"Apropos of Nothing", autobiografia de Woody Allen, saiu em Nova York por uma pequena editora. Como pode um livro desses ser lançado por um selo modesto? Porque a Hachette, grupo editorial que o contratou originalmente, teve medo de publicá-lo. Nele, Allen finalmente se defende das acusações que lhe são feitas por sua ex-namorada Mia Farrow desde 1992, de ter estuprado uma filha adotiva de Mia e molestado outra, esta também adotada por ele.
A Hachette talvez quisesse um livro de humor —o que ele também é. Mas, ao ver que o autor dispôs-se a quebrar um silêncio de 28 anos, recusou-o, temendo boicotes à sua marca. E, afinal, desde quando um homem pode se defender? Para nós, não faz diferença. O livro saiu e, com isso, temos agora os dois lados da história.
A campanha de Mia para destruir Woody, por sua relação com Soon-Yi, órfã coreana adotada por ela e seu então marido Andre Previn, nunca foi adiante. Nem poderia. Soon-Yi não era uma menor indefesa e "retardada", como Mia a chamava, quando ela e Woody se descobriram. Era uma mulher de 21 anos, inteligente e de forte personalidade.
Meses depois, vendo-se derrotada, Mia acusou Woody de ter também molestado Dylan, filha adotiva de ambos e então com seis anos. Também em vão. Duas agências oficiais governamentais de defesa da infância absolveram Woody. Ginecologistas, médicos e psicanalistas que examinaram Dylan declararam-na intocada. Criadas, babás, amigas da família e até dois outros filhos adotivos de Mia atestaram a improbabilidade da acusação. E, para completar, Woody e Soon-Yi, juntos desde então, têm duas filhas adotivas --como a Justiça americana aceitou entregar duas crianças a um predador?
Os fatos inocentam Woody Allen. Mas nossa época prefere a versão, e esta já decretou que, não importam as provas em contrário, ele é culpado. Coerente até o fim, Woody dispensa a nossa absolvição.
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