sexta-feira, 22 de março de 2013

Parceria com a Huawei beneficia setor acadêmico, por Katia Azevedo

Autor(es): Por Katia Azevedo | Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 27/02/2013

Virgílio Almeida: "A capacidade de armazenamento é em petabyte"
O Brasil está disposto a recuperar o tempo perdido quando se trata de tecnologia da informação, e a computação em nuvem é uma das principais apostas para a reversão desse atraso. A estratégia prevê incentivos para aumentar a competitividade internacional do software brasileiro, com a previsão de R$ 50 milhões em linhas de crédito e outros incentivos às empresas, especialmente micro e pequenas, dispostas a explorar esse mercado. Mas, pelo menos no início, a parceria com empresas que já se destacam mundialmente no setor será fundamental na difusão dessa tecnologia no setor público.
Uma delas, a multinacional chinesa Huawei, fechou contrato de cooperação com o governo, em 2011, e ficará responsável pela doação de equipamentos para instalar dois data centers no país, em Recife e em Manaus, a partir do segundo semestre. Com capacidade para armazenar softwares, arquivos e bibliotecas, esses provedores devem interligar todas as universidades, garantindo o acesso à informação apenas pela internet.
De acordo com o secretário de política de informática do Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), Virgílio Almeida, os data centers ficarão instalados em contêineres, que serão transportados até o Brasil de navio, partindo de Hong Kong. O maior deles vai unir três contêineres e será instalado no Recife. O segundo, unindo dois contêineres, será implantado em Manaus. "A capacidade de armazenamento é em petabyte. O equivalente a um quatrilhão de bytes, capacidade suficiente para comportar os dados de todas as bibliotecas e pesquisas acadêmicas do EUA", compara.
O acordo de cooperação, segundo Almeida, foi um dos temas da primeira visita da presidente Dilma Rousseff à China, quando houve encontros entre comitivas de empresários brasileiros e locais de vários setores.
O Brasil ficará com o custo da montagem da base onde serão instalados os contêineres, além do fornecimento de energia elétrica. "Com essa capacidade de armazenagem de dados, será possível acessar o conteúdo de aulas, vídeos, cursos, e disponibilizá-los para toda a comunidade acadêmica."
O próximo passo será a criação de mecanismos que permitam o acesso ao sistema para outras esferas do governo. Um trabalho mais delicado, devido ao risco de vazamento e má utilização das informações. Para tratar do tema, foi criado um Comitê Interministerial de Computação, encarregado de definir padrões de segurança, privacidade e controle de qualidade. "Quando se trata de internet, a facilidade de acesso é maior, porém os riscos de vazamento de dados e informações confidenciais também. Até o final deste ano as regras devem estar ajustadas, para que o serviço possa entrar em funcionamento, operado por pessoas especializadas, o que também exige tempo de treinamento" diz.
Já a maior Universidade Público do país, a Universidade de São Paulo (USP) saiu na frente na corrida pela implementação da computação em nuvem, ao garantir R$ 200 milhões no orçamento para viabilizar o sistema. A maior parte do dinheiro será aplicada na construção de Internet Data Centers (ICDs), que deverá abrigar um conjunto de supercomputadores formando a "nuvem". Esta, por sua vez, vai concentrar as informações hoje contidas nos sistemas de computação convencionais da universidade, distribuídos entre o campus da capital, Piracicaba, São Carlos e Ribeiro Preto, com garantia de cópias de segurança realizadas por equipes especializadas.
Com a iniciativa, a USP tonar-se a primeira universidade brasileira a utilizar intensivamente o novo sistema de computação, já comum em universidades estrangeiras, como Harvard e Massachussets Institute of Technology (MIT). "A adoção desse projeto arrojado é uma das decisões estratégicas para fazer com que a USP tenha lugar cativo entre as universidades de ponta do mundo", afirma o reitor João Grandino Rodas.
Economia e sustentabilidade são outras vantagens apontadas pela reitoria, já que o "cloud computing" reduz o acúmulo de computadores obsoletos, além da redução de gastos com a conta de energia elétrica e de água, investimentos em segurança patrimonial, espaços físico e recursos humanos.
Na Nuvem Usp, os serviços acontecem em três domínios: corporativo, educacional e científico. O primeiro engloba os serviços de correio eletrônico, pagamentos, emissão de diplomas, convênios e contratos. Já o educacional trata de atividades essenciais da universidade, garantindo acesso a conteúdos educacionais em mídias digitais, na graduação e pós graduação. Enquanto no domínio científico é voltado às atividades de investigação científica, com ênfase no armazenamento dos dados e resultados obtidos.
A primeira etapa, encerrada no fim do ano passado, consistiu na criação de um serviço de correio eletrônico próprio, com direito a novas ferramentas de comunicação e colaboração. A segunda etapa, iniciada em janeiro, coloca o sistema em aperfeiçoamento por meio de discussão e sugestões feitas pelos próprios usuários, com base nas dificuldades encontradas no uso dos serviços em nuvem.
Também está previsto o treinamento de pessoal especializado na operação dos novos sistemas. "Criamos infraestrutura e esperamos que outras unidades analisem as vantagens oferecidas pelo sistema", diz o superintendente de Tecnologia da Informação (TI), Gil da Costa Marques.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Crianças proibidas de ver


