segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Celso Rocha de Barros - E agora, Kassab?, FSP

 Na semana passada, Gilberto Kassab (PSD-SP) se distanciou do governo Lula. Em um desses eventos de rico, disse que Lula não é favorito na próxima eleição presidencial e que Fernando Haddad é um ministro fraco.

Não seria nada de mais, não fosse por dois motivos.

A imagem mostra um homem em destaque, segurando um microfone enquanto aparenta estar em um evento formal. Ele está vestindo um terno azul e gravata clara. Ao fundo, há uma iluminação azulada que parece incluir algumas estrelas ou elementos desfocados.
Gilberto Kassab, presidente do PSD, em homenagem da embaixada da União Europeia no Brasil ao movimento das Diretas Já e à Folha - Bruno Santos - 9.mai.24/Folhapress

Em primeiro lugar, Lula está prestes a oferecer ao PSD, partido de Kassab, ministérios importantes. Ainda não sabemos quais, mas não deve ser coisa pequena. A esperança de Lula é usar a reforma ministerial para fechar alianças para 2026. Se Kassab já estiver fechando com o outro lado, a reforma ministerial já começará meio esquisita.

Em segundo lugar, Kassab tem fama de bússola que sempre aponta para o lado vencedor. Se largar Lula, pode ser sinal de fraqueza do petista.

Kassab também pode estar se aventurando em um jogo que nunca jogou.

Cria da direita paulista, Kassab montou o PSD em um momento em que o governo do PT queria um partido de centro mais disposto a conversar. Só traiu Dilma nos últimos dias antes da votação do impeachment e já saiu dali ministro do Temer. Emplacou gente no governo Bolsonaro e no governo Lula. Como secretário de Governo de Tarcísio, conseguiu atrair para o PSD a rede de máquinas políticas municipais que elegeu o PSDB em São Paulo por mais de 20 anos. No momento, seu PSD é o maior partido do Brasil.

Gilberto Kassab é, sem dúvida, extraordinariamente hábil. Mas parte de sua reputação é originária do tipo de política que Kassab fez a vida inteira: o adesismo.

Seu partido está em todas as presidências porque nunca se preocupou em eleger presidente. O PSD seguiu os passos do PMDB, que deixava PT e PSDB se matarem na presidencial e depois vendia apoio a quem vencesse. No presidencialismo de coalizão brasileiro, é uma das especializações possíveis.

A outra é eleger o presidente. As recompensas são maiores na vitória, mas a derrota significa sofrer na oposição, sem acesso a verbas ou cargos. Para isso é necessária uma certa dose de ideologia.

Kassab se distanciou de Lula porque sonha em ser o "kingmaker" que fará de Tarcísio de Freitas presidente da República. Se Kassab e seu PSD assumirem protagonismo na eleição presidencial, terão mudado de especialidade

Saberão fazer isso? O PMDB, por exemplo, nunca conseguiu.

O PSD sabe ser o partido que vai levar a culpa se os preços subirem? Como o resto do centrão, sua especialidade até hoje foi gastar dinheiro e deixar para o presidente a culpa pelo aumento de preços resultante.

Tarcísio, como Caiado, já declarou que não está satisfeito com os bilhões e bilhões que, nos últimos dez anos, saíram do controle da Presidência e passaram a ser gastos com emendas parlamentares. É óbvio: quer ter o poder que Lula tinha em 2003, não o que Lula tem agora.

Kassab topa comprar essa briga com seus companheiros de centrão?

E o que Kassab pretende fazer com os amigos golpistas de Tarcísio? Nikolas Ferreira já fez vídeo dizendo que o PSD é um inimigo tão perigoso quanto o PT. O sonho da família Bolsonaro é tirar Kassab do governo Tarcísio.

Enfim, se Kassab e sua turma conseguirem mudar de especialidade dentro do presidencialismo de coalizão brasileiro, terão sido os primeiros a fazê-lo. Se ninguém fez até hoje, não deve ser fácil.

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