quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Presidente da Apex é demitido, e governo Bolsonaro tem primeira queda, FSP

Agência ligada ao Itamaraty tem como função buscar investimentos estrangeiros para o Brasil

O ex-presidente da Apex, Alecxandro Carreiro
O ex-presidente da Apex, Alecxandro Carreiro - Apex/Divulgação
    Thais Bilenky
    BRASÍLIA
    Sete dias depois de nomeado presidente da Apex (Agência de Promoção de Exportações do Brasil), Alecxandro Carreiro foi demitido, nesta quarta-feira (9), na primeira queda do governo Bolsonaro.
    O ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, anunciou sua saída e a indicação ao presidente Jair Bolsonaro do embaixador Mario Vilalva para substituí-lo. Vilalva possui "ampla experiência em promoção de exportações", justificou Araújo nas redes sociais.
    O chanceler afirmou que a saída foi a pedido de Carreiro. Nos bastidores da Apex, no entanto, há alguns dias já se comentava a instabilidade do presidente.
    De acordo com relatos internos, Carreiro vinha demitindo sumariamente antigos funcionários para nomear aliados, sem fazer qualquer transição.
    Como entre os desligados havia servidores técnicos, instalou-se um clima de caça às bruxas que Araújo quer evitar. Entre as pessoas demitidas está Ana Seleme, mulher de Rodrigo Rocha Loures, ex-assessor do ex-presidente Michel Temer.
    Pelo menos dois diplomatas foram demitidos de gerências da Apex, afastando-a do Itamaraty.
    Carreiro preparava mais uma leva de demissões ainda nesta semana, segundo pessoas da agência.
    Araújo foi informado da situação, motivo de desconforto interno, e pediu moderação. Carreiro, no entanto, manteve o método. O chanceler se irritou e pediu que renunciasse.
    Araújo justificou a decisão pela necessidade de manter a Apex com quadro técnico e uma direção de perfil moderado.
    Além da questão política, o agora ex-presidente da Apex não é fluente em inglês, requisito da função previsto no estatuto da agência.
    Nascido em Poranga (CE), Carreiro é formado em publicidade e pós-graduado em gestão pública. Ele teve passagens pela Secretaria Nacional de Portos, pela Comissão Nacional de Autoridades nos Portos e pelo Sebrae. ​
    Os dois diretores nomeados da Apex permanecem —são indicações de Araújo, não de Carreiro. Na diretoria de gestão corporativa, assume o advogado Márcio Coimbra, ex-assessor parlamentar e estrategista político no Senado.
    Na diretoria de negócios, entrará a empresária Letícia Catelani, que é próxima de Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, e teve papel atuante na campanha eleitoral. Ela chegou a ser da diretoria do PSL em São Paulo, mas saiu, depois de um confronto com o então presidente interino do partido, Gustavo Bebbiano.
    Indicado para a presidência da Apex, Vilalva está no Itamaraty desde 1976. Já serviu em diversos postos no exterior e se especializou na chamada diplomacia econômica. 
    Vilalva foi embaixador no Chile (2006-2010) e em Portugal (2010-2016). Em 2016, assumiu o cargo de embaixador na Alemanha. 
    A Apex era parte do antigo Ministério do Desenvolvimento (Mdic) e passou a ser vinculada ao Itamaraty na gestão do chanceler José Serra e lá se manteve, a pedido do novo chanceler Ernesto Araújo.
    No alto escalão do Itamaraty, há preocupação de que o novo Ministério da Economia possa engolir parte das atribuições dos diplomatas em negociações comerciais.
    A MP da reforma ministerial, assinada em 1º de janeiro. deu ao superministério de Paulo Guedes a competência sobre “negociações econômicas e financeiras com governos, organismos multilaterais e agências governamentais”.
    Pela legislação anterior, de 2013, a antiga pasta da Fazenda tinha como atribuição apenas “participar das discussões e negociações econômicas e financeiras com outros países e em fóruns”.

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