domingo, 5 de janeiro de 2014

Educação e produtividade - SAMUEL PESSÔA


FOLHA DE SP - 05/01

Saber bem as 4 operações e ler com rapidez, por exemplo, torna mais produtivo o trabalhador


Nesta primeira coluna do ano, volto ao tema recorrente das últimas semanas. Trata-se da centralidade da educação na melhora da produtividade do trabalho. O leitor pode ter certeza de que a insistência no tema não é exagero: é uma das questões mais relevantes para o Brasil em sua justa ambição de convergir para o nível de desenvolvimento das nações mais avançadas.

Em três colunas anteriores, apresentei a forma como a academia tratou o tema, desde as contribuições iniciais no fim dos anos 50 de Theodore Schultz, Gary Becker e Jacob Mincer até os trabalhos recentes de Eric Hanushek e tantos outros.

Apontei três momentos. Primeiro, um esforço para mostrar que a associação de maiores salários com maiores níveis de escolaridade é causal: maiores escolaridades aumentam a produtividade do trabalhador, o que aumenta seu salário.

Segundo momento, a tentativa de documentar que sociedades que se empenham em elevar os níveis de escolaridade da população apresentam aceleração em suas taxas de crescimento. Adicionalmente tentei documentar que, nas experiências históricas desde a revolução industrial, o investimento em educação precede a aceleração do crescimento.

Num terceiro e mais recente momento, foi possível mostrar que a variável importante para determinar a relação entre crescimento econômico e educação não é a quantidade de educação (escolaridade média), mas, sim, a qualidade, medida pelo desempenho de estudantes em provas padronizadas.

Resolvi voltar ao tema ao ler a reportagem no jornal "O Estado de S. Paulo", de 26 de dezembro, divulgando trabalho de meus colegas Regis Bonelli e de Julia Fontes, publicado no volume "Ensaios Ibre de Economia Brasileira".

O estudo argumenta que a passagem do bônus demográfico e a forte redução do desemprego indicam que, para crescermos além de 1% ao ano, que é a taxa de expansão da população em idade de trabalhar, a produtividade do trabalho terá de aumentar.

Se quisermos crescer à taxa anual de 3%, por exemplo, a produtividade do trabalho terá de se elevar à taxa de 2% ano. Se quisermos crescer 4%, a produtividade do trabalho terá que crescer à taxa de 3%, e assim por diante.

Como argumentei em três colunas de dezembro, os dois temas, educação e crescimento econômico, estão profundamente ligados.

A dificuldade que temos de reconhecer essa ligação deve-se a uma visão muito estreita do papel da educação.

Por exemplo, é óbvio que médicos ou engenheiros têm que estudar. É óbvio que um torneiro mecânico tem que estudar. O mesmo aplica-se a dentistas ou pilotos de avião ou comandantes de navio cargueiro.

É menos óbvio o papel da educação em atividades não especializadas. No entanto qualquer pessoa que entrou em uma drogaria nos Estados Unidos se espanta com uma loja tão grande sendo tocada com tão poucos trabalhadores.

Ocorre que uma boa educação básica aumenta a produtividade do trabalho mesmo nas tarefas mais simples. Alguém que sabe bem as quatro operações, lê com rapidez e tem alguma cultura geral será um melhor balconista de drogaria.

No limite, como ocorre nos Estados Unidos, um trabalhador em uma drogaria consegue fazer o trabalho de vários balconistas brasileiros. Possivelmente o salário será bem maior.

O que vale para o balconista de drogaria aplica-se ao empregado doméstico, à secretária etc.

O Brasil dos anos 20 até os anos 50 conseguiu construir uma indústria relativamente diversificada sem contar com um sistema público de ensino fundamental inclusivo. O ensino profissional voltado para algumas tarefas tapou o buraco.

Essa experiência passada bem-sucedida contribuiu para que tivéssemos dificuldade em enxergar o papel da educação.

Está nos atrapalhando agora que temos que fazer a transição de uma economia de renda média para economia de renda alta e de enfrentar o desafio de elevar a produtividade no setor de serviços.

Chamar o encanador três vezes em casa para reparar o mesmo serviço com inúmeros retrabalhos não o torna mais rico e dificulta o crescimento da economia como um todo.

O ETERNO RETORNO, depois de assistir ao terno "Quando Nietzsche Chorou" de Irvin D. Yalom


 

