Na semana passada, Gilberto Kassab (PSD-SP) se distanciou do governo Lula. Em um desses eventos de rico, disse que Lula não é favorito na próxima eleição presidencial e que Fernando Haddad é um ministro fraco.
Não seria nada de mais, não fosse por dois motivos.
Em primeiro lugar, Lula está prestes a oferecer ao PSD, partido de Kassab, ministérios importantes. Ainda não sabemos quais, mas não deve ser coisa pequena. A esperança de Lula é usar a reforma ministerial para fechar alianças para 2026. Se Kassab já estiver fechando com o outro lado, a reforma ministerial já começará meio esquisita.
Em segundo lugar, Kassab tem fama de bússola que sempre aponta para o lado vencedor. Se largar Lula, pode ser sinal de fraqueza do petista.
Kassab também pode estar se aventurando em um jogo que nunca jogou.
Cria da direita paulista, Kassab montou o PSD em um momento em que o governo do PT queria um partido de centro mais disposto a conversar. Só traiu Dilma nos últimos dias antes da votação do impeachment e já saiu dali ministro do Temer. Emplacou gente no governo Bolsonaro e no governo Lula. Como secretário de Governo de Tarcísio, conseguiu atrair para o PSD a rede de máquinas políticas municipais que elegeu o PSDB em São Paulo por mais de 20 anos. No momento, seu PSD é o maior partido do Brasil.
Gilberto Kassab é, sem dúvida, extraordinariamente hábil. Mas parte de sua reputação é originária do tipo de política que Kassab fez a vida inteira: o adesismo.
Seu partido está em todas as presidências porque nunca se preocupou em eleger presidente. O PSD seguiu os passos do PMDB, que deixava PT e PSDB se matarem na presidencial e depois vendia apoio a quem vencesse. No presidencialismo de coalizão brasileiro, é uma das especializações possíveis.
A outra é eleger o presidente. As recompensas são maiores na vitória, mas a derrota significa sofrer na oposição, sem acesso a verbas ou cargos. Para isso é necessária uma certa dose de ideologia.
Kassab se distanciou de Lula porque sonha em ser o "kingmaker" que fará de Tarcísio de Freitas presidente da República. Se Kassab e seu PSD assumirem protagonismo na eleição presidencial, terão mudado de especialidade
Saberão fazer isso? O PMDB, por exemplo, nunca conseguiu.
O PSD sabe ser o partido que vai levar a culpa se os preços subirem? Como o resto do centrão, sua especialidade até hoje foi gastar dinheiro e deixar para o presidente a culpa pelo aumento de preços resultante.
Tarcísio, como Caiado, já declarou que não está satisfeito com os bilhões e bilhões que, nos últimos dez anos, saíram do controle da Presidência e passaram a ser gastos com emendas parlamentares. É óbvio: quer ter o poder que Lula tinha em 2003, não o que Lula tem agora.
Kassab topa comprar essa briga com seus companheiros de centrão?
E o que Kassab pretende fazer com os amigos golpistas de Tarcísio? Nikolas Ferreira já fez vídeo dizendo que o PSD é um inimigo tão perigoso quanto o PT. O sonho da família Bolsonaro é tirar Kassab do governo Tarcísio.
Enfim, se Kassab e sua turma conseguirem mudar de especialidade dentro do presidencialismo de coalizão brasileiro, terão sido os primeiros a fazê-lo. Se ninguém fez até hoje, não deve ser fácil.
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