Crianças proibidas de ver

21 de março de 2013 | 2h 05
Fernando Reinach - O Estado de S.Paulo
Muito otimistas, os seres humanos associam a palavra novo à palavra melhor. Gostamos de descrever as mudanças na nossa vida como "o progresso da humanidade".

Mas o novo não é sempre melhor. A redescoberta dessa afirmação óbvia é uma das novidades deste início de século e tem aumentado nosso interesse pelo modo de vida nas sociedades ditas primitivas. Você segue a dieta do caçador ou é vegetariano? Que tal corrermos descalços? Educar em casa ou na escola? E o colchão, não deveria ser mais duro?

Nosso passado é longo. Os ancestrais do Homo sapiens surgiram 1 milhão de anos atrás. Durante os primeiros 800 mil anos viveram coletando o alimento de cada dia, todo dia, o dia todo. Vagavam pelas estepes e florestas africanas, fugindo dos predadores. Nós, os Homo sapiens, surgimos faz aproximadamente 200 mil anos e somos descendentes dos indivíduos que sobreviveram a esta intensa seleção natural que durou 800 mil anos. 

Nestes últimos 200 mil anos, ainda passamos 185 mil deles vivendo em pequenos grupos, coletando raízes, caçando, pescando, nos espalhando por diversos continentes. Os nossos antepassados que sobreviveram a esse tipo de vida descobriram a agricultura e domesticaram os animais faz 15 mil anos. Neste período, passamos 10 mil anos em pequenas vilas. Faz talvez 5 mil anos que nos organizamos em cidades maiores e somente há 200 anos ocorreu a Revolução Industrial.

Nesta história de 1 milhão de anos, o passado recente não é a Revolução Francesa ou a locomotiva a vapor, como insistem os currículos escolares. O ontem é o fim da Idade da Pedra, a organização social de tribos nômades e o modo de vida dos primeiros agricultores. O carro e a internet surgiram faz alguns segundos.

O novo livro de Jared Diamond, The World Until Yesterday (O Mundo Até Ontem, em tradução livre), é sobre esse ontem e sobre o que ele pode nos ensinar. São 500 páginas de observações fascinantes. Aqui vai um aperitivo para aguçar seu apetite.

Nas sociedades tradicionais, as crianças, antes de aprenderem a andar, são carregadas pelas mães. Em todas as culturas tradicionais, logo que a criança consegue firmar o pescoço, ela é transportada na posição vertical. Pode ser nas costas ou na frente da mãe, seja com o auxílio dos braços ou utilizando dobras das roupas ou artefatos construídos para esse fim. 

Nessa posição, o campo visual da criança é aproximadamente o mesmo da mãe. Ela olha para a frente e pode observar todo o ambiente em sua volta praticamente do mesmo ângulo e da mesma altura da mãe. O horizonte, as árvores, os animais e seus movimentos são observados pela criança da mesma maneira que a mãe observa seu ambiente. Quando um pássaro canta e a mãe vira a cabeça para observar, a criança também tem uma chance de associar o canto do pássaro à sua plumagem. A criança observa o trabalho de coleta de alimento da mãe, como ela prepara a comida, o que a assusta, o que provoca o riso ou a tristeza na mãe. Carregar uma criança na posição vertical faz parte do processo de educação.

Isso era ontem. E como é hoje? Inventamos o carrinho de bebê. As crianças menores são transportadas deitadas de costas, olhando para o céu (ou para a face da mãe). A criança não compartilha a experiência visual da mãe, não consegue associar as expressões faciais da mãe a objetos e sentimentos. Os sons ouvidos pela criança dificilmente podem ser associados a experiências visuais, atividades ou sentimentos. Deitadas, as crianças modernas só observam o teto (dentro de edifícios) ou o céu (ao ar livre). 

Como o céu é claro e incomoda a vista, muitos desses carrinhos possuem uma coberturas de pano, o que restringe ainda mais o campo de visão e empobrece a experiência visual da criança. Não é de espantar que um bebê, cujos ancestrais foram selecionados para aprender a observar o meio ambiente desde o início de sua vida, fique entediado. Mas para isso temos uma solução moderna: uma chupeta que simula o bico do seio da mãe. Hoje, carregar uma criança é considerado um estorvo, mas nossa nova solução distancia fisicamente a criança da mãe e não permite que elas compartilhem experiências sensoriais. Transportar uma criança deixou de fazer parte do processo educacional.

