terça-feira, 6 de julho de 2021

Oposição e governistas tentam beneficiar setores com mudanças na MP da crise elétrica, FSP

 Congressistas da base do governo Jair Bolsonaro e de oposição querem alterar a MP (medida provisória) da crise de energia, editada na semana passada pelo presidente para criar o comitê de gestão do problema. O país atravessa hoje a pior crise hídrica dos últimos 91 anos.

Há pressão para que o governo seja novamente obrigado a contratar determinados tipos de energia, o que é visto por especialistas como uma reserva de mercado, além de articulação para estender benefícios para geração de energia por meio de carvão, considerada muito poluente.

A mesma iniciativa também ocorreu na MP que abriu caminho para a privatização da Eletrobras e foi considerada um jabuti, quando a proposta não tem ligação com o tema principal do texto em discussão.

Uma medida provisória passa a ter efeito imediato, mas precisa do aval do Congresso em até 120 dias para não perder a validade. Cabe aos deputados e aos senadores analisarem a proposta e apresentarem mudanças no texto. Ainda não há previsão para que a proposta seja votada.

O relator da MP, quando for escolhido, será responsável por negociar as alterações no texto antes de ir ao plenário da Câmara e depois do Senado. Foram 248 emendas apresentadas ao todo.

Parte das emendas tenta repetir a estratégia adotada durante a votação da MP da desestatização da Eletrobras, quando o Congresso conseguiu incluir emendas que não estavam na versão original do projeto, os chamados jabutis.

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Segundo associações do setor elétrico, as mudanças feitas na MP da Eletrobras irão encarecer a geração de energia nos próximos anos. O governo refuta a tese e diz que, apesar das alterações do Congresso, haverá corte no custo da energia.

O ponto mais polêmico foi a determinação de que a União terá de contratar usinas térmicas a gás e pequenas centrais hidrelétricas, o que, segundo especialistas, resulta em uma energia mais cara por serem menos competitivas.

O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP) defende incentivos para o setor de energia solar. Em uma das emendas na nova MP, ele quer que a União seja obrigada a realizar um leilão para contratar esse tipo de energia.

Para beneficiar o setor de energia movida a biomassa, o mesmo mecanismo é previsto em uma emenda do deputado Zé Vitor (PL-MG), que determina a contratação de geração dessas termelétricas futuramente.

Proposta semelhante foi apresentada pelo deputado Valtenir Pereira (MDB-MT).

O PL faz parte da base de sustentação de Bolsonaro no Congresso. O PSB é um partido de oposição ao governo. Já o MDB tem uma postura de independência ao Palácio do Planalto.

Para que uma emenda seja incluída na medida provisória, é necessário apoio político. Isso será feito nas próximas semanas, pois a discussão do projeto do governo para lidar com a crise hídrica ainda precisa amadurecer no Congresso.

Em uma articulação em favor de sua base eleitoral, o deputado Ricardo Guidi (PSD-SC) tenta prorrogar benefícios para o setor de energia a carvão, considerada pouco eficiente e bastante poluente.

"O fim desse subsídio gerará altos impactos nos municípios com economia que tem como atividade a extração do carvão mineral", justificou ele.

Na MP da Eletrobras, senadores de Santa Catarina já tentaram estender incentivos ao setor, mas tiveram que recuar após pressão contrária do governo.

Outro aliado de Bolsonaro que tenta emplacar mudanças na MP da crise elétrica é o deputado Roman (Patriota-PR). A sugestão dele é que o Ministério de Minas e Energia crie um plano para que até 2030 entrem em operação 50 GW (gigawatts) de energia solar no país.

Do lado da oposição, o líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS), apresentou uma emenda para tentar barrar a privatização da Eletrobras, cujo aval foi dado pelo Congresso em junho.

"É inquestionável a importância que a Eletrobras exerce no processo em curso de transição energética mundial e descarbonização do setor elétrico e das atividades produtivas. O Brasil possui uma das fontes mais limpas de energia e se coloca como exemplo para o mundo. Logo, sua eventual privatização não pode ocorrer durante a crise hídrica", disse o petista.

Para reagir à crise energética, Bolsonaro editou a MP na semana passada para dar poderes ao Ministério de Minas e Energia decidir sobre o nível de vazão de água nos reservatórios das hidrelétricas.

A previsão é que neste ano o país sofra com pouca chuva, principalmente nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde estão os principais reservatórios de hidrelétricas. Hoje, o Brasil depende de mais de 60% dessa fonte de energia.

Cabe ao Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e à ANA (Agência Nacional de Águas e Saneamento) definirem as vazões que passam pelas barragens, para atender requisitos ambientais ou permitir outros usos da água. Agora, o governo passa a centralizar as decisões.

Apesar de tratarem de temas relacionados ao setor elétrico, emendas da oposição e de governistas, portanto, incluem medidas que não estão originalmente previstas na proposta do Planalto.


