sexta-feira, 14 de abril de 2017

COLUNISTA Celso Ming ECONOMIA CELSO MING E agora, que reforma aprovar?

A lista do ministro Fachin pede urgência para a reforma política. Mas fazer o quê? Quando o assunto é esse, cada um quer uma coisa, ou não quer nada.
Uns querem resolver o problema do financiamento de campanha; outros, pedem cláusula de barreira, para impedir a excessiva dispersão dos partidos cujo único objetivo é abocanhar fatias do fundo partidário. Os políticos, por exemplo, quase todos no modo de sobrevivência, sonham com uma anistia que os mantenha no jogo, preferivelmente em situação melhor do que a de agora. As minorias pretendem aumentar sua representatividade e sua influência. Outros pleiteiam a substituição do regime presidencialista pelo parlamentarista. Os que defendem o voto distrital querem garantir maior engajamento do político eleito na solução dos seus problemas. Outros, ainda, pretendem a criação de um mecanismo que erradique a corrupção, sem apelar para o simplismo do velho projeto de lei, de um só artigo, que exigisse vergonha na cara.


Foto: André Dusek/ Estadão
Cada um quer uma coisa
A multiplicidade de objetivos é, por si só, um problema. Quem quer tudo, não quer nada. Isso exige foco e sentido de prioridade. No momento, o debate está concentrado sobre o problema do financiamento de campanha. Em setembro de 2015, o Supremo proibiu contribuições de empresas. O objetivo da sentença é impedir que contribuições com esse DNA sirvam para que empresas comprem decisões políticas no interesse dos seus negócios. Mas a novidade deixou sem solução a questão da cobertura dos custos da campanha eleitoral, altos demais e, ao mesmo tempo, produtores de corrupção e de crimes de lavagem de dinheiro.
O debate se concentra em duas soluções: instituição do financiamento público de campanha, ou seja, a instituição de uma verba orçamentária que será distribuída aos partidos conforme critério a ser determinado; e adoção do voto em lista fechada decidida pelo partido. O eleitor não vota em candidato, vota no partido. Se o partido conseguiu dez cadeiras, são eleitos os dez primeiros da lista.
Em tempos normais, a lista fechada poderia resolver uma penca de problemas, principalmente se viesse acompanhada do voto distrital. O voto no partido já definiria, por si só, uma cláusula de barreira, porque eliminaria os partidos inexpressivos que só existem como barriga de aluguel de políticos. Seria um passo importante em direção da valorização dos partidos e de suas propostas. E baratearia substancialmente o custo da campanha eleitoral. Além disso, um político sem rabo preso a negócios privados estaria em melhores condições de trabalhar para o interesse público e não para a empresa que financiou sua eleição.
Mas a proposta está sendo fortemente repelida porque, neste momento, tem sido interpretada como jogada para que políticos corruptos se mantenham no poder. Se é elaborada pelos caciques políticos, a lista fechada acabará por beneficiar quem pretende manter foro privilegiado e tudo o mais. Outro defeito: tenderia a ser uma instituição mesmista, na medida em que forçaria a eleição de quem já estivesse na lista e não de caras novas, num momento em que a opinião pública pede renovação. Esse defeito também seria acentuado com a adoção do financiamento público de campanha. Além disso, o voto em lista fechada tenderia a aumentar o distanciamento entre o político e o eleitor.
Esse problema poderia ser mitigado se a lei incorporasse duas exigências: a inclusão de diversidades, por meio de cumprimento de cotas (por gênero, por raça, ou mesmo por meio da incorporação à lista de neófitos em eleições); e se instituísse cláusulas que impedissem a perpetuação de um político no poder.
O anteprojeto de reforma política elaborado pelo deputado federal Vicente Cândido (PT-SP) prevê que a lista fechada alterne o gênero a cada três candidatos do mesmo sexo, o que seria uma forma de aumentar a representatividade feminina nos parlamentos brasileiros – hoje abaixo dos 10%. Não limita, no entanto, as reeleições sucessivas dos políticos aos cargos no Legislativo.
Como não há clareza de objetivos, também não há soluções. Para poderem valer nas eleições de 2018, as novas regras terão de sair até setembro deste ano. Falta saber se até lá haverá tempo até mesmo para uma reforma parcial. E, quando se leva em conta que será votada pelos mesmos políticos que agora estão sendo escrachados pela Operação Lava Jato e pela lista de Fachin, a pergunta inevitável é: que espécie de reforma poderá sair daí?