Hoje sabemos que o desenvolvimento do córtex visual, a parte do cérebro que processa imagens, não termina durante a vida fetal, mas continua após o nascimento e depende do estímulo visual constante para amadurecer. Os carrinhos de bebê de hoje são mais novos, mas será que são melhores?

É incrível, mas hoje, numa época em que educar para o futuro é o lema de toda escola, numa época em que tentamos alfabetizar as crianças cada vez mais cedo, abandonamos o hábito milenar de permitir que as crianças olhem para a frente e compartilhem as experiências vividas por suas mães. 
* Fernando Reinach é biólogo.

MAIS INFORMAÇÕES: JARED DIAMOND,  "THE WORLD UNTIL YESTERDAY. WHAT CAN WE LEARN FROM TRADITIONAL SOCIETIES". VIKING 2012

Redução da perda de água evitaria gasto de R$ 21 mi (saneamento ABC)


Estudo divulgado ontem pelo Instituto Trata Brasil indica que a redução de 10% no índice de perda de água entre as quatro maiores cidades do Grande ABC geraria receita 7% maior para as companhias de abastecimento por ano. Conforme a simulação, a arrecadação anual das empresas que distribuem água em Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá - cerca de R$ 300 milhões - seria ampliada em R$ 21 milhões.
O presidente do Instituto Trata Brasil, Édison Carlos, explica que com a redução, considerada pequena, as companhias teriam recurso disponível para investir, por exemplo, no tratamento de esgoto. "O maior problema do Grande ABC é a baixa taxa de tratamento de esgoto. Se coleta bastante, mas se trata pouco."
Nas quatro cidades do Grande ABC que participaram do levantamento, o tratamento de esgoto foi inferior a 35% em 2010. São Caetano, que não consta na pesquisa por não estar entre os 100 maiores municípios do País, tem 100% de coleta e tratamento.
A pesquisa tem como base o último diagnóstico do SNIS (Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento), do Ministério das Cidades, feito em 2010.
Ao considerar a redução nas perdas financeiras, o maior incremento na receita operacional direta de água seria na Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pelo abastecimento em São Bernardo, que consta na pesquisa, além de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra. A estimativa é que a arrecadação de R$ 109 milhões alcançada em São Bernardo em 2010 fosse ampliada em até 7,4%. A Saned (Companhia de Saneamento de Diadema) teria o segundo maior aumento - passaria de R$ 47 milhões para R$ 50,4 milhões.
Em Mauá, o investimento representaria receita 6,1% maior para a Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá) do que em 2010, quando foram arrecadados R$ 60 milhões. O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) teria receita operacional direta 3,8% maior do que a registrada em 2010 - R$ 97 milhões.
ÍNDICE
Com exceção de Santo André, onde 27,3% da água produzida ou importada não é tarifada, nas outras três cidades o índice de perda de água é superior à média nacional de 37,5%. São Bernardo é o município com maior índice: 42,4%, seguido por Diadema (41,2%) e Mauá (38%).
A perda de água é causada por vazamentos na rede ou ligações clandestinas.
Companhias apontam queda nos índices
As companhias de abastecimento e distribuição de água que operam nas quatro maiores cidades da região destacaram possuir levantamento atualizado sobre as perdas da rede.
No caso de São Bernardo, a Sabesp informou que o índice atual é de 33% e a meta da empresa para 2016 é chegar a 25%. Para isso serão investidos R$ 4,8 bilhões em todo o Estado com trocas de ligações domiciliares, hidrômetros e redes de água, além de pesquisa de vazamentos.
Em Santo André, o Semasa apontou que o índice de perda foi de 22,1% em 2012 e que, em 2010, a perda era de 25,3%, e não de 27,3%, conforme a pesquisa. A autarquia prevê combate a vazamentos, remanejamento de 60 quilômetros da rede de água, instituição de microzonas de abastecimento, troca de 35 mil hidrômetros, instalação de válvulas redutoras de pressão e caça às fraudes.
Diadema tem índice de perda de água de 40% atualmente, segundo a Saned. A companhia pretende normalizar a pressão na rede de distribuição de água, pesquisar e reparar vazamentos, implantar setores menores de abastecimento, detectar e corrigir fraudes, analisar o parque de hidrômetros para identificar quais devem ser trocados e realizar atualização cadastral.
A Sama contratará empresas para reduzir as perdas de água em Mauá. Além de procurar vazamentos na rede, haverá trabalho de identificação de ligações clandestinas - conhecidas como ‘gatos'. A meta é reduzir o índice para 35% após um ano de contrato e chegar a 8% depois de três anos.