Josué Gomes da Silva é eleito presidente da Fiesp, que muda de comando após 17 anos, OESP

 André Jankavski, O Estado de S.Paulo

05 de julho de 2021 | 18h09
Atualizado 05 de julho de 2021 | 20h46

O empresário Josué Gomes da Silva, dono da Coteminas, do setor têxtil, foi oficialmente eleito para ser o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) a partir de 2022, encerrando quase 18 anos de Paulo Skaf na presidência. A eleição foi em chapa única e Gomes da Silva obteve 108 votos, enquanto 4 optaram por anular o voto. “O Brasil precisa de uma indústria que cresça forte para que o Brasil cresça forte. Receber todos esses votos é uma grande honra”, afirmou Gomes da Silva após o anúncio do resultado.

Apesar de conseguir quase 97% dos votos, o novo presidente da Fiesp terá, mesmo antes de sentar na cadeira, a missão de recriar uma unidade dentro da federação empresarial mais importante e rica do Brasil.

Josué Gomes da SIlva
Josué Gomes da Silva foi eleito com o apoio do agora ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf. Foto: Hélvio Romero/Estadão

Essa divisão ficou mais clara na eleição do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). A chapa encabeçada pelo executivo do setor têxtil Rafael Cervone foi eleita com 1.147 votos, ante 680 da chapa de José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast)

Cervone, que será presidente do Ciesp a partir de janeiro de 2022, coloca panos quentes na disputa. Segundo ele, com o fim da eleição, não haverá mais situação e oposição. Segundo ele, é necessário “pensar em uma indústria unida e integrada”, mas admite que a relação com a oposição não está das melhores. “O diálogo com a oposição depende de como se comportar a oposição. Foi muito difícil esse período. Nós conversamos com toda a base industrial e assim vai continuar sendo”, afirma. 

Grupos opositores acusam Skaf de se preocupar mais com a suas pretensões eleitorais (ele concorreu ao governo do Estado de São Paulo nas últimas três eleições) do que com os interesses da indústria. Além disso, alguns presidentes de associações afirmam que o presidente boicotava quem se posicionasse contra as suas propostas, retirando pessoas de grupos de discussão, até no WhatsApp. “Nunca fui adversário do ‘imperador’ Paulo Skaf. Mas, no dia que você discorda dele, há um processo de exclusão total”, afirma um presidente de uma associação. 

Essa também é a principal crítica de Roriz, derrotado na disputa do Ciesp. Segundo ele, Skaf passou a se preocupar mais com eleições do que com a indústria. “A agenda do Skaf é muito mais pessoal”, afirma.

Apoiadores de Skaf discordam dessa visão. Um atual diretor da federação explica que Skaf se aproximou da política para defender os interesses da indústria e que a gestão da Fiesp está no caminho certo.

Skaf afirma que há um grupo minoritário que faz barulho, mas que as votações expressivas desta segunda-feira, 5, mostram que a sua condução é aprovada pela grande maioria e que não há nenhuma atitude de “imperador”.

“Uma democracia não pode ser baseada na opinião de dois ou três. O ‘imperador’ apoiou um candidato que teve 97% dos votos e outro com quase 70%. Eu não fui candidato a nada”, afirma Skaf ao Estadão.

Roriz afirma que está aberto para conversas com os candidatos eleitos e que espera que as demandas levantadas pela oposição durante o pleito sejam ouvidas pelos novos presidentes a partir de 2022. 

A unificação, tanto da Fiesp quanto do Ciesp, é o que espera Ciro Marino, presidente da Associação Brasileira da Indústria Química. “Não acredito que a Fiesp esteja rachada, mas é preciso entender por que há divergências e conciliar a entidade.”


segunda-feira, 5 de julho de 2021

PSOL e Republicanos têm onda de novos filiados após avanço em eleições municipais, FSP

SALVADOR e SÃO PAULO

As movimentações de filiações partidárias após as eleições municipais de 2020 apontam que PSOL e Republicanos são os partidos que mais aumentaram o saldo de filiados no período entre dezembro do ano passado e abril deste ano.

Levantamento da Folha com dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que o PSOL teve um saldo de 21,3 mil novos filiados no período. O Republicanos ganhou 6.200 novos filiados.

O cenário difere daquele do mesmo período após as eleições de 2018, quando apenas partidos alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (à época no PSL) registraram um salto de novas filiações.

No caso do PSOL, a onda foi reflexo do bom desempenho do partido nos grandes centros urbanos. Metade das novas filiações está concentrada nos estados do Pará e de São Paulo, onde o partido teve bom desempenho na disputa a prefeito da capital.

Guilherme Boulos (PSOL) acena para apoiadores durante a campanha pela Prefeitura de São Paulo em 2020
Guilherme Boulos (PSOL) acena para apoiadores durante a campanha pela Prefeitura de São Paulo em 2020 - Danilo Verpa/Folhapress

Em Belém, o PSOL saiu vitorioso com a eleição de Edmilson Rodrigues –única prefeitura de capital conquistada pela sigla em 2020.

