domingo, 8 de novembro de 2015

Quem paga o pato - AMIR KHAIR


ESTADÃO - 08/11

O governo está num beco sem saída: quer fazer a inflação voltar à meta de 4,5% e vê isso se afastar, indo para 2017, e seu único instrumento é a Selic em nível elevado. Ao querer mantê-la assim por período prolongado, eleva a relação dívida/PIB para romper o teto de 70%. Nessa situação, será certamente rebaixado pelas agências Fitch e Moody’s e perderá o grau de investimento. A equipe econômica foi escolhida para evitar isso e está acelerando esse desenlace.

Essa presidente vem fazendo, e de forma até mais acentuada, a política que foi defendida pelo seu oponente que teria, caso ganhasse a eleição, como ministro da Fazenda, alguém mais relacionado ainda com o mercado financeiro, sempre sequioso de taxas de juros elevadas. Vale lembrar que o seu padrinho Lula havia indicado para ministro da Fazenda o presidente do Bradesco, que, convidado ao cargo, recusou e indicou seu subordinado. Depois dessa, não pode reclamar. É mestre em indicações que não dão certo.

1. Proposta. No entanto há uma saída à mão do governo, que não passa pelo caminho tortuoso do toma lá dá cá do Congresso, escolha infeliz deste governo. Vejamos.

No front externo, que também é observado pelas agências de risco, os indicadores do País são bons. A balança comercial vem surpreendendo positivamente, fazendo o déficit em conta corrente ser reduzido pela metade entre o ano passado e as previsões para este ano. Temos US$ 370 bilhões nas reservas internacionais, cerca de US$ 200 bilhões (!) acima do nível de máxima exposição externa, segundo critérios do Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao vender parte desse excedente, atinge-se simultaneamente dois objetivos: a) redução na dívida bruta de mesmo valor da venda e; b) contenção não onerosa do câmbio, o que auxilia na queda da inflação.

Mas, se é assim tão fácil, porque o governo não vende parte das reservas? Porque prevalece ainda a posição de maximizar essas reservas como se isso de fato importasse diante dessa conjuntura. Assim, caminha-se a passos rápidos ao impasse fiscal e, aí, não adianta colocar a culpa em fatores externos nem no Congresso, pois o que predomina na questão fiscal é o déficit com juros, como é apresentado a seguir.

2. Questão fiscal. Numa coisa tem-se de tirar o chapéu para o governo: conseguiu até agora manter o foco fiscal no resultado primário, para esconder o déficit com juros. Vejamos.

Nos nove primeiros meses deste ano, o setor público acumulou um déficit de R$ 416,7 bilhões, dos quais R$ 408,3 bilhões é o déficit com juros, ou seja, 95,2% (!) do déficit público, e apenas R$ 8,4 bilhões é déficit primário.

Considerando os últimos doze meses encerrados em setembro, tem-se desastre semelhante, pois o déficit atingiu R$ 536,2 bilhões, dos quais R$ 510,6 bilhões foi déficit com juros, ou seja, os mesmos 95,2% do déficit público, e só R$ 25,6 bilhões foi primário.

Vale apontar, também, para outro desvio de foco fiscal: o excesso de despesas sociais do governo federal. É o argumento usado pelo mercado financeiro e pelo governo. Em razão deste enfoque equivocado, o Ministério da Fazenda quer nova reforma da Previdência Social, estabelecendo idade mínima para aposentadoria e desvinculação do piso previdenciário do salário mínimo.

A esperteza deste desvio é tirar o foco do problema fiscal presente, deslocando o problema para o futuro.

3. Inflação. Outro fato que chama a atenção é o fantasma da inflação. Neste ano, pode alcançar 10%! Alto em relação à média dos últimos cinco anos, de 6,11%. Só que há uma particularidade neste ano: a inflação dos preços monitorados atingiu nos últimos 12 meses encerrados em setembro 16,35%, contra a média de 3,97% ocorrida nos últimos cinco anos.

