s prejuízos da greve dos caminhoneiros são incomensuráveis, como se viu. Se ao menos servissem para dar mais consciência ao brasileiro de que subsídios generalizados são uma peste já teria sido bom preço a pagar.
Caminhoneiro adorou quando o governo Dilma deu incentivos tributários e creditícios para a compra de caminhões. Graças a mais esse pacote de bondades, de 2009 até agora a frota cresceu 40%, enquanto a economia avançou apenas 11%. O frete despencou porque teve mais caminhão do que carga a transportar. Os irmãos de estrada não aguentaram o tranco, puseram o governo Temer de joelhos e, agora, boa parte dessa conta é empurrada para o contribuinte.
Essa foi apenas uma entre inúmeras distorções que se criaram na economia brasileira nos dois últimos governos. A exigência de que a Petrobrás pagasse boa parte da fatura do consumidor de combustíveis, também ao longo do governo Dilma, foi outra dessas distorções que ajudaram a afundar o caixa da empresa e a destruir patrimônio público que, aliás, já vinha sendo dilapidado pela corrupção, como mostraram o mensalão e o petrolão.
Os caminhoneiros acham natural exigir que os preços do diesel sejam subsidiados e previsíveis com meses de antecedência, embora seu custo seja determinado pelos preços internacionais do petróleo em dólares, que também oscilam diariamente. Querem porque querem que a conta seja empurrada para a frente. E nisso, não estão sozinhos. O limitado governador de São Paulo da hora, Márcio França, também pensa assim.
Os empresários também gostaram quando o governo Dilma passou a desonerar as folhas de pagamentos. A proposta era de que mais investimentos fossem realizados e mais empregos fossem criados. O resultado foi nenhum investimento adicional, nenhum outro emprego e novo rombo no Tesouro, que teve de enfrentar uma renúncia tributária de R$ 85,7 bilhões entre 2012 e 2017. Agora, boa parte das desonerações foi revertida por decretos do presidente Temer publicados nesta quinta-feira para pagar parte das concessões aos caminhoneiros. Ou seja, tenta-se corrigir uma distorção com a reversão de outra. Assim, a distorção continua.
Os empresários também adoraram quando o governo Dilma repassou meio bilhão de reais do Tesouro para o BNDES para que este financiasse com créditos subsidiados o desenvolvimento das empresas destinadas a serem campeões nacionais. Boa parte delas fez lambança com esses recursos, algumas delas quebraram como o grupo de Eike Batista e, como parte da equação, a dívida bruta vai para 80% do PIB.
Não há nada de especialmente errado nem com subsídios nem com isenções tributárias. Podem fazer parte de qualquer política saudável, desde que sejam transparentes e garantidos por receitas orçamentárias.
O problema de fundo é mais do que sabido, embora não reconhecido pelos beneficiários das benesses. Grupos econômicos, corporações, entidades de classe e até igrejas particulares conseguem empurrar para a sociedade suas contas de consumo. Para isso, querem um Estado perdulário para eles próprios e que o contribuinte assuma a conta. Além de que não há o que chegue, a distorção final é uma sucessão de governos fracos.
Confira
O risco Brasil
O gráfico acima é indicação da percepção internacional sobre o aumento do risco da economia brasileira. O CDS 5 (Credit Default Swap de 5 anos) é o adicional cobrado no mercado global sobre os juros pagos pelos títulos do Tesouro do Brasil (de 5 anos). Esse adicional serve de seguro contra risco de calote no resgate desse título. A trajetória do gráfico mostra como o aumento das incertezas tanto na economia como na política do Brasil produziu a deterioração da qualidade da dívida do País.