo modelo de viagens da Rumo. O Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) estima que a área plantada com soja crescerá 2,55% na próxima safra em relação à anterior, atingindo 11,13 milhões de hectares.

"A ampliação inicial está pautada pela valorização do preço da oleaginosa, demanda aquecida e o cenário de preços favoráveis dos subprodutos da soja, o que motivou alguns produtores a fazerem a conversão de áreas de pastagens para agricultura, principalmente em regiões onde a pecuária predomina —nordeste, noroeste e norte", diz relatório do instituto.

Dos 6,5 trens por dia, em média, que a Rumo embarca rumo a Santos, cinco saem do terminal em Rondonópolis, com 74 mil toneladas diárias.

A forte demanda chegou a fazer com que, em um único dia, fossem embarcados 11 trens, 7 deles partindo de Rondonópolis.

Um trem desse tamanho não é inédito no país, já que há outras ferrovias que transportam minério, por exemplo, com composições que chegam a ter 300 vagões. Em outras, porém, não é possível trafegar com mais de 40 vagões.

Isso é determinado conforme a modernidade da ferrovia e a existência ou não de trechos de serra ou raios de curvatura menores, por exemplo.

A Rumo passou a operar com trens de 120 vagões no segundo semestre do ano passado também a partir dos terminais de São Simão e Rio Verde, ambos em Goiás.

Com a alteração no tamanho dos trens, a capacidade de cada um passou da equivalência de 173 caminhões para 261 caminhões.


Biscoito recheado de morango não tem morango, mas tem insetos na receita, FSP

 Marcos Nogueira

SÃO PAULO

Interessante que as pessoas tenham ficado surpresas com a ausência de picanha no sanduíche McPicanha, do McDonald’s. Que tenham se estarrecido com a falta de costelinha no Whopper de costelinha do Burger King.

Eu não me surpreendi. A propaganda capciosa –quando não mentirosa– é a praxe, e não a exceção, na indústria de alimentos. Dá para enumerar centenas de casos, mas eu vou me ater a só um: os biscoitos recheados de morango.

Biscoitos, perdão, "sabor" morango. "Sabor" é uma palavrinha que funciona como salvo-conduto para estampar em embalagens e peças publicitárias ingredientes que passam longe da preparação do alimento em si. A lei permite.

Muitos biscoitos distribuídos geometricamente
Biscoitos de morango da marca Piraquê, em cujo recheio não há morango, mas corante feito à base do inseto cochonilha - Reprodução

O caso da bolacha de morango não se restringe a uma marca, mas a vários fabricantes. Vamos examinar suas listas de ingredientes.

A começar pela marca Bono, segundo um site da própria Nestlé:

"Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, óleo vegetal, amido, gordura vegetal, leite em pó integral, sal, açúcar invertido, fermentos químicos bicarbonato de amônio, bicarbonato de sódio e fosfato monocálcico, emulsificante lecitina de soja, aromatizantes e corante natural carmim."

Cadê morango? Não tem. E repare no último item da lista, "corante natural carmim". Sabe de que se trata?

É uma tintura obtida da trituração da cochonilha, minúsculo inseto cujo extrato tem cor vermelha vibrante. Milhares de indivíduos são esmagados para fazer um punhadinho de corante alimentício. É assim há muito tempo e não tem nada de mais, mas a indústria odeia que tal informação fique em evidência.

É o suco de inseto que deixa o recheio da bolacha rosinha, não o morango que nunca esteve lá.

Passemos à marca Piraquê. Mesmíssima situação:

"Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura vegetal, soro de leite em pó, maltodextrina, açúcar invertido, extrato de malte, amido de milho*, sal, emulsificantes: lecitina de soja e estearoil lactilato de cálcio, aromatizantes, fermentos químicos: bicarbonato de sódio e fosfato monocálcico, corante carmim e antioxidante ácido cítrico."

Agora vamos ao Oreo (Mondelez), que chama o recheio do biscoito de "milkshake de morango". De novo, zero morango e muitos insetinhos:

"Farinha de trigo enriquecida com ferro e ácido fólico, açúcar, gordura vegetal interesterificada, óleo vegetal, cacau em pó, carbonato de cálcio, açúcar invertido, sal, fermentos químicos: bicarbonato de amônio, bicarbonato de potássio e bicarbonato de sódio, emulsificante lecitina de soja, aromatizantes, acidulante ácido cítrico e corante carmim."

Situação idêntica nos biscoitos Renata (Selmi) e Adria (M. Dias Branco). Já deu para entender, né?

As marcas Negresco (Nestlé), Bauducco e Triunfo (Arcor) afirmam incluir morangos desidratados na receita.