segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Morar em uma cápsula, opção barata para jovens que chegam a Los Angeles, OESP



Com melhor custo-benefício e espaços para produção artística, quartos com cápsulas-dormitórios de 3 metros quadrados são tendência na Califórnia






Javier Tovar, AFP
17 de novembro de 2019 | 11h00

Los Angeles
Kay Wilson na cápsula (pod) da UP(st)ART em Los Angeles Foto: Apu Gomes / AFP
LOS ANGELES - Kay Wilson embalou sua vida em questão de dias para se mudar para Los Angeles, a cidade dos seus sonhos. Mas o que ela pagava na Pensilvânia por um belo apartamento, na Califórnia só dá para ela dormir em um cubículo de menos de 3 metros quadrados. Seu "quarto" é uma cápsulainspirada na dos famosos hotéis do Japão.
Wilson, cabeleireira de 26 anos aspirante a atriz e cantora, chegou há um mês a UP(st)ART, uma comunidade aonde vão principalmente jovens com aspirações artísticas e que necessitam um lugar acessível para morar.
Em um quarto pode haver seis destas cápsulas-dormitórios - de 1,22 x 2,44 metros -, que Wilson qualifica de "acolhedoras". Têm uma cama individual, com uma grade para o ar, uma barra ao fundo para pendurar roupa e alguns compartimentos para guardar sapatos e outras peças.
A mensalidade não é tão econômica: são US$ 750 mais impostos, totalizando quase US$ 800, pouco mais do que Wilson pagava de aluguel em Bethlehem, cerca de 100 quilômetros ao norte da Filadélfia.
"Não poderia pagar uma quitinete para mim aqui", disse à AFP a jovem, que como cabeleireira ganha o mínimo de US$ 13 a hora, mais gorjetas. "Custam US$ 1.300 ou mais".

Mais barato. E sem sexo

Jeremiah Adler, fundador da UP(st)ART, explicou que o aluguel de cada uma das suas cápsulas custa aproximadamente a metade do preço de uma quitinete nesta cidade, capital do entretenimento e uma das mais caras dos Estados Unidos.
Não é que não haja opções mais baratas, mas a tarifa da UP(st)ART vem com elementos atrativos para estes jovens artistas: além de ser um edifício moderno localizado em uma boa região, oferece academia, aulas de dança, um estúdio de gravação, um ateliê, e inclui a limpeza e lavanderia grátis.

Los Angeles
Parte interna das cápsulas-dormitórios  Foto: Apu Gomes / AFP
O conceito é cada vez mais popular não só em Los Angeles, mas também em cidades como Nova York, a mais cara dos Estados Unidos.
Para Dana Cuff, arquiteta e professora da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA), esse tipo de comunidades é uma solução de curto prazo.
"Precisamos desenvolver um amplo leque de opções para os tipos de moradia disponíveis, e, para mim, co-habitação e moradia em cápsula são sintomas desta profunda necessidade de um leque muito maior de alternativas".
Adler administra oito residências com uma capacidade total de 374 pessoas. Entre as regras: mulheres e homens dormem separados e fazer sexo não é uma opção.

"Viver com o mínimo"

É noite de tacos e cerca de 50 pessoas estão socializando em uma das salas comuns do complexo de quatro casas. São rappers, dançarinos, escultores, atores... Alguns dos Estados Unidos, outros estrangeiros.

Los Angeles
Jovens artistas durante jantar na área comum da casa da UP(st)ART em Los Angeles Foto: Apu Gomes / AFP
Kimma Moonshine vive há um ano nesta comunidade e até agora não se sentiu incomodada com seus 90 companheiros de casa. "Você aprende a viver com o mínimo", disse à AFP a canadense, de 27 anos, pintora que, por enquanto, trabalha como babá. 
Ela conta que antes pagava menos, mas prefere a opção atual. "Tinha 12 colegas de apartamento e a única forma de trabalhar na minha arte era na mesa da cozinha à noite, quando todos estavam dormindo. Amo ter esse ateliê à disposição".
Alejandro Chupina, de 27 anos, saiu de casa ainda adolescente porque seus pais não apoiavam sua vocação de ator e músico, e chegou à UP(st)ART há oito meses atraído pelo estúdio de gravação. "Temos muitas comodidades... Acredito que pelo que estamos pagando, estamos recebendo mais", disse o jovem.