Considerando o peso dos preços monitorados na composição do IPCA, de 24%, vê-se que estão sendo neste ano responsáveis por 41% da inflação contra 15% na média dos últimos 5 anos.

O governo procurou segurar a inflação desde 2010 pela contenção dos preços monitorados. Isso ocorreu não apenas nos preços dos combustíveis e da energia elétrica, que entupiram de dívidas a Petrobrás e Eletrobrás, mas também nas tarifas de água e esgoto feitas pelos governos estaduais e nos preços das passagens do transporte coletivo feitas pelos governos municipais. Parte deste legado é relacionado ao medo de novas manifestações de massa como as ocorridas em junho de 2013.

Essa descarga inflacionária dos preços monitorados neste ano não deve prosseguir no próximo ano, como preveem a maioria das análises.

4. Previdência Social. Vale aqui esclarecer alguns aspectos relativos à Previdência Social.

A partir de 2001, tem-se dados separados para a previdência urbana e rural. A urbana tem caráter contributivo típico de regime previdenciário, no qual se prevê que a aposentadoria se sustente com as contribuições efetuadas. A rural tem o caráter assistencial, pois a contribuição é quase inexistente (2,1% do faturamento rural, onde mais da metade é sonegada) e o valor da aposentadoria é de um salário mínimo. Assim, a rural é deficitária, se não for alocada a ela uma fonte de receita que banque o pagamento de seus aposentados.

Desde 2009, a urbana passou a ser superavitária, ou seja, as contribuições superaram os benefícios. Neste ano, deve dar resultado positivo de R$ 15 bilhões. A rural deve apresentar déficit de R$ 90 bilhões. O conjunto deve, portanto, ter déficit de R$ 75 bilhões (1,25% do PIB).

Em 2001, a previdência teve um déficit de 0,98% do PIB causado pela rural. Neste ano, deve ocorrer déficit de 1,25% do PIB causado por 1,48% do PIB na rural e superávit de 0,23% do PIB na urbana. Assim, em 15 anos ocorreu um aumento de 0,27% do PIB no déficit previdenciário (1,25 menos 0,98).

Nestes 15 anos, o déficit com juros passou de 3,59% do PIB em 2001 para 8,89% do PIB nos últimos doze meses encerrados em setembro, crescendo, portanto, 5,30% do PIB nestes 15 anos. Comparando com o déficit previdenciário, o de juros cresceu 19 (!) vezes mais.

A questão central da Previdência não é o longo prazo, como alardeiam. Como visto, em 15 anos pouco evoluiu esse déficit, que foi causado pela rural, cuja população vem sendo continuamente reduzida. Colocar o foco fiscal aí é desviar a atenção do déficit com juros.

Vale considerar que a gestão das receitas e despesas da previdência pode propiciar mudanças significativas: a) nas contribuições com redução da inadimplência elevada e diminuição das desonerações causadas pelo governo Dilma na quota patronal que prejudicaram as contribuições a partir de 2013 e; b) no adequado controle da concessão dos vários benefícios, sujeitos a desvios de várias naturezas e, em especial, nas pensões sem justificativa.

É fato que tudo na área pública tem largo espaço de melhorias de gestão, mas é comum mudar regras ao invés de usar adequadamente as regras existentes.

De forma geral, os governantes, para se elegerem, prometem mundos e fundos e, como não cumprem, procuram colocar a culpa na falta de recursos, mas pouco fazem para usar adequadamente os recursos de que dispõem. Este governo federal vai pelo mesmo caminho: não melhora sua gestão e fica querendo mais recursos e mais leis, como a que o ministro da Fazenda diz ser necessária, a CPMF.

