quinta-feira, 12 de junho de 2014

Fornecimento de água na Grande SP já era 'crítico' antes de crise

Antes mesmo da crise de abastecimento no Estado, a escassez de água era uma realidade para pelo menos 1,6 milhão de pessoas. Ou seja, 9,5% dos consumidores atendidos pela Sabesp na região metropolitana de São Paulo.
Os números referentes ao ano de 2012, obtidos pela Folha, são da própria companhia de saneamento.
Várias áreas da Grande São Paulo, inclusive na capital, estão listadas como críticas nos mapas da empresa.
"Há anos temos o problema de abastecimento de água, apesar de a situação ter piorado muito nos últimos seis meses. Ficamos pelo menos dez vezes sem água nas torneiras neste período", afirma o advogado Ronaldo Joaquim Patah Batista, síndico do condomínio Tamboré 4.
Para a Sabesp, o loteamento é abastecido pela rede da cidade de Barueri.
A situação ficou tão grave, conta Batista, que ele entrou com uma ação na Justiça contra a companhia estadual.
"Temos todos os registros, os funcionários da Sabesp vêm aqui todos os dias [do lado de fora, onde está a entrada da rede] e fecham o registro, sem aviso", afirma.
O condomínio de 320 casas na zona oeste da Grande São Paulo não é o único a ter problemas antigos de fornecimento de água.
Mesmo antes da grave crise hídrica, não é raro faltar água em ruas e bairros de Cotia, Santana de Parnaíba, Itapecerica da Serra e Embu-Guaçu, por exemplo.
Muitos moradores dizem conviver, há anos, com um rodízio informal, sem avisos.
"É por isso que entramos com a ação. Queremos que a Sabesp, pelo menos, seja obrigada a nos avisar que vai cortar a nossa água", diz Batista, morador do Tamboré.
De acordo com a Sabesp, a maior parte da população afetada está em áreas periféricas da região metropolitana, no que a empresa chama de "cidade informal".
Por meio de nota, a empresa informa "que não tem competência legal para regularização de ocupações [...] e áreas informais".
ESCALA
Para definir as regiões críticas de abastecimento, a Sabesp monitora três tipos de indicadores, que são medidos durante todo o ano.
Um deles é a quantidade de água que chega ao local -a empresa tem uma divisão própria das regiões, chamadas de setores.
O segundo é o índice de distribuição, que mostra quantos dias do ano a área ficou sem água.
O terceiro mapeia o número de contatos que a empresa recebeu, de uma determina região, sobre falhas.
Segundo o Plano Metropolitano de Água III, para melhorar a situação das áreas críticas, serão necessários, pelo menos, R$ 5,1 bilhões -contando o novo sistema São Lourenço, até 2018.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem (31/5), 35% dos paulistanos dizem ter enfrentado problemas no fornecimento de água no último mês. 

Por que Piketty incomoda?




Nos bastidores, movem-se as forças que levaram a humanidade ao moinho satânico
por Luiz Gonzaga Belluzzo — publicado 11/06/2014 03:58, última modificação 11/06/2014 03:59
A crise, em vez de unir os que foram prejudicados por ela, está a aumentar a força ideológica e o poder político daqueles que a causaram. Falo isso sob o impacto da leitura do livro de Thomas Piketty, uma incursão corajosa nas casamatas da Economia Política, sempre sitiadas pelos esbirros que simulam defender os espaços da “economia científica” com os argumentos da superstição.
O estado atual do mundo das coisas e das pessoas resulta da desestruturação que as sociedades criadas no Pós-Guerra sofreram nas últimas quatro décadas. Nos bastidores do livro de Piketty, entre linhas, entrelinhas, gráficos e equações movem-se as mesmas forças impessoais da riqueza socializada que em seus desatinos e inconsciências da ganância privada levaram a humanidade aos tormentos do moinho satânico que desatou duas guerras mundiais e deflagrou a Grande Depressão dos anos 30.
Nos anos 1980, a eleição de Reagan na esteira de Thatcher deu início à derrota do arranjo político e social que, nas ruínas do capitalismo dos anos 20 e 30 do século passado, abriu um espaço de convivência e de solidariedade ao erigir as instituições do Estado de Bem-Estar.
Dados minuciosos sobre a evolução do emprego, dos salários e da distribuição da riqueza e da renda não deixam nenhuma dúvida sobre a natureza das agruras vividas pelos assalariados e dependentes nas últimas três décadas. A eclosão da crise de 2008 tornou ainda mais grave e ainda mais confrangedora a sensação de que a situação vai ficar pior, porque o debate entre políticos, economistas e os arautos da mídia está circunscrito a uma agenda mesquinha: keynesianos e ortodoxos estão discutindo bagatelas.
Ao comentar o livro de Piketty, o colunista do Guardian/Observer Will Hutton chama atenção para a concentração da riqueza nos Estados Unidos e na Europa. Os 10% mais ricos detêm 60% a 70% da riqueza, representada por imóveis, ações de empresas, títulos públicos e outros ativos financeiros. A interação entre essa concentração de riqueza sob a forma financeira, ou seja, a predominância crescente da acumulação de direitos de propriedade que reivindicam uma fração maior do valor criado pelo esforço coletivo favorece os ganhos rentistas e enfraquece o espírito empreendedor.
A “natureza” intrinsecamente rentista do capital financeiro e de sua valorização fictícia se apoderou da gestão empresarial, impondo práticas destinadas a aumentar a participação dos ativos financeiros na composição do patrimônio, inflar o valor desses ativos e conferir maior poder aos acionistas. Particularmente significativas são as implicações da “nova finança” sobre a governança corporativa. A dominância da “criação de valor” na esfera financeira expressa o poder do acionista, reforçado pela nova modalidade de remuneração dos administradores, mediante o exercício de opções de compra das ações da empresa.
A crise não deve ser relegada às querelas dos economistas. Suas consequências já afetam profundamente as formas de convivência criadas no Pós-Guerra e que sustentaram as democracias. O que se observa é que as democracias, massacradas pelo poder da finança, parecem impotentes para formular soluções que preservem os direitos sociais e retomem o caminho da prosperidade compartilhada. Vimos recentemente a manifestação dos espanhóis cercando o Parlamento. Qual foi a palavra de ordem? “Que se vayan todos”. Muito bem. Que se vayan todos. E o que deriva dessa consigna? Qual é a proposta? Qual é o projeto? Estamos muito além de uma crise cíclica do capitalismo.
Estamos em uma crise estrutural da vida civilizada. É isso que está em questão, na Europa, nos Estados Unidos. Apontarei uma manifestação que sustenta esta minha opinião. O candidato à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, disse, em uma reunião de coleta de fundos, que os 47% que declaram seu voto no presidente Barak Obama não pagam impostos, não querem trabalhar, não querem ganhar de acordo com seu mérito, como se esses cidadãos tivessem espontaneamente corrido para o colo do Estado em busca de proteção, quando na verdade eles foram compelidos a isso. Curiosamente, a maioria desses cidadãos sobrevive nos estados em que os republicanos costumam ganhar eleições. Há duas questões aí. A primeira delas é a completa incapacidade de perceber – e isso é impressionante – qual é a natureza da situação em que se encontram. Por quê? Porque os Estados Unidos têm o mito da utopia realizada. Se já estamos no paraíso, é impossível sofrer desse jeito. O mundo assiste ao espetáculo que Max Weber chamaria de reencantamento do mundo.

