quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Absurdos na educação mostram que ignorância não tem ideologia, FSP

Agenda do governo Bolsonaro tangencia obscurantismo e revisionismo barato

Ricardo Vélez Rodríguez durante a cerimônia em que tomou posse como ministro da Educação
Ricardo Vélez Rodríguez durante a cerimônia em que tomou posse como ministro da Educação - Eduardo Anizelli/Folhapress
O disparatado edital de livros didáticos que permitia a compra de obras com erros e sem referências bibliográficas mostra como a educação é um setor vulnerável aos cavalos de pau da política. Basta uma canetada para acrescentar anos de atraso ao ensino no país.
Em 2 de janeiro, o Ministério da Educação sumiu com itens que proibiam publicidade e mencionavam a violência contra mulheres no material didático. Também desapareceram exigências de que os livros estivessem livres de erros de revisão e contivessem a origem da informação.
O ministro Ricardo Vélez Rodríguez diz que o edital foi alterado no governo Michel Temer, em 28 de dezembro, mas o ex-ministro Rossieli Soares afirma que as mudanças nunca foram discutidas em sua gestão.
Os dois fizeram reuniões de transição por quase 30 dias. Se essa medida absurda não foi discutida no período, há algo errado com as prioridades da política educacional.
Acabar com referências bibliográficas e flexibilizar a revisão de erros não têm justificativa plausível. A proposta afronta a ciência e abre as portas para inundar livros didáticos com teses do submundo.
Jair Bolsonaro declarou que a mudança é responsabilidade de Temer e que corrigiria o erro. Tomou iniciativa após a Folha noticiar o fato.
As regras insensatas se encaixam na agenda do bolsonarismo, que prioriza a guerra a um inexistente “marxismo cultural” e tangencia o obscurantismo. A equipe do ministério é formada por auxiliares sem experiência, que patrocinam um revisionismo histórico e científico barato.
A qualidade da educação continuará presa ao passado enquanto gestores quiserem empunhar a lança dessa guerra política improdutiva.

Gleisi Hoffmann anunciou que vai à posse de Nicolás Maduro por solidariedade ao povo do país e em resposta a Bolsonaro. O PT serviria melhor a oposição se abrisse os olhos para abusos antidemocráticos e desmandos do governo venezuelano.
Bruno Boghossian
Jornalista, foi repórter da Sucursal de Brasília. É mestre em ciência política pela Universidade Columbia (EUA).

Presidente da Apex é demitido, e governo Bolsonaro tem primeira queda, FSP

Agência ligada ao Itamaraty tem como função buscar investimentos estrangeiros para o Brasil

O ex-presidente da Apex, Alecxandro Carreiro
O ex-presidente da Apex, Alecxandro Carreiro - Apex/Divulgação
    Thais Bilenky
    BRASÍLIA
    Sete dias depois de nomeado presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil), Alecxandro Carreiro foi demitido, nesta quarta-feira (9), na primeira queda do governo Bolsonaro.
    O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciou sua saída e a indicação ao presidente Jair Bolsonaro do embaixador Mario Vilalva para substituí-lo. Vilalva possui "ampla experiência em promoção de exportações", justificou Araújo nas redes sociais.
    O chanceler afirmou que a saída foi a pedido de Carreiro. Nos bastidores da Apex, no entanto, há alguns dias já se comentava a instabilidade do presidente.
    De acordo com relatos internos, Carreiro vinha demitindo sumariamente antigos funcionários para nomear aliados, sem fazer qualquer transição.
    Como entre os desligados havia servidores técnicos, instalou-se um clima de caça às bruxas que Araújo quer evitar. Entre as pessoas demitidas está Ana Seleme, mulher de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do ex-presidente Michel Temer.
    Pelo menos dois diplomatas foram demitidos de gerências da Apex, afastando-a do Itamaraty.
    Carreiro preparava mais uma leva de demissões ainda nesta semana, segundo pessoas da agência.
    Araújo foi informado da situação, motivo de desconforto interno, e pediu moderação. Carreiro, no entanto, manteve o método. O chanceler se irritou e pediu que renunciasse.
    Araújo justificou a decisão pela necessidade de manter a Apex com quadro técnico e uma direção de perfil moderado.
    Além da questão política, o agora ex-presidente da Apex não é fluente em inglês, requisito da função previsto no estatuto da agência.
    Nascido em Poranga (CE), Carreiro é formado em publicidade e pós-graduado em gestão pública. Ele teve passagens pela Secretaria Nacional de Portos, pela Comissão Nacional de Autoridades nos Portos e pelo Sebrae. ​
    Os dois diretores nomeados da Apex permanecem —são indicações de Araújo, não de Carreiro. Na diretoria de gestão corporativa, assume o advogado Márcio Coimbra, ex-assessor parlamentar e estrategista político no Senado.
    Na diretoria de negócios, entrará a empresária Letícia Catelani, que é próxima de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e teve papel atuante na campanha eleitoral. Ela chegou a ser da diretoria do PSL em São Paulo, mas saiu, depois de um confronto com o então presidente interino do partido, Gustavo Bebbiano.
    Indicado para a presidência da Apex, Vilalva está no Itamaraty desde 1976. Já serviu em diversos postos no exterior e se especializou na chamada diplomacia econômica. 
    Vilalva foi embaixador no Chile (2006-2010) e em Portugal (2010-2016). Em 2016, assumiu o cargo de embaixador na Alemanha. 
    A Apex era parte do antigo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) e passou a ser vinculada ao Itamaraty na gestão do chanceler José Serra e lá se manteve, a pedido do novo chanceler Ernesto Araújo.
    No alto escalão do Itamaraty, há preocupação de que o novo Ministério da Economia possa engolir parte das atribuições dos diplomatas em negociações comerciais.
    A MP da reforma ministerial, assinada em 1º de janeiro. deu ao superministério de Paulo Guedes a competência sobre “negociações econômicas e financeiras com governos, organismos multilaterais e agências governamentais”.
    Pela legislação anterior, de 2013, a antiga pasta da Fazenda tinha como atribuição apenas “participar das discussões e negociações econômicas e financeiras com outros países e em fóruns”.