Com tanta enganação e incompetência, somem e se dilapidam recursos, reduzem direitos, e depois a população que pague o pato.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Aquicultura de verdade, O Estado

XICO GRAZIANO
03 Novembro 2015 | 02h 55
Acabou o Ministério da Pesca e Aquicultura. Ainda bem. Irrelevante, servia de palco para negociatas políticas. Sua extinção livrará o setor produtivo da tramoia. Ganhará o profissionalismo. Sorte dos verdadeiros pescadores e aquicultores do Brasil.
Foi Lula, em 2003, que criou o esdrúxulo ministério, entregando-o ao seu amigo petista José Fritsch, então derrotado para o governo de Santa Catarina. O novo órgão permaneceu satisfazendo o PT catarinense até 2012, quando Dilma Rousseff nomeou o senador Marcelo Crivella (PRB), bispo carioca da Igreja Universal, para comandá-lo. Piada pronta: um pescador de almas no barco. Puro trambique.
Iniciado seu segundo governo, Dilma mexeu nas redes: pôs Helder Barbalho (PMDB), recém-derrotado para o governo do Pará, para cuidar da pesca. Filho de Jader, a familiaridade do moço com a atividade era desconhecida. Não fazia diferença. Importava, como nestes 12 anos de existência, a acomodação política. De quebra, chaves da corrupção.
Enquanto os piscicultores do Brasil sofreram anos tentando conseguir autorizações para uso de águas públicas, duas falcatruas correram soltas no Ministério da Pesca. A primeira, ligada às permissões para a pesca industrial, grandes barcos no mar. Todos sabiam que, há anos, rolava propina nessa matéria, mas se calavam temerosos do poder. Coincidência ou não, na semana passada a Polícia Federal desbaratou a quadrilha, chefiada pelo número dois do antigo ministério, Clemenson Pinheiro. Preso na Operação Enredados juntamente com outras 18 pessoas, eles cobravam uma média de R$ 100 mil por licença para pesca na costa brasileira. O esquema contava com a participação de servidores, armadores, representantes sindicais e intermediários. Uma trama graúda.
A segunda fraude se disfarça com vestes sociais. Existe uma transferência de dinheiro que o governo federal repassa aos pescadores artesanais para compensar sua perda de renda nas épocas do “defeso”, quando o Ibama proíbe a captura de certas espécies visando a proteger a reprodução dos cardumes. Muito bem. Acontece que o combate à pobreza virou uma boca-livre para seduzir eleitorado. Segundo denunciou Marlos Ápyus, o Censo do IBGE (2010) encontrou 413.551 pescadores em atividade no Brasil. Naquele ano, porém, o Ministério da Pesca tinha 853.231 mil pescadores recebendo o “seguro-defeso”, no valor de um salário mínimo por mês, durante quatro meses. Somente em Brasília, onde não existe mar nem rio, existiam 7 mil falsos pescadores recebendo o benefício. Picaretagem da grossa.