domingo, 17 de novembro de 2019

Governo acaba com o registro profissional de oito categorias, FSP

SÃO PAULO
governo Jair Bolsonaro (PSL) acabou com a necessidade de registro para oito categorias profissionais. 
O fim da obrigação consta na reforma trabalhista encaminhada à Câmara dos Deputados na mesma medida provisória que criou o programa Verde Amarelo de estímulo ao emprego. A dispensa já está em vigor.
A mudança afeta atuários, sociólogos, secretários, jornalistas, radialistas, publicitários, arquivistas e técnicos de arquivo. Para esses profissionais, o registro na autoridade trabalhista –que já foi o Ministério do Trabalho e hoje é a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia– não é mais necessário.
A dispensa do registro profissional foi feita por meio da revogação de artigos e parágrafos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) e de trechos das leis específicas que tratam de cada profissão.
Para Mihoko Kimura, sócia na área Trabalhista do TozziniFreire, a medida desburocratiza a atuação nesses setores. “Os cursos que formam esses profissionais continuam obrigatórios e ainda são avaliados pelo Ministério da Educação”, diz. 
Ela considera que o fim do registro profissional apenas acaba com uma obrigação que, na prática, poderia ser irrelevante. “A empresa, ao contratar, continua podendo identificar a experiência acadêmica e de trabalho para verificar se o profissional é qualificado. Alguém ter um carimbo não é garantia de qualificação de alto nível”, explica.
O advogado Fabio Medeiros, sócio-gestor da área trabalhista do escritório Lobo de Rizzo, considera que a medida revoga uma fiscalização prévia, por parte do governo, sobre o trabalho desses setores. 
Não é como se sentem alguns dos setores que se manifestaram sobre a decisão do governo.
O IBA (Instituto Brasileiro de Atuária) disse, em nota, que buscará, no decorrer da tramitação da medida provisória, manter a obrigatoriedade do registro profissional, por considerá-lo “relevante para a proteção das pessoas e organizações destinatárias de trabalhos atuariais.”
A Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas) afirmou, também por meio de nota, considerar as revogações inconstitucionais. Além do registro, a medida provisória também acabou com a obrigação de as empresas comunicarem o órgão fiscalizador quando houver a necessidade de aumentar a jornada de trabalho.
Para a Federação dos Radialistas do Brasil, a ausência do registro profissional precariza a profissão e dificulta a fiscalização.
Fabio Medeiros, do Lobo de Rizzo, considera a dispensa uma vantagem e uma redução da burocracia, especialmente para recém-formados. “Você tem que ir em um órgão que nem tem especialidade para fiscalizar cada uma dessas profissões.”
Além dessas profissões, a MP 905 também revogou integralmente duas leis. Uma delas desregulamentou a atuação de corretores de seguros. A outra acabou com uma lei inusitada, que tratava do “exercício da profissão de guardador e lavador autônomo de veículos automotores”, de 1975.
Para esse último, a advogada Mihoko Kimura considera que houve uma adequação à realidade. “A revogação vem para ajustar uma situação de fato.”
No caso dos corretores, Barbara Bassani, sócia na área Seguros e Resseguros do TozziniFreire, diz que, apesar de um certo protecionismo do setor, a revogação integral da lei deixou uma sensação de insegurança. “Essas pessoas [corretores em atuação hoje] passaram por uma formação, fizeram uma prova, se preparam para esse trabalho”, diz.
Ao mesmo tempo, ela acredita que ao menos inicialmente é improvável que uma seguradora comece a trabalhar com um corretor que esteja registrado pelo modelo anterior.
Estatísticos, portuários, químicos, bancários e professores também foram afetados pela medida provisória. Para os estatísticos, por exemplo, foi mantido o artigo da lei que prevê o registro do diploma.
No caso dos químicos, o Conselho Regional da 4ª Região, que atua em São Paulo, divulgou análise técnica na qual informa a categoria de que o registro está mantido e que as alterações não criam instabilidade ao setor.
Para os bancários, as mudanças alteraram a jornada de trabalho, que vai de seis para oito horas; somente os caixas mantiveram a redução. A lei que extinguia o trabalho aos sábados para esses setor também foi revogada, além do trecho da CLT que tratava do assunto.
No início da noite de sexta-feira (14), a presidente da Contraf-CUT (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro), Juvandia Moreira, informou que a categoria teria fechado acordo com os bancos, para "segurar" os efeitos da MP até que haja negociação. Procurada, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) ainda não respondeu.