terça-feira, 25 de outubro de 2016

44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro, aponta pesquisa Retratos da Leitura, OESP


Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil anuncia resultados de sua 4.ª edição em seminário em São Paulo; livro com análise será publicado na Bienal do Livro de São Paulo
Maria Fernanda Rodrigues
18 Maio 2016 | 17h06
índice de leitura
(Foto: Rafael Arbex)
Há um pouco mais de leitores no Brasil. Se em 2011 eles representavam 50% da população, em 2015 eles são 56%. Mas ainda é pouco. O índice de leitura, apesar de ligeira melhora, indica que o brasileiro lê apenas 4,96 livros por ano – desses, 0,94 são indicados pela escola e 2,88 lidos por vontade própria. Do total de livros lidos, 2,43 foram terminados e 2,53 lidos em partes. A média anterior era de 4 livros lidos por ano. Os dados foram revelados na tarde desta quarta-feira, 18, e integram a quarta edição da Pesquisa Retratos da Leitura no Brasil.
Realizada pelo Ibope por encomenda do Instituto Pró-Livro, entidade mantida pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel), Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Associação Brasileira de Editores de Livros Escolares (Abrelivros), a pesquisa ouviu 5.012 pessoas, alfabetizadas ou não, mesma amostra da pesquisa passada. Isso representa, segundo o Ibope, 93% da população brasileira.
Para a pesquisa, é leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos últimos 3 meses. Já o não leitor é aquele que declarou não ter lido nenhum livro nos últimos 3 meses, mesmo que tenha lido nos últimos 12 meses.
A Bíblia é o livro mais lido, em qualquer nível de escolaridade. O livro religioso, aliás, aparece em todas as listas: últimos livros lidos, livros mais marcantes. 74% da população não comprou nenhum livro nos últimos três meses. Entre os que compraram livros em geral por vontade própria, 16% preferiram o impresso e 1% o e-book. Um dado alarmante: 30% dos entrevistados nunca comprou um livro.
Para 67% da população, não houve uma pessoa que incentivasse a leitura em sua trajetória, mas dos 33% que tiveram alguma influência, a mãe, ou representante do sexo feminino, foi a principal responsável (11%), seguida pelo professor (7%).
As mulheres continuam lendo mais: 59% são leitoras. Entre os homens, 52% são leitores. Aumentou o número de leitores na faixa etária entre 18 e 24 anos – de 53% em 2011 para 67% em 2015. A pesquisa não aponta os motivos, mas Marcos da Veiga Pereira, presidente do Sindicato Nacional de Editores, disse ao Estado que o boom da literatura para este público pode ter ajudado no aumento do índice – mais do que uma ação para manter o aluno que sai da escola interessado na leitura.
Entre as principais motivações para ler um livro, entre os que se consideram leitores, estão gosto (25%), atualização cultural ou atualização (19%), distração (15%), motivos religiosos (11%), crescimento pessoal (10%), exigência escolar (7%), atualização profissional ou exigência do trabalho (7%), não sabe ou não respondeu (5%), outros (1%). Adolescentes entre 11 e 13 anos são os que mais leem por gosto (42%), seguidos por crianças de 5 a 10 anos (40%).
Os fatores que mais influenciam na escolha de um livro estão tema ou assunto (30%), autor (12%), dicas de outras pessoas (11%), título do livro (11%), capa (11%), dicas de professores (7%), críticas/ resenhas (5%), publicidade (2%), editora (2%), redes sociais (2%), não sabe/não respondeu (8%), outro (1%). O item O “tema ou assunto” influencia mais a escolha dos adultos e daqueles com escolaridade mais alta, atingindo 45% das menções entre os que têm ensino superior. Já o público entre 5 e 13 anos escolhe pela capa. Dicas de professores funcionam melhor que todas as outras opções para crianças entre 5 e 10 anos. E blogs respondem por menos de 1%.