Mais que a pesca, a aquicultura vem se destacando na agenda do futuro da alimentação humana. O motivo é óbvio: os cardumes naturais de peixes e crustáceos se esgotam, mundialmente, por causa da pressão exercida pela pesca tradicional, diante da crescente demanda da população. Produzir pescados em cativeiro, bem como reproduzir outros organismos de água doce ou salgada, virou atividade promissora. Ampara-a o extraordinário avanço tecnológico na nutrição e na genética dos espécimes. Basta ver o delicioso, e relativamente barato, filé de saint peter, uma espécie de tilápia, na gôndola dos supermercados. Ou o avermelhado salmão chileno.
Surgiram também as “fazendas” de camarão, instaladas em manguezais ou regiões lagunares próximas ao litoral, especialmente no Nordeste. A carcinocultura, como se denomina tal criação, passou a abastecer o mercado com o camarão “cinza”, menos saboroso, porém bem mais barato que as espécies marinhas. Resultado: democratizou-se o consumo do camarão fresco. Dessa história de sucesso também participam as algas, os mexilhões, as ostras. Sensacional.
Dados oficiais mostram que, da produção brasileira de pescado (2013), 38,4% já se originam da piscicultura. E, desta, grande parte (82%) se origina nas águas continentais, não nas marinhas. Em todo o mundo, a aquicultura responde por quase metade (48,9%) das carnes de pescado. A China responde, sozinha, por 62% da aquicultura mundial, seguida da Índia (6,3%). O Brasil, após uma década de Ministério da Pesca, manteve seu distante 12.º lugar no ranking mundial, com cerca de 1% da produção total.
Existe, sim, enorme potencial para crescimento da aquicultura nacional. A posição é unânime entre os estudiosos do assunto, que defendem maior apoio ao setor, com novos marcos regulatórios, mais pesquisas e financiamento das atividades. Muita proteína de excelente qualidade se esconde nessa virtuosa equação. Foi daí que alguém teve a ideia de criar um ministério. Lula capturou-a para servir à sua lógica política. Um desastre.
Nada comprova que a nova estrutura de gestão tenha influenciado a realidade produtiva. Durante sua existência, planos maravilhosos foram lançados, em lindas cerimônias. Prometeram-se mundos e fundos. Mas a produção nacional de pescado cresceu, no período, abaixo de 2% ao ano. As importações se elevaram. O que cresceu, mesmo, foi o desperdício de dinheiro público.
Fora o vexame internacional. Em 2014, a Controladoria-Geral da União divulgou auditoria apontando uma série de irregularidades na pasta, incluindo a divulgação de dados falsos sobre a produção pesqueira e aquícola nacional. Informações mentirosas foram encaminhadas à Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e à Comissão Internacional para Conservação do Atum Atlântico (Iccat). Vergonhoso.
Talvez agora, libertadas dos esquemas safados, a pesca e a aquicultura se expandam de verdade. Os brasileiros merecem. Não apenas apreciar em sua mesa as delícias criadas nas águas, ou obtidas na pesca sustentável, mas também viver longe desses peixes podres da política nacional.
XICO GRAZIANO É AGRÔNOMO, FOI SECRETÁRIO DE AGRICULTURA E SECRETÁRIO DO MEIO AMBIENTE DO ESTADO DE SÃO PAULO. E-MAIL: XICOGRAZIANO@TERRA.COM.BR

