quinta-feira, 8 de julho de 2021

Ruy Castro 'Mito! Mito!', FSP

 Em 1872, Francisco Otaviano, jornalista, político e diplomata, publicou um livro de versos. Um dos poemas dizia: “Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu/ Quem não sentiu o frio da desgraça/ Quem passou pela vida e não sofreu/ Foi espectro de homem, não foi homem/ Só passou pela vida, não viveu”. Bastou aquilo para consagrá-lo —a qualquer lugar que fosse alguém se punha de pé, alçava a fronte e declamava o poema. Os presentes deliravam. Otaviano é que, depois de algum tempo, não suportava mais ouvi-lo. Mas tinha de ficar firme.

O mesmo com Juscelino Kubitschek. Já presidente, uma reles ponte ou torneira que inaugurasse era precedida de uma banda militar tocando a ciranda “Peixe Vivo” —“Como pode o peixe vivo/ Viver fora da água fria...”. Como inaugurava cinco obras por dia, ouvir a cantiga se tornou um suplício. Mas JK armava seu melhor sorriso e todos achavam que ele a adorava.

Louis Armstrong idem. A toda cidade que chegasse, em qualquer país, era recebido no aeroporto por uma furiosa bandinha tocando “When The Saints Go Marchin’ In”. Era preciso muita coragem para alguém tocar trompete diante de Satchmo. Talvez por isso, saturado, ele tenha resistido a gravar “When The Saints”, o que só fez em 1954.

E Adolf Hitler? Diante dele, seus liderados tinham de bater os tacões, esticar o braço e gritar “Heil Hitler!”. Em resposta, com nítida impaciência, Adolf só mostrava a palma da mão. Devia urrar contra si próprio por ter instituído aquela saudação.

Jair Bolsonaro é diferente. A qualquer grota que chegue, inclusive o cercadinho no Alvorada, grupos ainda ululam “Mito! Mito!”. E ele acredita nisso. Tem de acreditar. Com sua máscara de honesto caindo diante de sérias acusações que o revelam como corrupto, precisa aproveitar cada minuto na Presidência. Ninguém o chamará de “Mito! Mito!” na cadeia.


Quem é quem no caso Covaxin, OESP

As suspeitas de corrupção na compra de vacinas contra a covid-19 estão no centro das investigações da CPI da Covid, que mira três negociações: a da Covaxin, da AstraZeneca e da Convidecia. Todas envolvem empresas atuando como intermediárias. As denúncias já derrubaram Roberto Ferreira Dias, exonerado do cargo de diretor de Logística do Ministério da Saúde (que depôs à CPI ontem e acabou preso por mentir) e de Lauricio Monteiro Cruz, diretor do Departamento de Imunização da pasta. Conforme revelou o Estadão, o afastamento de Cruz faz parte de uma "faxina" no Ministério da Saúde para tentar estancar a crise, que também coloca o núcleo militar do governo sob os holofotes.

O contrato de compra de 20 milhões de doses da Covaxin foi fechado, e o valor de R$ 1,6 bilhão chegou a ser empenhado (reservado no orçamento), mas está suspenso em função das denúncias. As tratativas para aquisição da AstraZeneca (400 milhões de doses ofertadas pela Davati Medical Supply) e da Convidecia não foram concluídas. Entenda quem são os principais personagens e fatos das suspeitas até aqui:


 

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Governo de SP anuncia que vai antecipar vacinação no Estado e flexibiliza regras para o comércio, OESP

 Júlia Marques, O Estado de S.Paulo

07 de julho de 2021 | 12h36

O governo de São Paulo anunciou nesta quarta-feira, 7, que antecipará o calendário de vacinação no Estado.  A medida será possível, segundo o governador João Doria (PSDB), por causa da compra de 4 milhões de doses adicionais da Coronavac, diretamente com a farmacêutica chinesa Sinovac. O novo calendário de vacinação no Estado não foi divulgado.

Em coletiva nesta tarde, Doria também anunciou a ampliação em duas horas do horário de funcionamento do comércio a partir de sexta-feira, 9. E a capacidade máxima dos estabelecimentos será ampliada para 60%. A flexibilização nas regras para o comércio vale até o dia 31 de julho. O governo informou ainda que vai realizar 30 eventos-teste a partir do dia 17 de julho. 

Doria
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), no Palácio dos Bandeirantes Foto: Governo SP

Segundo o governo do Estado, a entrega das doses da vacina Coronavac ao Ministério da Saúde será antecipada em 30 dias. A Coronavac é produzida no Instituto Butantan. O total de 100 milhões de doses deveriam ser entregues ao Ministério da Saúde no fim de setembro, mas, de acordo com o governo, será possível completar a entrega até o dia 31 de agosto. 

De acordo com Doria, foram adquiridas diretamente com a Sinovac 4 milhões de doses da Coronavac. Destas, 2,7 milhões chegam nesta quarta-feira a São Paulo e até o dia 26 de julho o Estado deverá receber o restante. O governo não informou as novas datas para vacinação dos paulistas. Hoje, o calendário prevê vacinar com a primeira dose todas as pessoas acima de 18 anos até o dia 15 de setembro. 

Segundo o secretário estadual da Saúde, Jean Gorinchteyn, a vacinação dos adultos pode ocorrer "bem antes" de 15 de setembro.