domingo, 9 de junho de 2019

O Judiciário está vitimizando Lula, ELio Gaspari,, FSP

O bom futebol, assim como a Justiça, não precisa de gols marcados com a mão ou com a ajuda de Deus

Uma banda do PT acreditava que a campanha Lula Livre mobilizaria multidões. Isso não aconteceu e a libertação de "Nosso Guia" depende do Judiciário. Só os magistrados sabem como lidarão com o reconhecimento, pelo Ministério Público, de que ele tem direito ao regime semiaberto. A onipotência da toga está construindo o pedestal da vitimização do ex-presidente.
Deixando-se de lado questões como a propriedade do apartamento de Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia (SP), a cegueira da Justiça varreu para baixo do tapete pelo menos quatro casos em que os juízes, como Maradona, recorreram à "mão de Deus" para ajeitar a bola.
O repórter Wálter Nunes revelou que em 2016 o juiz Sergio Moro mandou interceptar os telefones do escritório dos advogados de Lula e disso resultaram relatórios sobre pelo menos 14 horas de conversas.
Gravar advogados é crime. Moro justificou-se informando que não sabia que o número grampeado era dos advogados, pois supunha que fosse de uma empresa de palestras. Vá lá, mas a Polícia Federal diz que o grampo foi colocado porque suspeitava-se de um dos advogados do escritório, talvez metido com crimes. As duas versões não batem.
Um ano antes, Moro divulgou impropriamente o grampo de uma conversa de Lula com a então presidente Dilma Rousseff. Sua conduta foi condenada pelo ministro Teori Zavascki, do STF, e ele justificou-se com um pedido de "escusas". Acrescentou que "jamais foi a intenção desse julgador (...) provocar polêmicas, conflitos ou provocar constrangimentos". Acreditou quem quis. 
 