domingo, 1 de novembro de 2015

'Dilma só se salva por ela', diz Delfim Netto Oesp

Entrevista. Delfim Netto, economista

Para ex-ministro da Fazenda, presidente deve assumir que é a líder máxima do País e tomar medidas para resgatar a confiança de empresários e consumidores


Ricardo Leopoldo
29 Outubro 2015 | 19h 53
A única saída para a presidente Dilma Rousseff salvar seu governo é retomar a rota do crescimento com rapidez e assumir de fato que é a líder máxima do País, com o envio ao Congresso de um projeto de lei com mudanças estruturais da economia, aponta o ex-ministro da Fazenda, Antônio Delfim Netto. 
Em entrevista ao Broadcast, serviço de informações da Agência Estado, ele aponta, entre outras ações imprescindíveis, a elevação do limite de idade da aposentadoria e a livre negociação entre trabalhadores e empresários, com fiscalização dos sindicatos. "A Dilma só se salva por ela. Se ela tentar continuar se esquivando de assumir o protagonismo fundamental não vai se salvar", disse.
Para Delfim Netto, se a presidente Dilma incorporar esta agenda de mudanças fiscais de longo prazo imediatamente vão se recuperar as expectativas de empresários e consumidores e "a economia vai melhorar muito no ano que vem". Assim, o Brasil poderá crescer de 2% a 2,5% em 2017. "Os empresários estão desesperados para ganhar dinheiro de novo", disse. Acompanhe os principais trechos da entrevista:
'Os empresários estão desesperados para ganhar dinheiro de novo', diz Delfim Netto
'Os empresários estão desesperados para ganhar dinheiro de novo', diz Delfim Netto
O que a presidente Dilma Rousseff deveria fazer para que o Brasil retome rápido a rota do crescimento? 
Só tem uma saída para a presidente Dilma: ela reassumir o seu protagonismo. Sabemos que existe uma situação fiscal muito difícil. Contudo, o que impede o crescimento é que o Brasil não sabe para onde vai. A presidente deveria apresentar ao Congresso um projeto com 5 medidas. A primeira é um limite de idade da aposentadoria mais perto da expectativa de vida do brasileiro. A segunda é aceitar a proposta da CUT que defende a livre negociação entre empresários e trabalhadores, sob a vigilância dos sindicatos. Uma terceira ação é acabar com as vinculações do Orçamento, que são uma barbaridade. A vinculação tira poder do Executivo e do Legislativo. Em quarto lugar, acabar com a indexação ao salário mínimo de coisas como os benefícios da Previdência Social. E em quinto, destravar a reforma do ICMS. A presidente manda o projeto com esses pontos ao Congresso e vai às ruas. Ela enfrenta o panelaço, e diz: "pode bater panela. Estou salvando o futuro do seu filho e permitindo que teu neto encontre um País melhor." A Dilma precisa ir às ruas, pois elas obrigarão o Congresso a cumprir o seu papel. E o parlamento geralmente melhora os projetos.
E qual seria a reação da economia a estas medidas? 
Tudo isto reacenderia a esperança de crescimento. Os empresários voltam a investir e os cidadãos a consumir. A melhora da confiança é instantânea. A economia é expectativa. Só cresce quem acredita que vai crescer. Qual é a realidade hoje? O trabalhador tem medo de perder o emprego, não compra e fica líquido. Se o empresário acha que o trabalhador não vai comprar, ele venderá seu estoque e vai ficar líquido. O banqueiro, quando vê os dois nessa situação aumenta os juros e fica líquido. Quando trabalhador, empresário e banqueiro estão líquidos, os três morrem afogados na liquidez.
E com essas medidas que o senhor sugere, prêmios de risco, dólar e curva de juros futuros baixarão? 
Claro. O importante é fazer. A presidente Dilma precisa entender que a salvação está nela. Sem assumir o seu papel, a economia não vai funcionar.
O senhor acredita que a presidente Dilma vai assumir seu papel de protagonismo? 
Eu espero que sim. A Dilma é honesta, honrada e tinha até uma boa mensagem. Ela se perdeu na busca da modicidade tarifária. Ela começou a baixar os juros arbitrariamente. Todas as intervenções terminaram mal. Mas hoje ela está aprendendo a acreditar no sistema de preços.
Como o senhor avalia a economia para 2016? 
Como o PIB cairá 3% neste ano, isso gerará um carry over de 1,5 ponto porcentual de PIB negativo para 2016. Mesmo que o País cresça 1% no próximo ano, o PIB recuará 0,5% em 2016. Mas se mudar a expectativa, a economia vai melhorar muito no ano que vem.
Como o senhor observou o déficit primário de 1,04% do PIB em 2015? 
