sexta-feira, 1 de maio de 2020

OPINIÃO Expressa a opinião do autor do texto SÉRGIO NOBRE E MIGUEL TORRES Saúde, emprego e solidariedade, FSP


Sérgio NobreMiguel Torres
Pela primeira vez na história recente do Brasil e do mundo, os trabalhadores não poderão ir às ruas neste 1º de Maio, Dia do Trabalhador, data para celebrar conquistas e refletir sobre os desafios da classe trabalhadora. O planeta enfrenta a pandemia do novo coronavírus. Neste ano, as centrais sindicais do Brasil, unidas, irão fazer uma live sob o lema: “Saúde, Emprego e Renda – Um novo mundo é possível!”
Desde o anúncio do primeiro caso notificado no Brasil, as centrais sindicais e suas entidades filiadas trabalham de forma unitária, fazem propostas e denunciam às autoridades a situação precária dos trabalhadores nos serviços essenciais, em especial na saúde. Na contramão da ação das centrais está a letargia e a incompetência do governo federal para lidar com uma doença respiratória que já mostrara seu poder letal em todo o mundo.
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Festa do 1º de Maio na avenida Paulista, em São Paulo - Rivaldo Gomes - 1º.mai.18/Folhapress
O Brasil já perdeu milhares de vidas para o coronavírus, boa parte delas de trabalhadores em serviços essenciais ao funcionamento do país. Para trabalhar, profissionais dos ramos de saúde, comércio, transportes e limpeza, entre outros, têm sido obrigados a se expor ao contágio por falta de equipamentos de proteção individual, os EPIs. Sem esses homens e mulheres, o Brasil teria parado completamente nessa pandemia e, pior, mais casos e mortes teriam sido registrados.
O movimento sindical não se retraiu ante à impossibilidade de ter suas bases nas ruas. Ao contrário: reagiu, agiu, reivindicou. Formulou propostas, foi aos representantes das três esferas: Judiciário, Executivo e Legislativo. Agimos como protagonistas e apresentamos propostas viáveis para a sociedade e os poderes constituídos.
As centrais sindicais foram decisivas, por exemplo, para que o auxílio emergencial de R$ 600 fosse aprovado no Congresso Nacional. Vale lembrar: o governo queria parcos R$ 200. Propusemos e negociamos não apenas por aqueles que têm carteira assinada e contrato formal de trabalho, mas por todos os brasileiros em situação de vulnerabilidade, micro e pequenos empresários; enfim, pela população menos favorecida e vítima da desigualdade social que ainda assola o país. Montamos uma rede de solidariedade nacional que disponibilizou instalações dos sindicatos e coleta de donativos.
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Atuamos no Congresso Nacional para reagir e impedir as medidas do Palácio do Planalto contra os direitos dos trabalhadores. A pressão surtiu efeito contra medidas provisórias editadas para precarizar o trabalho e a vida dos trabalhadores, além de destruir a organização sindical. Vitórias essenciais para barrar a extensa lista de desserviços deste governo à classe trabalhadora.
O 1º de Maio torna-se, assim, um importante espaço para refletir sobre que Brasil emergirá dessa crise sanitária, econômica e política, o pós-pandemia. Sobre o país que queremos. Não podemos aceitar que a nação siga com uma participação industrial no PIB de 10,4% —setor que já representou mais de um terço na geração de riquezas da nação.
É urgente repensar e fortalecer a indústria nacional para recolocá-la no patamar de importância que já teve um dia na economia, para que o país possa emergir da pandemia, porque dentre todas as atividades econômicas é na indústria que está o maior potencial de desdobramento para outros setores e de geração de empregos.
A classe trabalhadora exige que o Brasil implemente uma política de desenvolvimento produtivo e tecnológico, alinhada com a promoção do desenvolvimento econômico e social e orientada para melhorar a qualidade de vida da população, dos aposentados, a acessibilidade das pessoas com deficiência, garantindo sustentabilidade alimentar, preservação do meio ambiente, energia limpa e também a solução dos problemas de transporte de massa nas médias e grandes cidades, os déficits na saúde e na habitação.
A classe trabalhadora quer uma democracia forte, a retomada da economia com desenvolvimento sustentável, com emprego e renda dignos para todos.
A luta é de todos. Viva o 1º de Maio!
Sérgio Nobre
Metalúrgico, é presidente nacional da CUT (Central Única dos Trabalhadores)
Miguel Torres
Presidente nacional da Força Sindical
TENDÊNCIAS / DEBATES

O outro lado da história, Ruy Castro, FSP

"Apropos of Nothing", autobiografia de Woody Allen, saiu em Nova York por uma pequena editora. Como pode um livro desses ser lançado por um selo modesto? Porque a Hachette, grupo editorial que o contratou originalmente, teve medo de publicá-lo. Nele, Allen finalmente se defende das acusações que lhe são feitas por sua ex-namorada Mia Farrow desde 1992, de ter estuprado uma filha adotiva de Mia e molestado outra, esta também adotada por ele.
A Hachette talvez quisesse um livro de humor —o que ele também é. Mas, ao ver que o autor dispôs-se a quebrar um silêncio de 28 anos, recusou-o, temendo boicotes à sua marca. E, afinal, desde quando um homem pode se defender? Para nós, não faz diferença. O livro saiu e, com isso, temos agora os dois lados da história.
A campanha de Mia para destruir Woody, por sua relação com Soon-Yi, órfã coreana adotada por ela e seu então marido Andre Previn, nunca foi adiante. Nem poderia. Soon-Yi não era uma menor indefesa e "retardada", como Mia a chamava, quando ela e Woody se descobriram. Era uma mulher de 21 anos, inteligente e de forte personalidade.
Meses depois, vendo-se derrotada, Mia acusou Woody de ter também molestado Dylan, filha adotiva de ambos e então com seis anos. Também em vão. Duas agências oficiais governamentais de defesa da infância absolveram Woody. Ginecologistas, médicos e psicanalistas que examinaram Dylan declararam-na intocada. Criadas, babás, amigas da família e até dois outros filhos adotivos de Mia atestaram a improbabilidade da acusação. E, para completar, Woody e Soon-Yi, juntos desde então, têm duas filhas adotivas --como a Justiça americana aceitou entregar duas crianças a um predador?


Os fatos inocentam Woody Allen. Mas nossa época prefere a versão, e esta já decretou que, não importam as provas em contrário, ele é culpado. Coerente até o fim, Woody dispensa a nossa absolvição.