No ano passado, no fragor da campanha eleitoral, Moro divulgou um anexo de conteúdo inconclusivo e jamais investigado da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal.
A esses momentos em que a "mão de Deus" ajudou Moro, some-se a sentença na qual a juíza Gabriela Hardt condenou Lula no caso do sítio de Atibaia copiando e colando um texto que se referia a um "apartamento". A doutora justificou-se dizendo que a prática é comum. Pode ser, mas quem copia e cola um texto alheio fica na obrigação de lê-lo antes de assiná-lo. Isso ela não fez.
Sempre haverá quem diga que esses cacos são detalhes menos relevantes diante do tamanho do serviço que a Lava Jato prestou ao país. Afinal, minutos depois de marcar 1x0 contra a Inglaterra, Maradona fez um dos maiores gols da história do futebol, atravessando todo o campo dos ingleses. Mesmo assim, o bom futebol não precisa de gols marcados com a mão nem com a ajuda de Deus.
Raquel cacifou-se
Da condição de vetada por Bolsonaro, Raquel Dodge passou a ser a favorita na disputa pela Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público estilhaçou-se de tal forma que Dodge transformou-se num poderoso mínimo múltiplo comum.
Moro na fritura
O ministro Sergio Moro está na frigideira. 
Entrou nela porque:
Bolsonaro acredita que ele é candidato a presidente.
O ministro acha que sua esperteza é tamanha que pode ser contra e a favor de medidas apresentadas pelo Planalto.
Aparece onde não deve (em Lisboa) e não aparece onde deve (nas bolas divididas de Brasília).
Esses motivos podem parecer insuficientes, mas uma cena demonstra que ele está fora da fotografia.
Quem se lembra do café da manhã de Bolsonaro com os presidente da Câmara, do Senado e do Supremo sabe que à mesa estavam sucos, pães e os ministros da Casa Civil, da Fazenda e da Segurança Institucional. O ministro da Justiça não estava na mesa. 
Ele ficou fora de todas as conversas sobre esse pacto em torno de sabe-se lá o quê.
É provável que Moro seja mandado para o Supremo. A questão é saber se ele fica (ou aguenta ficar) no ministério até novembro do ano que vem, quando surgirá a primeira vaga.
Mistério
Os sábios dos partidos que se armam para a eleição municipal tentam responder a uma pergunta:
Depois da maré de "votos-contra" de 2018, quem vai prevalecer?
A turma do tiro "na cabecinha", tipo Wilson Witzel (Harvard Fake '15).
Ou a turma do governador mineiro Romeu Zema, do Partido Novo.
PT tonto
O comissariado petista está embrulhado nas disputas internas.
Só se poderá dizer que esse clima melhorou quando Fernando Haddad e Gleisi Hoffmann nadarem na mesma direção.
Coisa de rico
Não se vê coisa igual desde 2011, quando a coleção de joias da atriz Elizabeth Taylor foi a leilão. No dia 19 a casa Christie's venderá cerca de 400 peças da nobreza indiana e de seus grandes marajás. Nesta semana a coleção poderá ser visitada em Nova York, mostrando um tempo que não volta mais. 
Lá estão a esplêndida gargantilha de rubis e diamantes que o joalheiro Cartier fez em 1931 para o marajá de Patiala, um fauno que teve 350 concubinas e 20 Rolls Royces. 
E também o broche de diamantes e safiras com forma de pavão que o marajá de Kapurtala deu de presente a sua mulher, uma dançarina de flamenco que conheceu em Madri. Eles se separaram quando ela namorou o enteado. 
Irão ao martelo uma adaga de Shah Jahan, o imperador que construiu o Taj Mahal em memória de sua mulher, e dois magníficos diamantes, o Arcot II, que pertenceu à rainha inglesa Charlotte, e o Espelho do Paraíso.
São peças de um mundo que acabou, revivido graças à internet.
Segunda instância
A Câmara poderá votar ainda este ano a manutenção da prisão para os condenados em segunda instância.
Seriam criadas algumas válvulas. Uma delas seria a possibilidade de apreciação de recursos cautelares pelo Superior Tribunal de Justiça.
Inimigos de Neymar
Ainda não se sabe exatamente o que rolou entre Neymar e sua amiga Najila. Sabe-se, contudo, que com semelhante time de amigos o jogador arruina-se.
Seu pai resolveu arrancar a câmera das mãos do fotógrafo Ueslei Marcelino, que registrava o seu embarque, na pista do aeroporto de Brasília.
O advogado José Edgard da Cunha Bueno Filho, que inicialmente atendia Najila, deu entrevistas, desmentindo informações de sua ex-cliente. Advogado não revela essas conversas. 
Evaristo de Moraes deixou um caso quando viu que seu cliente estava mentindo, mas nunca falou. Antonio Claudio Mariz de Oliveira discordou da conduta de Paulo César Farias, o PC, caixa de Fernando Collor, deixou o caso e nunca revelou o que ouviu dele.
Metendo-se em casa de marimbondo, o advogado viu-se acusado pelo pai de Neymar de montar uma conversa para pedir um "cala boca" para sua cliente. Bem feito.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e encantou-se com o ministro Abraham Weintraub, porque ele defendeu "um ensino superior baseado fortemente na iniciativa privada e livre".
O cretino está convencido de que ele fará isso expondo à sociedade a farra dos governos petistas e dos maganos das universidades privadas que fizeram a festa do Fies. Ela resultou num rombo de R$ 32 bilhões nas contas públicas e, nas palavras do ministro, na "tragédia" de sujar o crédito de 500 mil jovens.
Elio Gaspari
Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles "A Ditadura Encurralada".