A coisa ficou tão complicada que estamos quase em novembro e ainda não sabemos qual será o déficit deste ano. Não há estabilização da dívida em relação ao PIB sem crescimento. Só que nunca o programa do ministro Joaquim (Levy) disse o contrário. O Joaquim tem sido muito injustiçado. Desde o início, o ajuste era uma ponte, que foi esquecida. A receita primária depende da evolução do PIB. Quando o País está crescendo, em geral a receita avança mais. Porém, quando o PIB cai, a arrecadação recua mais ainda. Quando há dificuldade financeira, a primeira coisa que acontece é parar de pagar imposto. Se o PIB sobe 1%, a receita provavelmente avança 1,2%. Mas quando o PIB cai 1%, a receita baixa 2,0%, 2,5%.
E com as mudanças estruturais, quanto será possível crescer em 2017? 
Os empresários estão desesperados para ganhar dinheiro de novo. O Brasil de 1900 a 2000 cresceu 2,6% ao ano, per capita. E o mundo avançou 1,6%. Não há nenhuma razão para que o PIB do Brasil não volte a crescer de 2% a 2,5% ao ano. E vai crescer muito mais se fizermos o que tivermos que fazer.
Como em 2016 a economia estará fraca e o Tesouro provavelmente não terá as receitas da CPMF, seria o caso do governo abandonar a meta do primário de 0,7% do PIB e adotar um resultado estável? 
Estamos dando valor ao que não tem importância. A única coisa que tem valor é colocar a economia na direção correta. O primário será consequência disso. O importante é o governo dizer: vou primeiro estabilizar a relação dívida/PIB. A mãe de todos os equilíbrios é a área fiscal, pois é o instrumento que pode ajudar a demanda quando ela cai. Contudo, aqui começa um pensamento mágico. Tem gente que diz: "Ah, vamos fazer então uma política keynesiana." Coitado do Keynes: seus asseclas são piores do que os do Marx.
O Levy é essencial para o ajuste fiscal? 
As ideias do Levy são essenciais.
Mas e se ele deixar o governo? 
Não tem nenhuma razão para o Levy sair do governo.
O senhor acredita que ele deve continuar no cargo? 
Essa é uma prerrogativa da presidente. Eu acho que a presidente Dilma está com 5 ministros muito bons: O Levy, Nelson Barbosa (Planejamento), Armando Monteiro (Desenvolvimento e Indústria), Kátia Abreu (Agricultura) e a Izabella Teixeira (Meio Ambiente). Mas o que é preciso é a presidente Dilma assumir o papel de presidente num regime presidencialista. Não tem substituto para a Dilma. A Dilma só se salva por ela. Se ela tentar continuar se esquivando de assumir o protagonismo fundamental não vai se salvar. No entanto, ela também não vai sair não.
O senhor não acredita no impeachment da presidente? 
O impeachment não é uma boa solução. Se houvesse uma prova de que houve desvio de função, mas isso não ocorreu. No fundo, é tudo tapetão. Isso transforma o Brasil numa pastelaria. Obedecer a Constituição, para o futuro do Brasil é muito mais importante do que fazer o impeachment. Com a Dilma terminando o governo, provavelmente em 5 ou 6 anos o Brasil vai crescer 1% a mais por ano, porque lá fora vão dizer: aquele é um país civilizado.
O senhor teme a perda do grau de investimento por uma segunda agência de rating? 
Eu acho que é muito provável. A não ser que ocorra uma mudança muito profunda no desempenho da Dilma.
Qual será o fator que levará a maioria do PMDB a apoiar a presidente Dilma no Congresso? 
Se a Dilma assumir seu protagonismo, quando ocorrer o primeiro sinal de melhora da economia vai ser duro manter alguém fora do barco.
Como o senhor vê o destino político do presidente da Câmara, Eduardo Cunha? 
O Cunha vai cumprir o seu papel, vai se defender e o Congresso vai tomar as providências que quiser. Essa não será uma coisa que vai alterar o curso do Brasil. O ponto de inflexão da história brasileira está em Curitiba. O Brasil que vai nascer daquilo é um Pais completamente diferente. É um Brasil onde as empresas serão muito mais cuidadosas e o compliance será absolutamente geral.
Caso o deputado Cunha deixe a presidência da Câmara, isso ajudará a presidente Dilma no Congresso? 
O Cunha é um grande presidente da Câmara. Estamos querendo decidir o que o Cunha vai decidir. Ele vai decidir de acordo com as informações que tiver e vai tratá-las de forma adequada.
Como a recessão é profunda e poderá se estender para 2016, o BC deveria cortar os juros no primeiro semestre do ano que vem? 
Há dúvidas se o Brasil está numa situação de dominância fiscal. Mas se não estivermos nela, estamos muito próximos. A utilidade do Banco Central está muito diminuída. Deixa ele ficar quietinho onde está. O BC fez muito bem em dizer que pode levar a inflação na meta em 2017, que já será uma contribuição importante.
Caso a presidente Dilma adote a agenda que o senhor apontou, aumentaria o espaço para o BC reduzir juros no próximo ano? 
Certamente. E mais que isso. No primeiro momento em que as pessoas acreditarem que o crescimento vai começar haverá uma corrida de investimento no Brasil.