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quarta-feira, 12 de abril de 2017

Contratações com carteira superam demissões pela 1ª vez desde 2015, FSP



O presidente da República, Michel Temer, anunciou nesta quinta-feira (16) que em fevereiro foram criados 35,6 mil postos de trabalho com carteira assinada no Brasil, a primeira vez que contratações superaram as demissões desde março de 2015.
Em fevereiro de 2016, foram eliminados 104 mil postos de trabalho.
Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) geralmente são divulgados pelo Ministério do Trabalho, sem entrevista à imprensa e na última semana de cada mês, mas foram antecipados para serem anunciados por Temer.
Depois de o Brasil registrar em 2016 o segundo pior ano da história no mercado de trabalho formal, 2017 começou com o fechamento de 40,8 mil vagas de emprego com carteira assinada em janeiro —havia sido o 22º mês consecutivo em que houve diminuição do emprego formal.
A tendência foi revertida no mês passado, quando o saldo foi positivo pela primeira vez desde março de 2015, quando 19,2 mil postos de trabalho com carteira assinada foram criados.
"[A criação de vagas] é um excelente sinal", afirmou o economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos.
"Não significa que está ótimo, ainda tem muito chão para correr, já que ainda vai demorar para o desemprego começar a cair. Mas, depois de uma recessão desse tamanho, é sinal de que as reformas estão dando resultado."
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, discorda que a política econômica do governo Temer tenha influenciado na geração de empregos de fevereiro e lembra que, em 12 meses, o saldo de emprego formal ainda é negativo em 1,33 milhão de postos de trabalho.
"Estamos parando de piorar, e os dados de emprego formal, como vários outros indicadores, começam a indicar alguma melhora. Esse processo é quase natural", disse.
"Mas o governo está fazendo a coisa correta, que é aumentar a oferta monetária, como no caso da liberação das contas inativas do FGTS, que ainda não tiveram impacto nos dados de emprego."
EFEITO SAZONAL
O desempenho de fevereiro foi puxado, principalmente, por serviços, que encerrou o mês com a criação de 50,6 mil vagas. Em segundo lugar, aparece a administração pública, com 8.200 vagas geradas, e, em terceiro, a agropecuária, com 6.200 postos criados.
"As instituições de ensino sazonalmente contratam nessa época, assim como a contratação formal no ensino público dos governos estaduais e municipais", afirmou o coordenador de estatística do Ministério do Trabalho, Mário Magalhães. "Mas há diversos outros setores de serviços que prestam serviços a empresas."
Cálculo da consultoria Tendências mostra que, se esses dados forem dessazonalizados (ou seja, se forem retirados dos números os impactos próprios de cada mês), a geração de vagas em fevereiro ainda está negativa em 61 mil postos de trabalho.
"Mas é menos negativo do que em dezembro e janeiro", observa Thiago Xavier, economista da Tendências. "Quando olhamos mês a mês, ou na média trimestral, notamos que a tendência é de menos demissões".
A tendência, de acordo com Xavier, é que o mercado de trabalho continue a melhorar de forma lenta neste primeiro semestre.
"Vemos um primeiro semestre ainda limitado na criação de postos de trabalho, com tendência de criação de vagas um pouco melhor a partir do segundo semestre, quando a atividade econômica vai ter uma melhora mais intensa."
DIVULGAÇÃO ANTECIPADA
Questionado sobre a razão da divulgação antecipada, Magalhães afirmou que foi feito um "esforço maior para essa divulgação.
"Nosso desejo é passar a divulgar os dados sempre no dia 15 ou 16. Claro que diante de resultado positivo fizemos um esforço maior para a divulgação".
Em discurso, o presidente Temer relacionou os sinais de recuperação da economia à geração de emprego. Segundo ele, a expectativa é que até o final do ano a inflação do país fique "abaixo ou no centro" da meta, hoje de 4,5%. No acumulado dos últimos 12 meses até fevereiro, a inflação ficou em 4,76%.
Ele afirmou ainda acreditar que até o final do ano a Moody's devolverá o selo de bom pagador do país, retirado em fevereiro do ano passado.
Na quarta-feira (15), a agência de classificação de risco melhorou a perspectiva para a nota de crédito do Brasil. A classificação do país atualmente está dois degraus abaixo de grau de investimento.
"Ao longo do tempo, é provável que se atinja uma pontuação que nos faça retornar ao grau de investimento", disse, para quem o otimismo econômico deve guiar os passos do governo.
INDÚSTRIA CONTRATA MENOS
A indústria de transformação, que em janeiro havia criado cerca de 17 mil postos de trabalho, vem em quarto lugar, com a criação de 3.900 vagas com carteira.
"Na indústria, o segmento de vestuário, indústria têxtil, vem se destacando", afirmou Mário Magalhães, do Ministério do Trabalho.
"Se os empresários da indústria estão contratando, estão acreditando que o poder de compra dos trabalhadores vai crescer."
No comércio, as demissões superaram as contratações. "Isso é fruto da sazonalidade. Esperamos a recuperação mais para a frente", disse Magalhães.
POR REGIÃO
As regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste registraram mais contratações do que demissões: 35,4 mil, 24,1 mil e 15,7 mil, respectivamente. O Nordeste (-37 mil) e o Norte (-2.700) reduziram a quantidade de empregos formais em fevereiro.
São Paulo foi o Estado com maior criação de empregos no mês passado, com 25,4 mil vagas geradas, seguido de Santa Catarina (com 14,8 mil postos de trabalho) e Rio Grande do Sul (10,6 mil). 

