A implantação de trens com mais vagões no principal corredor do agronegócio no país, entre Rondonópolis (MT) e o porto de Santos, fez com que cerca de 800 viagens deixassem de ser feitas somente em 2021.
O sistema de trens com 120 vagões foi implantado pela concessionária Rumo em março do ano passado, com o objetivo de reduzir custos e, ao mesmo tempo, transportar mais carga até o porto no litoral paulista. Até então, eram utilizadas somente composições com 80 vagões.
Para isso, o plano iniciado em 2018 envolveu mapeamento da tecnologia nas locomotivas, como é o carregamento em Rondonópolis, o tempo que leva para embarcar toda a carga, como seria trafegar por todas as cidades paulistas e a chegada a Santos.
Um dos problemas é que a malha paulista é muito recortada. Criada principalmente entre o fim do século 19 e as primeiras décadas do século passado, ela tem curvas irregulares e traçado que dificulta a operação de grandes composições. O percurso era o ideal para o período por buscar café nas fazendas, já que não havia outro meio de transporte de carga.
A proposta inicial da Rumo era utilizar cinco locomotivas para tracionar os 120 vagões, mas após estudos no decorrer de 2021 concluiu-se que era possível fazer a rota entre a cidade mato-grossense e Santos com quatro locomotivas.
"Esse fator e mais o auxílio das tecnologias embarcadas de condução semiautônoma permitem um ciclo mais eficiente para atender as principais regiões produtoras do país", diz a concessionária.
A medida reduziu a emissão de gases e fez, também, com que o comprimento de cada trem passasse de 1,5 quilômetro para 2,2 quilômetros.
De acordo com a concessionária, se mantivesse em 2022 as operações no formato antigo, seriam necessárias mais de 40 locomotivas e 1.445 vagões para cumprir o mesmo ciclo que agora é feito com 120 vagões.
Foram realizadas no ano passado 1.585 viagens com os 120 vagões, ante as 2.377 que teriam de ocorrer para levar a mesma carga caso a rota fosse percorrida com trens menores. A redução é de 792 viagens.
Gerente executivo de planejamento da Rumo, Thiago Alvarenga disse que a operação já trouxe "ganhos operacionais expressivos" e que a perspectiva é melhor para este ano. A fase de testes indicou que, a cada cem viagens com o trem maior, o ganho de combustível era equivalente a quatro trens.
O agronegócio tem impulsionado o novo modelo de viagens da Rumo. O Imea (Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária) estima que a área plantada com soja crescerá 2,55% na próxima safra em relação à anterior, atingindo 11,13 milhões de hectares.
"A ampliação inicial está pautada pela valorização do preço da oleaginosa, demanda aquecida e o cenário de preços favoráveis dos subprodutos da soja, o que motivou alguns produtores a fazerem a conversão de áreas de pastagens para agricultura, principalmente em regiões onde a pecuária predomina —nordeste, noroeste e norte", diz relatório do instituto.
Dos 6,5 trens por dia, em média, que a Rumo embarca rumo a Santos, cinco saem do terminal em Rondonópolis, com 74 mil toneladas diárias.
A forte demanda chegou a fazer com que, em um único dia, fossem embarcados 11 trens, 7 deles partindo de Rondonópolis.
Um trem desse tamanho não é inédito no país, já que há outras ferrovias que transportam minério, por exemplo, com composições que chegam a ter 300 vagões. Em outras, porém, não é possível trafegar com mais de 40 vagões.
Isso é determinado conforme a modernidade da ferrovia e a existência ou não de trechos de serra ou raios de curvatura menores, por exemplo.
A Rumo passou a operar com trens de 120 vagões no segundo semestre do ano passado também a partir dos terminais de São Simão e Rio Verde, ambos em Goiás.
Com a alteração no tamanho dos trens, a capacidade de cada um passou da equivalência de 173 caminhões para 261 caminhões.
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