Lê-se mais em casa (81%), depois na sala de aula (25%), biblioteca (19%), trabalho (15%), transporte (11%), consultório e salão de beleza (8%) e em outros lugares menos expressivos. E lê-se mais livros digitais em cyber cafés e lan houses (42%) e no transporte (25%).
Aos não leitores, foi perguntado quais foram as razões para eles não terem lido nenhum livro inteiro ou em partes nos três meses anteriores à pesquisa. As respostas: falta de tempo (32%), não gosta de ler (28%), não tem paciência para ler (13%), prefere outras atividades (10%), dificuldades para ler (9%), sente-se muito cansado para ler (4%), não há bibliotecas por perto (2%), acha o preço de livro caro (2%), tem dinheiro para comprar (2%), não tem local onde comprar onde mora (1%), não tem um lugar apropriado para ler (1%), não tem acesso permanente à internet (1%), não sabe ler (20%), não sabe/não respondeu (1%).
A leitura ficou em 10º lugar quando o assunto é o que gosta de fazer no tempo livre. Perdeu para assistir televisão (73%), que, vale dizer, perdeu importância quando olhamos os outros anos da pesquisa: 2007 (77%) e 2011 (85%). Em segundo lugar, a preferência é por ouvir música (60%). Depois aparecem usar a internet (47%), reunir-se com amigos ou família ou sair com amigos (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%), usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%), ler jornais, revistas ou noticias (24%), ler livros em papel ou livros digitais (24%) – mesmo índice de praticar esporte. Perdem para a leitura de um livro: desenhar, pintar, fazer artesanato ou trabalhos manuais (15%), ir a bares, restaurantes ou shows (14%), jogar games ou videogames (12%), ir ao cinema, teatro, concertos, museus ou exposições (6%), não fazer nada, descansar ou dormir (15%).
A principal forma de acesso ao livro é a compra em livraria física ou internet (43%). Depois aparecem presenteados (23%), emprestados de amigos e familiares (21%), emprestados de bibliotecas de escolas (18%), distribuídos pelo governo ou pelas escolas (9%), baixados da internet (9%), emprestados por bibliotecas públicas ou comunitárias (7%), emprestados em outros locais (5%), fotocopiados, xerocados ou digitalizados (5%), não sabe/não respondeu (7%).
A livraria física é o local preferido dos entrevistados para comprar livros (44%), seguida por bancas de jornal e revista (19%), livrarias online (15%), igrejas e outros espaços religiosos (9%), sebos (8%), escola (7%), supermercados ou lojas de departamentos (7%), bienais ou feiras de livros (6%), na rua, com vendedores ambulantes (5%), outros sites da internet (4%), em casa ou no local de trabalho, com vendedores “porta a porta” (3%), outros locais (6%) e não sabe/não respondeu (7%). O preço é o que define o local da compra para 42% dos entrevistados. Na pesquisa anterior, isso valia para 49%.
A pesquisa perguntou a professores qual tinha sido o último livro que leram e 50% respondeu nenhum e 22%, a Bíblia. Outros títulos citados: Esperança, O Monge e o Executivo, Amor nos tempos do cólera, Bom dia Espírito Santo, Livro dos sonhos, Menino brilhante, O símbolo perdido, Nosso lar, Nunca desista dos seus sonhos e Fisiologia do exercício. Entre os 7 autores mais lembrados, Augusto Cury, Chico Xavier, Gabriel Garcia Márquez, Paulo Freire, Benny Hinn, Ernest W. Maglischo e Içami Tiba.
Quando extrapolamos para a amostra total, os títulos mais citados como os últimos lidos ou que estão sendo lidos foram Bíblia, Diário de um banana, Casamento Blindado, A Culpa é das Estrelas, Cinquenta Tons de Cinza, Ágape, Esperança, O Monge e o Executivo, Ninguém é de ninguém, Cidades de Papel, O Código da Inteligência, Livro de Culinária, Livro dos Espíritos, A Maldição do Titã, A Menina que Roubava Livros, Muito mais que cinco minutos, Philia e A Única Esperança.