               Durante as férias eu li um livro muito interessante, de uma categoria que agora está sendo chamada de "romance de idéias", é Quando Nietzsche Chorou (de Irvin D. Yalom, editado pela Ediouro no fim do ano passado). É de uma passagem do livro e do pensamento de Nietzsche que saíram o título e o assunto nuclear deste artigo, mas antes quero falar um pouco mais sobre o livro. O romance se baseia num encontro hipotético entre o filósofo alemão e o Dr. Josef Breuer, mentor e amigo de Freud.
               Apesar de o encontro nunca ter acontecido, os personagens existiram e são retratados com a fidelidade possível neste tipo de obra (além dos dois principais, outros secundários são o próprio Sigmund Freud e Lou Salomé, que está irresistível). No entanto, para além da descrição das personalidades dos pensadores, está uma forma criativa e inteligente de mostrar um tanto do pensamento da fase inicial de Nietzsche e um pouco do método psicanalítico. A rica e, por vezes, divertida descrição das agruras matrimoniais de Breuer abre o caminho para entendermos, também, a nós mesmos e o caminho psicológico para o pensamento de Nietzsche que valem a leitura. Mas agora quero falar do tal eterno retorno.
               Devo confessar que este é um pedaço do mundo intelectual de Nietzsche que nunca me atraiu muito, não via muito sentido na coisa. Mas aí é que estava a chave que eu não via, buscar na idéia não um significado (parado), mas um sentido, uma direção! Antes, uma introdução para os que não estão familiarizados com o conceito. Para Nietzsche nossas vidas continuarão se repetindo infinitamente para todo o sempre, exatamente da mesma maneira como as estamos conduzindo agora.
               Não se preocupem com as bases da proposição, mas pensem no seguinte: será que eu quero passar a eternidade fazendo o que estou fazendo agora? Será que a decisão que estou tomando hoje merece ser tomada sempre e infinitas vezes? A chave não está na base (até certo ponto inconsistente) da afirmação, mas nas suas conseqüências: desde que aceita a idéia de que cada decisão tomada por nós vai continuar produzindo resultados, para sempre a responsabilidade por nossos atos aumenta tremendamente! Fazer um trabalho que você não gosta, com pessoas burras e num ambiente horrível, isto significa não só perder estes meses ou anos de sua vida, mas fazer esta mesma besteira para sempre. Ver um filme ótimo e que pode te ajudar a entender a si mesmo e se relacionar melhor com os outros significa que sua vida inteira vai melhorar - para sempre!
               Não se preocupem em questionar se suas vidas vão voltar, se você vai viver efetivamente esta mesma vida para sempre, mas aceitem a idéia por uma causa fundamental: minha vida é satisfatória o suficiente para eu querer viver de novo? Cada decisão vale para sempre! Não vou ter inúmeras vidas futuras para ser feliz, para fazer algo que me satisfaça e me sinta bem, para me realizar ou me tornar um ser humano melhor, para tentar viver de forma diferente e mais rica. O agora é de verdade e o futuro não vai mudar sem que eu faça algo já! Notem que o juiz não está fora. Que, ao contrário de outras fantasias em que o julgador é um terceiro, na de Nietzsche o juiz é você mesmo. É você quem deve decidir se vale a pena a sua vida ou não. É mais uma tremenda responsabilidade, mas sobre ela prefiro não falar agora. É como dizem na minha terra, assunto para mais de metro.
               Como eu disse antes, o importante não é tanto a possibilidade material de viver novamente, num futuro remoto, a mesma vida, o importante é o peso quase insuportável que isto dá às pequenas decisões do dia-a-dia. A fantasia de viver para sempre a mesma vida é um exercício que torna presente a urgência do cotidiano, pois, afinal de
contas, é nele que existimos.
© Copyright 2001 - Prof. Luis Marcello de A. Pereira - Advogado, Mestrando pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professor de Direito Constitucional da Universidade São Marcos.


Rodovia é interditada para virar primeira estrada-parque

A rodovia Nequinho Fogaça (SP-139), que liga o sudoeste paulista ao Vale do Ribeira, será interditada nesta segunda-feira (6) para a transformação de um trecho de 38 quilômetros na primeira estrada-parque oficial do Estado. O trecho, entre São Miguel Arcanjo e Sete Barras, corta o Parque Estadual Carlos Botelho e transpõe a Serra das Macacas, ligando a região ao litoral sul paulista. A interdição deve durar 18 meses, prazo de conclusão da obra. No período, o trânsito será desviado para outras rodovias.
Por cortar uma unidade de conservação com Mata Atlântica, considerada sítio do patrimônio natural da humanidade pela Unesco, a prioridade no trânsito será dos animais. A reserva, de 36,7 mil hectares, tem a maior população de mono-carvoeiro do Estado e outras espécies ameaçadas, como o bugio ruivo e a onça pintada.
O governo baixou uma lei para definir a estrada-parque. O projeto teve a supervisão de um grupo de trabalho formado pelas secretarias estaduais de Transportes e Meio Ambiente. Ao invés de asfalto, a empresa contratada pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER) vai usar bloquetes articulados que permitem a infiltração da água e reduzem a emissão de calor.
Quando a estrada estiver pronta, os veículos vão rodar a uma velocidade máxima de 40 km por hora controlada por doze radares com câmeras ao longo do percurso. Não serão permitidos veículos de carga. O controle do acesso será feito nos portais de entrada e saída. Nos corredores de fauna, haverá redutores de velocidade e sinalização que obriga o usuário a parar se tiver algum bicho sobre a pista.
A estrada terá oito passagens subterrâneas para a fauna terrestre e seis aéreas ligando árvores para serem usadas pelos primatas. A estrutura inclui um pronto-socorro para animais silvestres e o ‘samu-animal’, um serviço de emergência que levará os bichos eventualmente acidentados ao hospital veterinário do zoológico municipal de Sorocaba.
LAMARCA – A estrada em terra existe desde a década de 1940 e é anterior à criação do parque. Durante a ditadura militar, foi usada como rota de fuga pelo revolucionário Carlos Lamarca. O caminho é percorrido por peregrinos que se dirigem ao santuário do Bom Jesus, em Iguape. Como parte do projeto, foram instalados quiosques, áreas para observação da natureza, mirante, trilhas de interpretação do ambiente e central de monitoria. A estrada-parque está inserida no projeto de ecoturismo na Mata Atlântica da Secretaria do Meio Ambiente.