sábado, 8 de abril de 2017

Rubem Fonseca parece encher obra com esboços tirados do lixo, FSP



Ricardo Borges/Folhapress
Autor Rubem Fonseca discursa durante cerimônia de premiação na ABL, realizada em 2015
Autor Rubem Fonseca discursa durante cerimônia de premiação na ABL, realizada em 2015
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CALIBRE 22 (ruim) 
QUANTO: R$ 39,90 (208 págs.)
AUTOR: Rubem Fonseca
EDITORA: Nova Fronteira
Aquele que talvez seja o maior escritor brasileiro vivo lança um livro novo e, surpresa, o país não para o que está fazendo para prestar atenção.
Há mais de uma década, a cada dois anos, a cena se repete. Isso é triste, sobretudo porque o Brasil, com seu lendário descaso pela literatura, não tem culpa. A culpa é de Rubem Fonseca mesmo.
"Calibre 22" é mais um título ruim de um autor que, nos anos 1960 e 1970, plantou um monumento atrás do outro na planície do conto brasileiro.
O estouro veio com a censura ao livro "Feliz Ano Novo", em 1975, mas desde a estreia com "Os Prisioneiros", em 1963, os livros daquele ex-comissário de polícia eram o que havia de mais forte na paisagem.
Se Dalton Trevisan, o ácido cantor do provincianismo, disputava com ele o título de maior contista do país, Fonseca levava a vantagem de estar apontado para o futuro como uma bazuca.
Ninguém viu antes dele o país que nascia da urbanização desenfreada, onde, liberta dos freios semifeudais, nossa desigualdade obscena gerava o monstro social que hoje é maior que Godzilla.
A estética amoral, com influência do policial americano, achatava a dimensão psicológica entre baixos instintos e pressões de um meio violento. Mais que verdadeiro, soava visionário.
Vieram os romances dos anos 1980 e 1990, de menor voltagem estética mas ainda vigorosos, e Fonseca tornou-se um animal raro: um escritor sério que era também popular. Criou uma mitologia e projetou sobre a literatura brasileira a sombra comprida de sua influência.
Charutos, anões, machismo, o advogado Mandrake, milionários torpes, psicopatas justiceiros, erudição enciclopédica copia-e-cola, assassinatos fáceis como num videogame –suas marcas registradas continuam presentes, mas parecem trejeitos de um imitador.
Há momentos em que o tom desprovido de ênfase que virou sua assinatura aspira à paródia, lembrando Ed Mort.
A prosa rala tem um inacabamento que a edição pobre espelha: é gritante o descaso autoral, o descarte das etapas de reflexão, adensamento, edição.
CONSTRANGEDOR
São minoria os contos de "Calibre 22" que podem ser chamados de corretos. A maior parte vai do trivial ao constrangedor. Alguns, como "Pródromo", "Outro Anão" e "Ópera, Foder e Sanduíche de Mortadela", parecem esboços malogrados que o autor resgatou do lixo para fazer volume.
Não sei se haverá escárnio por trás disso; perda de fé na literatura, certamente. O conto "Camisola e Pijama" traz uma chave: em trama pueril, um sujeito é endeusado pelos críticos após escrever às pressas um conto idiota.
Moral: "Toda a literatura e tudo o que se escrevia era sempre a mesma merda".
Aos 91 anos, Fonseca é e sempre será um grande escritor, mas só fãs menos exigentes terão prazer com o novo livro. Os outros leitores, fãs ou não, devem ler ou reler as obras-primas do passado. Nem toda a literatura é "a mesma merda".