domingo, 1 de novembro de 2015

Gelo feito a partir de energia solar leva desenvolvimento a comunidade isolada, EBC


Criado em 07/10/15 06h06 e atualizado em 07/10/15 09h03
Por Maiana Diniz Edição:Graça Adjuto Fonte:Agência Brasil

Há dois meses, as oito famílias que vivem na Vila Nova do Amanã, pequena localidade do município de Maraã, na região do Médio Solimões, no Amazonas, passaram a ter acesso a um item básico para a maioria dos brasileiros, mas considerado um luxo no local. A comunidade ribeirinha recebeu três máquinas de gelo que funcionam com energia solar e estão produzindo 90 quilos de gelo por dia.
“Essas famílias têm como principais atividades a pesca e a agricultura. As máquinas vão atender à demanda de gelo, principalmente para conservar polpa de frutas e pescado”, diz Otacílio Soares Brito, do setor de tecnologias sociais do Instituto Mamirauá, responsável pela implantação do projeto Gelo Solar na região.
As fábricas de gelo são um pouco maiores que uma geladeira comum e funcionam com um painel de energia solar. Cada máquina custa cerca de R$ 25 mil e produz 30 quilos de gelo diariamente. A tecnologia foi desenvolvida por pesquisadores da Universidade de São Paulo em parceria com o Instituto Mamirauá, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
O projeto foi premiado no fim do ano passado pelo Desafio de Impacto Social da empresa Google no Brasil. O prêmio, de R$ 500 mil, foi usado para implantar três máquinas na Vila Nova do Amanã e uma na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, instalada para que o Instituto monitore na prática a eficiência do equipamento, que pode ser levado a outras comunidades.
“O planejamento é acompanhar o funcionamento dessas quatro máquinas por um período, cerca de dois anos, ao mesmo tempo em que estamos buscando recursos para instalar máquinas em outras comunidades.”, afirma Brito.
Ele ressalta que a tecnologia é inovadora por não precisar de baterias, que poluem o meio ambiente e têm vida útil curta. "É a transformação de energia elétrica em gelo.” De acordo com Brito, a manutenção das máquinas é simples – uma vez por mês é preciso passar um pano para limpar os módulos e as máquinas de gelo –, e os aparelhos podem durar até 25 anos. “A população está sendo capacitada para a gestão comunitária da tecnologia. A ideia é que a gente acompanhe e ajude a pensar a melhor forma de gestão dessa tecnologia.”, acrescenta o técnico.
Um dos objetivos do projeto é que as fábricas de gelo ajudem a aumentar a renda das famílias. “Eles não vão consumir todo esse gelo, vai ter uma sobra. Estamos conversando com a comunidade para dar um destino adequado a esse gelo, enfim, encontrar uma forma estratégica para que seja uma fonte de renda”. Uma das ideias é vender o gelo extra para comunidades próximas.
Brito lembra que a dificuldade para chegar à vila, que está a 100 quilômetros de Tefé e só tem acesso fluvial, faz com que as famílias não tenham essas tecnologias comuns nas grandes cidades. “Assistem televisão esporadicamente, quando o motor de luz funciona. Mas internet, por exemplo, nem pensar.”.
Para o especialista, iniciativas como o Gelo Solar podem ser uma saída para a região amazônica, onde muitos ainda vivem na escuridão. “Acredito que em curto prazo não vai chegar energia a alguns lugares da Amazônia. A saída será a instalação de sistemas isolados, tanto para iluminação quanto para gelo, bombeamento de água, etc”.
Ele considera que as minitermelétricas, que vêm sendo implantadas na região há mais de meio século, não resolveram o problema. “Não resolve o problema da escuridão, porque o motor de luz, quando funciona, quando não está pifado e tem diesel, o que é muito raro, funciona das 6h às 22h, quando é desligado. Não dá para funcionar geladeira, freezer, não dá para conservar os alimentos”, afirma.

SAIBA MAIS:

Setor siderúrgico vive novo ‘apagão’, OESP


Com mercado interno em queda e excesso de produção no mundo, empresas demitem e, como em 2008, começam a desligar altos-fornos

 
 
