A partir do diagnóstico das necessidades de cada cooperativa, o programa “Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando” procura reescrever a sua história. Criado no final de 2005, o programa “Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando” já apoiou o desenvolvimento completo de 142 cooperativas em 69 cidades de 14 estados do país, com mais de 4.200 catadores diretamente beneficiados. A participação tem início com uma visita de diagnóstico feita pela equipe do Cempre para checagem da documentação e infraestrutura. “A partir desse primeiro contato, identificamos as carências da cooperativa em termos de equipamentos, capacitações, documentação... Enfim, analisamos as oportunidades que podemos oferecer para melhorar as condições de trabalho dos catadores e os resultados econômicos da cooperativa”, conta Aline Paschoalino, analista de projetos do Cempre. Pelos resultados alcançados em prol do respeito e da dignidade humana, o programa recebeu, em agosto, o prêmio “Betinho de Democracia e Cidadania”, entregue pela Câmara Municipal de São Paulo, que veio se somar a outros reconhecimentos como o Top de Ecologia da Associação dos Dirigentes de Vendas do Brasil (ADVB). “O trabalho com os catadores é um dos principais focos do Cempre e temos procurado intensificá-lo, como demonstra o salto dado em 2014, visando contribuir para a profissionalização das cooperativas a fim de que possam atender melhor à demanda crescente por seus serviços em função do fechamento dos lixões e dos acordos setoriais, resultado dos avanços da Política Nacional de Resíduos Sólidos”, ressalta Victor Bicca, presidente do Cempre. Desde o início do programa, 16 associadas do Cempre jáparticiparam diretamente do apoio às cooperativas. Entre os equipamentos fornecidos que contribuem para o aumento de sua eficiência, segurança e produtividade, estão prensas, esteiras, elevadores de fardos, fragmentadores de papel, empilhadeiras, trituradores de vidro, bags, carrinhos elétricos, EPIs, uniformes e computadores, entre outros itens. Além da doação de equipamentos, o programa tem como diferencial a capacitação dos catadores por meio de um kit composto por Manual do Instrutor, Guia da Cooperativa, cartilhas para os catadores e DVD. Entre os temas abordados, estão estrutura e funcionamento das cooperativas, saúde, segurança, relações humanas, gestão contábil-financeira, direitos e deveres dos associados, procedimentos para constituição e registro das cooperativas, além de modelos de Estatuto e outros documentos. A capacitação é feita conforme as necessidades identificadas pela equipe do Cempre. Os kits foram desenvolvidos para serem usados também de modo autodidático: até hoje, mais de 6 mil kits foram distribuídos e contribuíram para a formação de 500 novas cooperativas, com geração de cerca de 20 mil postos de trabalho diretos. Cooperativas diretamente apoiadas |
Um retrato de 20 anos da coleta seletiva no país Pesquisa Ciclosoft chega à sua nona edição e completa duas décadas como uma referência no acompanhamento da coleta seletiva em todo o Brasil. O Brasil ensaiava os primeiros passos para a implantação de seu modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos quando o Cempre realizou a primeira edição de sua pesquisa Ciclosoft, em 1994. Apenas 81 municípios promoviam a coleta seletiva, o destino do material recolhido parecia incerto, a indústria recicladora ainda era incipiente e a população pouco sabia do assunto. De lá para cá, muita coisa mudou como mostra a última edição da pesquisa que acaba de ser divulgada pelo Cempre. “A implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos, em 2010, trouxe o impulso necessário para que o sistema buscasse se estruturar de maneira mais profissional, incentivando a responsabilidade compartilhada e a articulação entre a indústria, o Governo a sociedade que já vem se concretizando por meio dos acordos setoriais e das discussões sobre a desoneração da cadeia”, comenta Victor Bicca, presidente do Cempre. O estímulo dado pela PNRS pode ser comprovado pelo número de municípios com coleta seletiva em todo o país que saltou de 443, em 2010, para 927, em 2014 – uma evolução de quase 110%! O crescimento ocorreu em todas as regiões, mas o maior desenvolvimento proporcional se deu no Centro-Oeste que passou de 18 para 62 municípios operando sistemas próprios. Para acompanhar esse movimento, a Ciclosoft reúne informações sobre os programas de coleta seletiva das prefeituras, apresentando dados sobre composição do lixo, custos de operação, participação de cooperativas de catadores e parcela da população atendida. A pesquisa tem abrangência nacional e é atualizada a cada dois anos. Os dados são obtidos por meio de questionários enviados às prefeituras e visitas técnicas. A participação é aberta e voluntária. “Nosso objetivo não é comparar, mas descobrir quais são os municípios que desenvolvem programas de coleta seletiva”, explica a pesquisadora do Cempre, Talita Ribeiro. “Dessa forma, podemos entender como o sistema está estruturado em termos geográficos, quais são seus agentes, os materiais mais coletados e os custos envolvidos, entre outros dados que contribuam para a busca de soluções que permitam expandir os modelos de sucesso.” Confira, agora, algumas das descobertas da Ciclosoft 2014. |