Quando a questão é sobre os livros mais marcantes, os religiosos continuam ali e a Bíblia segue como referência, mas a lista fica um pouco diferente, com alguns clássicos e infantojuvenis: Bíblia, A Culpa é das Estrelas, A Cabana, O Pequeno Príncipe, Cinquenta Tons de Cinza, Diário de um banana, Turma da Mônica, Violetas na Janela, O Sítio do Pica-pau Amarelo, Crepúsculo, Ágape, Dom Casmurro, O Alquimista, Harry Potter, Meu pé de laranja lima, Casamento Blindado e Vidas Secas.
Entre os escritores preferidos dos brasileiros estão Monteiro Lobato, Machado de Assis, Paulo Coelho, Maurício de Sousa, Augusto Cury, Zibia Gasparetto, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Chico Xavier, John Green, Ada Pellegrini, Vinícius de Moraes, José de Alencar e Padre Marcelo Rossi.

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Governo propõe prazo menor para adoção, Agência Brasil


Governo propõe prazo menor para adoção. Proposta está em consulta pública.
Governo propõe prazo menor para adoção. Proposta está em consulta pública.
Ministério da Justiça propõe mudanças na adoção de crianças e adolescentes
(Foto: Arquivo/Agência Brasil)
O Ministério da Justiça e Cidadania abriu hoje (4) consulta para rever os procedimentos de adoção de crianças e adolescentes. Entre os principais pontos a serem revistos, estão a entrega voluntária de uma criança para a adoção e os prazos para o processo. Em relação ao prazo para adoção, que hoje é indefinido, a proposta do governo é estabelecer limite de 120 dias, prorrogáveis por igual período.
Em relação à entrega voluntária, a diretora da Secretaria de Assuntos Legislativos do ministério, Clarice Oliveira, disse que está em análise qual o prazo para o pai se manifestar sobre a entrega e como a Justiça deve proceder com a família da mãe da criança. “A entrega voluntária já é prevista na legislação, mas estes pontos têm que ser esclarecidos”.
A pasta também receberá sugestões sobre adoção internacional. De acordo com a proposta, a criança que ficar mais de 12 meses disponível para adoção, sem candidatos, poderá ficar disponível para adotantes estrangeiros, sem necessidade de decisão judicial. Atualmente, é necessária uma autorização judicial para este procedimento. “Esse ponto deve beneficiar principalmente as crianças mais velhas já que hoje, a maioria das crianças disponíveis é mais velha, e os brasileiros querem mais novas. Os estrangeiros, em geral, não têm essa exigência”, disse Clarisse.
A proposta do Ministério da Justiça também prevê que pessoas com quem a criança maior de seis anos tenha um vínculo afetivo comprovado terão prioridade para adoção.
Dados do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que mais de 46 mil crianças e adolescentes estão em acolhimento institucional. Desse total, apenas 7 mil estão aptas para adoção. Em contrapartida, o mesmo cadastro mostra que há mais de 37 mil pessoas interessadas em adotar.
Devido ao descompasso, o ministério resolveu rever a legislação, sancionada há 7 anos. As regras atuais permitem que crianças permaneçam mais de dois anos em instituições de acolhimento, o que as afastam, a cada ano, do perfil indicado pelos interessados em adotar. De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção, 55% dos pretendentes preferem crianças de 0 a 3 anos de idade.
O Ministério da Justiça e Cidadania vai receber sugestões até o dia 4 de novembro pelo site. Recebidas as propostas, deverá ser concluído um projeto de lei, que será encaminhado ao Congresso Nacional para alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente.