A combinação de demanda fraca por aço no mercado interno e excedente de produção global pode provocar uma onda de paralisações das siderúrgicas instaladas no País. Em setembro, a utilização da capacidade média da indústria encerrou em 61,3%, muito abaixo do índice de ocupação considerado ideal para o setor, de 80%. A média global, no mesmo período, ficou em 71,9%.
As siderúrgicas do País, que chegaram a exportar metade de sua produção nos anos 90, têm perdido ano a ano relevância no mercado internacional. Na crise de 2008, o setor travou e chegou a registrar, em janeiro de 2009, índice abaixo de 50% da capacidade de produção. Mas a recuperação foi rápida: em setembro do mesmo ano, o índice já havia voltado aos 80%. “Hoje é diferente. As indústrias vivem a pior crise de sua história e não há horizonte de recuperação no curto prazo”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente do Instituto Aço Brasil (IABr).
No início de 2009, sete altos-fornos, de um total de 14 em operação no País, foram desligados. Posteriormente, todos foram reativados. Neste ano, com o anúncio feito pela Usiminas na sexta-feira de desativação da maior parte da unidade de Cubatão, o grupo terá três altos-fornos desligados – um na usina de Ipatinga (MG) e dois da usina paulista –, e outras companhias podem seguir o mesmo caminho, de acordo com fontes de mercado. O balanço do IABr, até junho deste ano, inclui 20 unidades dentro das usinas siderúrgicas paradas ou desativadas, incluindo altos-fornos (onde o minério de ferro é fundido e transformado em ferro gusa) e aciarias (onde o ferro gusa é transformado em aço), além de outros equipamentos.
A desativação de parte da fábrica da Usiminas em Cubatão, um dos principais polos siderúrgicos do País, é o retrato mais emblemático da crise do setor. A empresa também anunciou, na quinta-feira, o corte de 4 mil trabalhadores (diretos e indiretos), logo após divulgar um prejuízo líquido de R$ 1,042 bilhão. Nos últimos 12 meses, até junho, o setor siderúrgico cortou 11,2 mil trabalhadores e 1,4 mil foram colocados em lay-off (suspensão temporária do contrato de trabalho). O IABr, que previa mais 4 mil demissões até o fim deste ano, já está revendo seus números para cima.
As indústrias são afetadas principalmente pela paralisia dos setores da construção civil, automobilístico e de máquinas e equipamentos, que respondem por 80% do consumo de aço, de acordo com o mercado.
O Brasil deve produzir este ano 32,75 milhões de toneladas de aço bruto, queda de 3,4% em relação a 2014. O consumo aparente deve recuar 13%, de 24,6 milhões de toneladas para 22,3 milhões de toneladas. “A queda no consumo interno não será compensada pelas exportações, uma vez que há um excedente global de 700 milhões de toneladas”, diz Lopes, do IABr.
A competitividade das indústrias do País, segundo Lopes, ainda é afetada pela China. Em 2014, a China respondeu por 52% dos 3,9 milhões de toneladas de aço importadas pelo Brasil. Entre 2009 e 2014, o Brasil dobrou o volume importado, espaço que foi ocupado pela China, que exporta 40% de sua produção. Em 2000, o produto chinês respondia por 1,3% das importações. “Se somar a importação indireta de aço (máquinas, equipamentos, peças automotivas e carros), o volume importado chega a 8,7 milhões de toneladas, superior à capacidade produtiva da Usiminas inteira.”
Crise interna. A Usiminas e outra gigante do setor, a CSN, têm alto endividamento. No caso da Usiminas, seus principais controladores – a italiana Ternium e a japonesa Nippon – brigam há mais de um ano. Já o grupo do empresário Benjamin Steinbruch, que possui dívida bruta de R$ 32 bilhões, renegociou o alongamento de R$ 5 bilhões e tenta vender parte de seus negócios – entre eles, a participação de 14% na própria Usiminas. A venda do terminal de contêineres Tecon, avaliado em R$ 1 bilhão, avançou, segundo fonte familiarizada com o assunto.
A Gerdau, controlada pela família Johannpeter, que registrou prejuízo de R$ 2 bilhões no terceiro trimestre, é considerada a melhor companhia do setor pelo mercado. A Ativa Investimentos acredita que, por estar mais exposta aos EUA, com melhor estrutura de capital, tem condições de sofrer menos com a crise.

sábado, 31 de outubro de 2015

Alckmin enfrenta primeira crise na base neste mandato, OESP


Deputados aliados e da oposição se uniram para tornar impositiva a execução de emendas individuais em 2016

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) enfrenta agora, faltando pouco mais de um mês para o recesso parlamentar da Assembleia Legislativa de São Paulo, a primeira crise com sua base aliada no parlamento estadual. Governistas e oposição se uniram para tornar impositiva a execução de emendas individuais dos deputados a partir de 2016.
O movimento é liderado pelo deputado Campos Machado (PTB-SP), um dos mais combativos representantes de Alckmin na Casa, e conta com a simpatia do presidente da Assembleia, Fernando Capez, que é do PSDB. Uma proposta de emenda à constituição (PEC), que foi protocolada na quarta-feira, propõe alterar o artigo 175 da Constituição estadual para garantir que 0,3% da receita corrente líquida do Estado seja destinada às emendas individuais dos deputados.
Em processo de ajuste fiscal e corte de despesas, o Palácio dos Bandeirantes é contra a ideia. A avaliação do governo estadual é de que a medida cria pressão na execução orçamentária e ainda acaba com o poder de negociação do Executivo. Em 2015, o governo registrou uma forte queda na arrecadação e reduziu o ritmo dos investimentos em São Paulo. Até setembro, a arrecadação já havia apresentado queda real de 3,8% em relação ao mesmo período do ano passado.
A PEC ainda precisa passar pela Comissão de Constituição e Justiça antes de ir a plenário, e isso precisa acontecer este ano para que seja válida no orçamento de 2016. O Estado apurou que há amplo apoio para que a iniciativa tramite com celeridade.
O projeto é uma resposta dos parlamentares aos atrasos nos pagamentos das emendas pelo governo do Estado nos últimos anos. "Temos emendas ainda de 2013 sendo discutidas, e de 2014. As de 2015 a gente nem começou a discutir", disse a líder da minoria Beth Sahão (PT).
O descontentamento também é visível entre deputados de partidos da base, como no PSD, DEM, PMDB. "Os deputados estão muito unidos em torno desse tema. Mesmo na base e até no PSDB, acho que os parlamentares vão sacrificar algumas posições com o governo para pressionar pela PEC", pontua Jorge Caruso, líder do PMDB.
Reservadamente, deputados já falam até em pressionar Alckmin em temas sensíveis, como o projeto de aumento do ICMS para produtos como cigarro e bebidas - apresentado pelo governo - para que o Palácio dos Bandeirantes não barre a PEC.
Ao longo de 2015, o governo Alckmin contou com apoio de pelo menos 72 dos 94 deputados em todas as votações importantes. A PEC precisava de 32 assinaturas para ser protocolada e teve cerca de 60 signatários, inclusive de Capez e do líder tucano na Casa, Carlão Pignatari./ COLABOROU GUILHERME MORAES, ESPECIAL PARA O ESTADO