PM detem 3 manifestantes em ato contra a Copa


DIEGO ZANCHETTA - O ESTADO DE S. PAULO
12 Junho 2014 | 11h 00

Cinco ativistas ficaram feridos; jornalista da CNN foi ferida por bala de borracha e foi levada a hospital da zona leste

Atualizado às 11h55
SÃO PAULO - Três manifestantes foram detidos e cinco ficaram feridos após confronto nas proximidades da Estação Carrão do Metrô, na zona leste. Além deles, a produtora da CNN Barbara Arvanitidis foi ferida por uma bala de borracha e foi levada para o Hospital do Tatuapé. "É sempre assim aqui?", perguntou o jornalista espanhol da Reuters Nacho Doce. Mesmo com mais de três décadas de experiência em coberturas internacionais, Doce ficou surpreso e assustado com o que presenciou. "A PM começou muito rápido o tumulto."
A primeira bomba da Copa da Mundo explodiu às 10h14, quando 30 manifestantes do Diretório de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) gritavam em solidariedade aos metroviários, chamando o governador Geraldo Alckmin (PSDB) de fascista. Sobrou também para a presidente Dilma Rousseff (PT). "Fora, Alckmin, leva a Dilma com você."
A Tropa de Choque ocupava todas as ruas das imediações da Estação Carrão desde as 8h30. Alguns policiais diziam que "não ia ter manifestação". Eles estenderam o seu dispositivo pelas ruas do bairro e ficaram a postos à espera dos manifestantes.
Havia 150 policiais com escudos, cassetetes, espingardas, bombas, 20 carros e um helicóptero, apoiando a tropa no chão. Eles contavam ainda com seis bloqueios em ruas contíguas. Em todas as entradas e saídas do Metrô e dentro da estação, outros PMs do Comando de Policiamento da Copa (CPCopa) faziam revistas em jovens, abriam mochilas dos que desembarcavam na estação. A presença ostensiva da polícia surpreendeu os estudantes que chegaram ao lugar por volta das 9h50.
MANIFESTAÇÕES NA COPA
Daniel Teixeira/Estadão
Manifestantes fizeram barricadas com fogo para impedir o avanço da tropa de choque
Um grupo desembarcou de um ônibus de Campinas com uma banda e megafone. O bater dos bumbos dos estudantes não durou quinze minutos. Foi interrompido pelas bombas de gás e de efeito moral disparadas pela Tropa de Choque quando se aproximou do cordão de isolamento feito pelos policiais para impedir a chegada dos manifestante à Radial Leste.
Os manifestantes correram em direção à Rua Platina, uma paralela da Radial. Lá, foram novamente recebidos a bala de borracha por outro grupo da Tropa de Choque. Um manifestante tirou a camiseta e ficou diante dos policiais com uma latinha na mão, desafiando os policiais. Acabou preso. "Coxinha! Coxinha! Coxinha! Fascista! Fascista", gritavam os manifestantes.
Outros cinco ônibus chegaram com manifestantes para "O Grande Ato 12 de Junho: não vai ter Copa!". Eram black blocks, punks, sindicalistas ligados à CSP-Conlutas e estudantes secundaristas. Por volta das 11h, um grupo resolveu marchar até a Rua Serra do Japi, onde fica a sede do Sindicato dos Metroviários. A PM acompanha.