Aline Leal, Repórter da Agência Brasil
Carolina Pimentel, Edição

ADOÇÃO - Governo Federal quer acelerar processos de adoção

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Atualmente, não há prazo definido para os processos de adoção. Há casos que demoram anos.
ADOÇÃO - Governo Federal quer acelerar processos de adoção
A proposta gera preocupação entre algumas entidades, que temem que criança seja tratada como produto.
(Foto: Pixabay)
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Em 2015, 1.494 crianças e adolescentes foram adotadas no país, segundo o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). No entanto, o Governo Federal quer reduzir ainda mais o número de jovens em abrigos a partir de processo mais rápidos de adoção.
Atualmente, não há prazo definido para os processos de adoção. Há casos que demoram anos. O anteprojeto de lei do Ministério da Justiça, entretanto, quer fixar prazos para as duas etapas do processo. Desta forma, seriam 90 dias para o estágio de convivência entre os pretendentes e a criança, seguidos de 120 dias para a conclusão da adoção, levando em consideração que as duas etapas poderiam ser prorrogadas por iguais períodos. Com isso, o processo demoraria, no máximo, um ano e dois meses.
Segundo a diretora de assuntos legislativos do ministério, Clarice Oliveira, as famílias acabam por ficar inseguras no processo de adoção por conta da falta de um prazo definido. Porém, a proposta gera preocupação entre algumas entidades, que acham que os prazos para a adoção podem acabar se sobrepondo aos direitos das crianças.
No caso de adoção internacional, ou seja, quando o pretendente não reside no Brasil, o tempo mínimo de convivência exigido seria diminuído de 30 para 15 dias, enquanto o máximo, que atualmente não há, seria fixado em 45 dias.
Além disso, cada criança com mais de um ano que não foi adotada no país seria encaminhada para possível adoção internacional, independentemente de decisão judicial para isso. Hoje, isso depende do aval do juiz. “Vai acontecer sem o Judiciário acompanhar? Justamente nesse caso que é o que mais precisa?”, pondera Daisy Bernardi, do Neca (Associação de núcleos de pesquisa sobre criança e adolescente).
Para Clarice Oliveira, entretanto, isto serviria apenas para iniciar a busca de pretendentes. Afinal, a medida seria uma alternativa diante da diferença entre o perfil desejado pelos pretendentes e o das crianças aptas a serem adotadas. Segundo dados do CNJ, a maioria dos pretendentes no país ainda expressa a vontade de adotar crianças mais novas. No entanto, 57% delas têm mais de dez anos. “Os pretendentes não residentes no Brasil estão mais abertos a adotar crianças mais velhas e com irmãos, perfil que encontra mais dificuldades para adoção”, diz Clarice. Segundo ela, após a consulta públicaque já tem 400 contribuições, o governo deve enviar a proposta ao Congresso ainda neste ano.
A psicóloga jurídica Dayse Bernardi não acha que fixar um prazo na etapa de convivência seja uma boa opção. “É como se tivesse que em três meses ter dado certo. E se não tiver? A criança é devolvida como uma mercadoria que provo e vejo se gosto, e se não, devolvo?”, questiona a psicóloga. Já Suzana Schettini presidente da Angaad (Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção), diz apoiar a proposta de trazer alguns limites máximos de espera, como concluir a adoção em 120 dias. “Hoje muitos aguardam até cinco anos”.
Fábio Paes, presidente do Conselho Nacional de Direitos da Criança (Conanda) e assessor da Aldeias Infantis SOS, critica a falta de estrutura para estabelecer prazos. “Hoje não temos uma rede preparada para prazos estipulados”. Segundo ele, a situação traz risco de que algumas decisões possam ser aceleradas apenas para cumprir prazos, sem observar com cuidado a situação de cada criança ou adolescente hoje em abrigos. O Ministério da Justiça, por sua vez, diz que nos casos em que há ausência de servidores para avaliações técnicas de cada processo, a pasta irá sugerir a contratação de profissionais especializados para fazer as análises.