quarta-feira, 10 de março de 2021

A Lei de Murphy ataca, Ruy Castro, FSP

 

Alguns enunciados clássicos para sua consideração em meio ao tiroteio entre ministros do STF

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Você conhece o enunciado: "Se alguma coisa tem chance de dar errado, dará". É a Lei de Murphy, um sistema de pensamento sugerido sem querer, em 1948, pelo engenheiro Edward Murphy (1918-1990), num laboratório espacial quando testava um sistema de frenagem de foguetes. A frase foi ouvida pelo coronel J.P. Stapp, que a transformou em lei e criou um de seus primeiros corolários: "Se alguma coisa tem chance de dar errado, dará —e na pior hora". Em 1974, o escritor Arthur Bloch expandiu-a em dezenas de variações que, por sua vez, também ganharam adaptações em toda parte. Para sua reflexão nesses dias de tiroteio de decisões entre os ministros do STF, eis algumas.

"Nada é tão ruim que não possa piorar." "Toda solução cria novos problemas." "Se há possibilidade de várias coisas darem errado, dará errado a que causar mais problemas." "Problemas complexos têm soluções simples, de fácil compreensão e erradas." "O homem que consegue sorrir quando alguma coisa dá errada é porque pensou em alguém em quem botar a culpa." "Quem ri por último é porque não entendeu a piada."

"Se determinada medida não vale a pena, não vale a pena ser bem executada." "Na prática, funciona. Mas funcionará na teoria?" "Nenhuma experiência é um erro completo. Sempre pode servir de exemplo negativo." "Quando um erro é descoberto e corrigido, descobre-se depois que não estava errado." "Nunca discuta com um idiota. Os outros podem não saber quem é quem."

"Nunca atribua à esperteza o que é facilmente explicável pela burrice." "Se a situação parece ter melhorado, é porque você não está percebendo alguma coisa." "A situação ainda vai piorar antes de melhorar." "Quem disse que a situação vai melhorar?"

Um Murphy brasileiro diria: "O Brasil já tinha Bolsonaro e uma pandemia capaz de dizimar a população. Era preciso tomar uma providência. Tomou. Agora tem a pandemia, Bolsonaro e Lula".


Hélio Schwartsman Qual Lula será candidato em 2022?, FSP

 Ao que tudo indica, Luiz Inácio Lula da Silva poderá concorrer à Presidência no ano que vem. Isso altera significativamente os planos de candidatos e partidos que já começavam a desenhar cenários para o próximo pleito.

Na leitura mais superficial, mas não necessariamente errada, o retorno do petista ao jogo reforça a polarização. Os beneficiados seriam o próprio Lula e seu antípoda, o presidente Jair Bolsonaro, que, mobilizando seus núcleos de apoiadores fiéis e demonizando os adversários, carimbariam seus passaportes para o segundo turno, fechando as portas para candidaturas mais ao centro.

O problema com essa interpretação é que ela parte do pressuposto de que o Lula de 2022 será um Lula radical, parecido com o que se candidatou em 1989 ou com o que discursou às vésperas de ser preso pela Lava Jato em 2018. Mas não há nenhuma garantia de que tal premissa se manterá.

Lula já deu repetidas mostras de que é um camaleão político, capaz de vestir a roupagem que mais lhe convém. Se ele sentir que tem mais chances de chegar ao Planalto com o figurino de candidato moderado, ele o adotará. Nada o impede de repetir a trajetória de 2002, quem sabe até reeditando uma versão da "Carta ao povo brasileiro" e forçando o PT a fazer uma tardia autocrítica do governo Dilma. Isso seria crível? Bem, se as pessoas acreditaram que Bolsonaro era liberal, então acreditam em qualquer coisa.

Meu ponto é que não estamos condenados à polarização. Dependendo da dinâmica que a campanha assumir, poderemos assistir à reintrodução do teorema do eleitor mediano, pelo qual os principais candidatos buscam desde o início apresentar-se como moderados para conquistar os cidadãos que rejeitam extremos, que são normalmente a maioria.

Se o vencedor vai governar de acordo com as promessas ou cometer mais um estelionato eleitoral é uma outra questão. Mas tratemos de um problema de cada vez.


Pandemia pressiona Airbnb e reduz aluguéis em pontos turísticos da Europa, FSP

 LISBOA | REUTERS

A pandemia de Covid-19 conseguiu o que muitos prefeitos de toda a Europa tentam em vão: eliminar dezenas de milhares de locais de hospedagem pelo Airbnb dos centros das cidades e ajudar a baixar custos dos aluguéis dos moradores em até 15%.

Embora as cidades europeias acolham turistas há muito tempo, críticos dizem que o aumento de propriedades listadas no site de aluguéis de curto prazo Airbnb nos últimos anos afugentou muitos nativos de seus próprios mercados imobiliários, transformando bairros históricos em espaços sem alma.

Empresas de gerenciamento patrimonial e donos contatados pela agência de notícias Reuters em cidades como Lisboa, Barcelona, Praga e Veneza disseram que o colapso do turismo fez alguns anfitriões substituírem turistas por inquilinos de médio e longo prazos, mudarem-se para os imóveis ou desistirem das propriedades.

Colapso do turismo fez alguns anfitriões substituírem turistas por inquilinos de médio e longo prazos, mudarem-se para os imóveis ou desistirem das propriedades
c - Charles Platiau - 12.mar.2019/Reuters

Dados da empresa de análise de aluguéis de temporada AirDNA mostraram que o número de anúncios de Airbnb com ao menos uma noite reservada ou disponível no último mês nas 50 maiores cidades europeias caiu 21,9% em 2020 na comparação ano a ano.

O Airbnb diz que se adapta aos padrões de viagem em transformação e que as pessoas procuram cidades pequenas e grandes fora do circuito turístico. "Tivemos mais anúncios na França, Alemanha, Portugal, Espanha e República Tcheca combinados no final de 2020 do que no final de 2019", disse o porta-voz Andreu Castellano.

Embora alguns anfitriões de grandes destinos europeus planejem voltar ao Airbnb quando os turistas retornarem, outros deixaram o negócio dos aluguéis de temporada de vez.

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"Se o turismo tivesse voltado mais rápido, talvez eu não tivesse tomado esta decisão. Mas não posso passar mais um ano sem uma noção clara de quando o dinheiro vai entrar", disse Vanessa Rola, de 40 anos, que alugava quatro apartamentos no distrito lisboeta da Graça em plataformas de viagem como o Airbnb. Sem turistas, ela não conseguia pagar o próprio aluguel, e está encerrando os contratos.

Em Veneza, onde dados da AirDNA mostraram que os anúncios ano a ano da Airbnb e da rival Vrbo combinados caíram 67% em janeiro, ativistas dos moradores estão exortando o governo a aproveitar a oportunidade para ajudar os nativos –por exemplo, estabelecendo tetos para os dias de aluguel e convertendo espaços vazios em moradias de baixo custo.