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Em São Paulo, o partido teve desempenho surpreendente ao chegar ao segundo turno com Guilherme Boulos. O professor e ativista do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) teve 40% dos votos válidos, perdendo para o então prefeito Bruno Covas (PSDB).

“Esse crescimento se deve ao papel do PSOL no enfrentamento ao bolsonarismo, à postura correta e ativa para a unidade das esquerdas e à capacidade de ter apresentado propostas concretas para tirar o Brasil da crise” afirma Juliano Medeiros, presidente nacional da legenda.

Segundo partido com maior saldo de novos filiados, o Republicanos é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, mas tem buscado ampliar seu horizonte de atuação, com a filiação de líderes políticos de fora do universo religioso.

A legenda também tem buscado se posicionar abertamente como um partido de direita e tornou-se um dos mais fiéis aliados de Bolsonaro no Congresso.

Com essa aproximação, dois dos filhos do presidente filiaram-se ao partido depois de 2018: o vereador no Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro (RJ) —este, porém, deixou o partido em maio e anunciou filiação ao Patriota, que também está na mira do presidente para disputar a eleição de 2022.

O Republicanos cresceu majoritariamente no estado de São Paulo, mas também avançou na Bahia, onde ganhou força com a ascensão do deputado federal João Roma, que em fevereiro deste ano assumiu o Ministério da Cidadania do governo Bolsonaro.

Roma rompeu com seu padrinho político, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), e tem buscado construir um grupo político próprio na Bahia.

O partido tem conseguido avançar com maior força em cidades do interior, onde teve crescimento no número de prefeitos e vereadores no pleito de 2020.

A cientista política Lara Mesquita, pesquisadora da FGV, destaca que PSOL e Republicanos saíram mais fortes das eleições municipais.

“O Republicanos é um partido muito organizado e já faz um tempo que está se estruturando, fazendo um trabalho de mobilização de base. Este crescimento não é por acaso”, avalia.

O PSOL, segundo a pesquisadora, também tem feito um trabalho de base e conseguiu crescer sobretudo nos grandes centros urbanos.

No caso do partido, esse esforço de mobilização é ainda mais importante, já que é uma das siglas ameaçadas pela cláusula de barreira e que precisará ter um melhor desempenho na próxima eleição para a Câmara dos Deputados.

Além de PSOL e Republicanos, legendas como Avante, PT e Novo aparecem na sequência com maior saldo de novos filiados.

Esse cenário mostra que há avanço tanto no campo da esquerda quanto no campo da direita. Há dois anos, apenas partidos mais alinhados à direita registraram crescimento.

Entre janeiro e abril de 2019, PSL, Novo e Republicanos foram as legendas que mais ganharam novos filiados. Na época, o PSL chegou a registrar 31 mil novas filiações, embalado pela vitória de Bolsonaro.

No mesmo período de 2020, o PSL permaneceu como a legenda que mais conquistou novos filiados, avanço que aconteceu a despeito da desfiliação do presidente, que deixou a sigla em novembro de 2019.

Nos primeiros meses deste ano, contudo, o partido seguiu na direção contrária e terminou com o pior saldo de novos filiados.

A legenda distanciou-se de Bolsonaro e vem perdendo filiados que vieram na onda do bolsonarismo. Teve saldo negativo de 3.600 filiados. Ou seja, mais pessoas deixaram o partido do que entraram. ​

PTB e DEM aparecem na sequência como os partidos que mais perderam filiados desde as eleições municipais. As duas legendas enfrentam um cenário conturbado de disputas internas que resultou na desfiliação de alguns de seus principais líderes nos estados.

O DEM perdeu o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que foi para o PSDB; o governador do Tocantins, Mauro Carlesse, que migrou para o PSL; e o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, hoje no PSD. Cada um desses líderes levou consigo outros quadros que eram filiados ao partido.

O PTB, por sua vez, vive uma transformação ainda mais profunda. O presidente nacional do partido, Roberto Jefferson, aproximou-se das franjas mais radicais do bolsonarismo e iniciou um processo de expurgo de seus principais líderes nos estados com a dissolução de diretórios regionais.

Entre os demais partidos, o cenário é de estagnação. O MDB segue como o partido com mais filiados do país, com cerca de 2 milhões de eleitores. Na sequência, aparecem PT, PSDB, PP e PDT.

Apesar de simbolizar a representação dos partidos entre o eleitorado, o número global de filiados é tido como um indicador questionável para mensurar o tamanho ou a capilaridade dos partidos.

Isso porque, no Brasil, nem sempre há participação dos filiados nas decisões do partido. A ausência de taxas e contribuições financeiras na maioria das legendas também é um fator que facilita a filiação.

Outra lacuna é o fato de a base de dados do TSE possuir falhas. Existem pessoas que já morreram entre os filiados considerados em situação regular, além de eleitores que são registrados involuntariamente.