Eu já disse a vocês várias vezes por que não devem acreditar em tudo o que sai da boca de um economista. Frequentemente é um erro do ponto de vista científico —ou ético, ou ambos. Ele apresenta seus erros com grande confiança e demonstra alta competência técnica.
A maioria dos economistas que fazem estudos estatísticos usa testes técnicos de "significância". Mas esses testes são conhecidos há um século como bobagens. A maioria dos economistas que lidam com inflação, desemprego e coisas assim acredita que o banco central dos EUA controla as taxas de juros.
Mas o Fed está num grande mundo de oferta e demanda por fundos, e o controle que ele supostamente tem é exercido por meio de um instrumento extremamente pequeno e fraco chamado taxa de fundos federal. A maioria dos economistas que lidam com mercados e indústrias acredita que a economia desenvolve monopólios importantes e externalidades e consumidores ignorantes e que, portanto, o Estado deve intervir. Mas essencialmente não há evidências disso e das soluções estatais.
O que o leitor deve fazer? Ah, escute-me.
O que sai da boca de um não economista geralmente está mais errado em termos científicos ou éticos. Donald Trump, como muitas pessoas, de esquerda ou de direita, acredita que entende a economia melhor que os economistas. Por exemplo: ele acredita que o comércio é uma questão de poder e que o lado que vender mais é o vencedor. Portanto, vê o comércio como um instrumento de coerção que países poderosos podem usar contra os menos poderosos.
Trump impôs uma tarifa de "emergência" de 25% sobre as importações do México para coagir o governo mexicano a impedir uma inundação imaginária de imigrantes nos EUA. O México é o segundo maior parceiro comercial dos EUA. Trump quer que o Canadá se torne um estado dos EUA. Talvez não saiba que os EUA tentaram isso em 1812, e que, de todo modo, os canadenses não querem ser estadunidenses. Por alguma razão, ele não propôs que o México também se torne um estado. Pode-se perguntar por quê.
A maioria dos economistas sabe que o comércio entre você e Pedro, ou entre Brasil e EUA, beneficia ambos os lados. Sim, alguns economistas de esquerda, e muitos dos marxistas ou companheiros de viagem em departamentos de economia no Brasil, ainda aderem à linha do argentino Raul Prebisch (1901-1986). Ele argumentou que países em desenvolvimento precisam ter cuidado para não cair na "dependência" de acordos comerciais ruins com países ricos e industrializados. Mas nem mesmo seus seguidores negam que o comércio pode ser bom.
Eles dizem que às vezes as importações são "supérfluas" para a industrialização que o Estado deve incentivar. Mas não adotam a visão mercantilista seguida por Trump e pela maioria dos não economistas de que exportar é o que há de bom no comércio.
Eles não afirmam que todas as importações são ruins, ou que o comércio é só um exercício de poder de um único homem. Dizem que às vezes é um resultado triste, mas não intencional, das "estruturas".
O que fazer? Ah, escute um economista. Qual? Adivinhe.
Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves
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