Delegação tailandesa conhece modelo brasileiro de perto De 18 a 22 de agosto, o Brasil recebeu uma delegação vinda da Tailândia para conhecer de perto seu sistema de gestão integrada de resíduos sólidos. Organizada pelo Cempre e o Timpse (par do Cempre naquele país), a visita é um dos resultados práticos da Aliança Global para a Reciclagem e Desenvolvimento Sustentável (Garsd) que conta com a participação da Colômbia, Uruguai, Peru, México, Tailândia, África do Sul e Argentina. “Há hoje um interesse crescente pelo modelo incentivado pelo Cempre que busca desenvolver a coleta seletiva com a inclusão e valorização dos catadores”, destaca André Vilhena, diretor da associação. O último encontro do Garsd aconteceu em Washington, em outubro de 2013, com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na ocasião, representantes do Brasil e da Tailândia resolveram conhecer melhor seus sistemas para que pudessem identificar benchmarks em busca de oportunidades de intercâmbio. Esse compromisso resultou na visita técnica da delegação tailandesa ao Brasil que será seguida de uma visita brasileira àquele país, prevista para novembro. A comitiva esteve em Brasília, onde se encontrou com representantes do governo federal e pôde aprender mais sobre o modelo desenvolvido no país. “Trocamos experiências e conhecimentos que podem ser mutuamente úteis. Foi o primeiro passo para uma aproximação na qual reconhecemos alguns pontos para um acordo que poderá evoluir futuramente”, comenta Fabrício Araújo Prado, chefe da Assessoria Internacional do Palácio do Planalto. A agenda dos membros da delegação incluiu também visitas a cooperativas de catadores em Brasília e São Paulo, encontros com representantes das companhias municipais de saneamento de São Paulo (Amlurb) e do Rio de Janeiro (Comlurb) e reuniões na sede do Cempre. Na análise dos visitantes, o modelo brasileiro se ajusta bem à realidade tailandesa e de outros países emergentes da Ásia. Segundo Pusadee Tamthai, vice-governadora de Bangkok, “seria interessante adaptar a legislação brasileira às nossas necessidades, pois ela agrega aspectos socioeconômicos relevantes às questões ambientais relacionadas à reciclagem”. Para saber mais: http://www.garsd.org/ |
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Apoio integral à estruturação das cooperativas , no Boletim Cempre jul -ago 2014
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Obrigação - MARTHA MEDEIROS (pauta reforma politica)
Uma pesquisa revelou que 61% dos eleitores rejeitam a obrigatoriedade do voto. A desilusão com a política é apontada como um dos motivos. Sendo o voto um instrumento de transformação, eu jamais abriria mão dele, mesmo que fosse opcional, mas concordo: quem dera todos votassem por consciência em vez de fazerem uni-duni-tê em frente à urna apenas por dever cívico. Obrigação é uma palavra que me arrepia. Desde garota. Passei a infância desejando crescer porque intuía que a espontaneidade vivia no lado maduro da existência.
Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos.
Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.
Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender.
Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.
Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.
Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou.
Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.
Sei que cada criança processa os ensinamentos que recebe através de um código muito particular, mas o fato é que eu me sentia numa camisa de força. Horário de ir para cama, ter que raspar o prato mesmo estando sem fome, a televisão racionada, o dever de só tirar notas boas. Obrigações que resultaram numa mulher responsável e bem-criada, ao contrário de tantas outras crianças que fazem o que bem entendem e viram adultos mimados e despreparados para lidar com frustrações. Só que, aos oito anos de idade, eu não sabia nada sobre pedagogia. A teoria sobre criação de filhos não fazia parte do meu repertório. Eu só sabia das minhas vontades. Eu queria ser livre porque me parecia o único jeito de ser honesta com meus sentimentos e pensamentos.
Não queria fazer nada por obrigação. Nem comer, nem dormir, nem ser feliz por obrigação. Considerava uma violência quando, ao perguntar aos adultos “por que desse jeito?”, ouvia como resposta “porque sim e pronto” ou “porque é assim que tem que ser”.
Obedecia militarmente “a hora certa” de fazer as coisas como se houvesse um relógio universal regendo uma orquestra de bons moços a serviço do andamento do espetáculo. Não que me fosse custoso cumprir. Só era custoso entender.
Pior do que me comportar como “todo mundo” era viver uma afetividade também regida por regras. Não parecia que as pessoas se encontravam por saudades, por afinidades ou para repartir calor humano. Parecia obrigação também. A obrigação das datas festivas. A obrigação dos domingos. A obrigação dos parentescos.
Ai de mim se gostasse mais de uma avó do que de outra. Ou se não quisesse sair do quarto para jantar. Ou se me recusasse a ir à missa. Ao colégio eu sabia que tinha que ir, não questionava. Só questionava o que me parecia facultativo.
Apesar dos meus “facultativos” não baterem com os dos meus pais, optei por não dar trabalho, segui a cartilha da boa menina. Fiz minha parte e eles a deles – benfeita, diga-se, ou não seria quem sou.
Mas quem eu sou mesmo? Cumpridora, pontual, educada, porém, hoje, profundamente intolerante a tudo o que não for espontâneo, ao teatro das convenções, às blindagens contra a intimidade, ao que serve apenas para manter a orquestra tocando.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
Em vez de por no chão, ousar!
Essa estrutura vermelha, em ação, é um segmento da linha vermelha no Rio de Janeiro- exatamente sobre a avenida Brasil, a mais movimentada da capital fluminense.
Imagine essa mesma estrutura sendo a parte debaixo um metrô elevado e a de cima, uma ciclovia num jardim suspenso.
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