Leandro Colon
BRASÍLIA
A saída de Pedro Parente atingiu de forma negativa as ações da Petrobras, mas a principal consequência de sua queda é óbvia: o enfraquecimento político ainda maior de um governo em processo de derretimento público.
Pressionado por grevistas nas estradas e aliados e adversários políticos no Congresso, Temer não bancou com firmeza a política de preços implementada por Parente e que levou a reajustes sucessivos dos combustíveis.
Temer e seus ministros foram ambíguos na defesa de quem foi escolhido há dois anos para resgatar a empresa do buraco em que se enfiou com os escândalos da Lava Jato.
Parente sentiu que fora abandonado por Brasília e jogou a bomba no colo do governo. Politicamente, o estrago está feito, por mais que o presidente busque um sucessor capaz de estancar a sangria (prática tão recorrente neste governo) na estatal.
Os efeitos da queda de Parente, por exemplo, serão sentidos no Congresso pelas próximas semanas.
Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), trabalharam contra o governo nos bastidores e publicamente.
Perceberam a incapacidade de reação do Planalto e a dependência explícita do parlamento para segurar as pontas diante de uma crise aguda.
Ao mesmo tempo, ministros de Temer, ao invés de colocar água da fervura, fritavam Parente em praça pública. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) foi o primeiro ao avisar que o seu cargo era de confiança do presidente.
Em entrevista à Folha, Moreira Franco (Minas e Energia) também não aliviou. Ele defendeu uma política permanente a todos os combustíveis (não só para o diesel) para evitar aumentos diários nas bombas.
Soma-se a isso uma série de trapalhadas e informações desencontradas divulgadas pelo governo durante essas duas semanas de protestos pelas rodovias.
Fraco, o Planalto viveu um dilema até hoje: enfrentar as críticas e sustentar a gestão de Parente ou capitular e ceder. Não fez nem uma coisa nem outra direito.
E demorou a reagir. Quando o fez, celebrou um acordo capenga e sem resultado imediato com um grupo de grevistas. Apostou na população como aliada contra os caminhoneiros. Não deu certo. Como mostrou pesquisa do Datafolha, 87% dos brasileiros apoiavam a paralisação.
Desnorteado, o governo entregou o que podia e não podia mais na noite de domingo (27). A conta caiu no colo do contribuinte.
A queda de Parente só encerra o capítulo de uma novela sobre um governo que já terminou há muito tempo e está à espera de poucos meses que tem pela frente. Meses que serão turbulentos e imprevisíveis.
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