Janio de Freitas Tabela bolsonara, Janio de Freitas, FSP

Câmara e Senado forçaram o governo a mostrar sua índole verdadeira

O fim do compra-e-vende entre a Presidência e congressistas, mais do que chegar ao fim como promessa, o faz sem a menor consideração com os ex-presidentes Sarney, Collor, Fernando Henrique, Lula e Dilma.
Os R$ 20 milhões para cada deputado e cada senador, acenados pelo governo Bolsonaro em troca de aprovações no Congresso, compõem uma soma humilhante para os antecessores e sem precedentes na corrupção política por governos: R$ 11.800.000.000,00.
Câmara e Senado forçaram o governo, mesmo sem planejar fazê-lo, a mostrar sua índole verdadeira na concepção de política. As reprovações e aprovações de projetos e medidas provisórias têm sido por critérios que independem das pressões do governo. Se é apenas temporário não se sabe, em meio à incerteza generalizada, mas o Congresso está com cara de Congresso.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) - Lucio Tavora/Xinhua
​Bolsonaro, por sua vez, quer a imagem de Collor. Arrancada de Batman em jet-ski, ida a pé ao Congresso, outra ida para entregar o besteirol sobre trânsito, encontro com Neymar para abraçá-lo pelo mais caro vexame: todos os dias, uma demonstração do vazio de suas horas de trabalho e decisão. É a imitação do exibicionismo vulgar de Collor, como meio de deter a ruína no conceito tanto dos aliados ideológicos, como dos apoiadores por ignorância.
Para trabalhar a imagem, porém, em princípio Bolsonaro dispõe de mais tempo do que para outras possibilidades de desastre.
Além da recusa a mais uma tentativa de Flávio Bolsonaro contra as investigações que o afligem, cresceram em número e gravidade as suspeitas e evidências que o circundam. No mesmo sentido, ressurge o tema dos negócios que questionam Paulo Guedes.
Trata-se dos sobrepreços em aquisições por ele conduzidas como gestor, com empresa sua, de investimentos dos fundos de Previdência de funcionários da Caixa, Banco do Brasil, Correios e Petrobras.
Há coisas assombrosas mesmo, para somar R$ 385 milhões pagos a mais, com dinheiro dos fundos. E explicações, quando existiram, que invadem o infantilismo. O Ministério Público do Rio e, no caso de Guedes, o Federal estão merecendo atenções que ainda não lhes foram dadas. Os R$ 385 milhões correspondem a uns 120 apartamentos como o da condenação de Lula.

IN-JUSTIÇA

A redução de empregos nos meios de comunicação poderia dispensar juízes de se tornarem, também eles e por maus motivos, contrários ao exercício do jornalismo. Ocorre agora mais um exemplo dispensável.
Na dívida bilionária que pôs em coma a Editora Abril, inclui-se uma condenação proveniente de reportagem na Veja em 2001.
A editora reconheceu, conforme convenção de que é signatária, a responsabilidade pela indenização a pagar, que de início visava também ao repórter. O pagamento não foi incluído nas dívidas relacionadas para a recuperação judicial porque a editora ficou de quitá-la. Não o fez.
O processante reagiu com o pedido de que a dívida fosse cobrada à outra parte acusada, o repórter. E foi atendido em nova decisão judicial. O repórter é que deveria pagar dívida reconhecida pela e da empresa.
O comprador ficou de pagar pela editora, que já dirige, e até agora não o fez. O repórter está com a conta bancária bloqueada, e sob risco iminente de uma ordem judicial destrutiva: o valor original de R$ 150 mil é hoje de R$ 750 mil, e lhe faltam meios para pagá-lo. Mas o absurdo dessa questão que se estende há 18 anos vai além do problema humano e financeiro.
O lado interno da imprensa não é alcançável pelas vistas externas. Nem sempre, por exemplo, o repórter que assina um texto é o responsável, ou único responsável, pelo que chega ao leitor. É comum que o original receba alterações, seja por motivos formais ou por seu sentido.
Além disso, todas as decisões sobre o que e como será apresentado escapam aos repórteres: são dos editores. No caso, para exemplificar, um dos motivos do processo foi o uso, não permitido, de fotos de menores. O repórter, muitas vezes, só constata coisas assim, como também títulos e eventuais resumos, ao depará-las já no jornal ou na tela.
André Rizek é íntegro, competente, há anos na Sportv, sempre capaz de dizer respeitosamente o que deve ser dito e muitos nunca diriam. A prevalecerem decisões como essa que o atinge, as consequências começarão assim: é preferível nada assinar, dispensando-se o rigor e a dedicação que o anonimato não exige. Perdem os repórteres, as publicações e os leitores. Daí para pior.
Janio de Freitas
Jornalista