quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Ação da PM na cracolândia em SP prejudica Saúde


BRUNO PAES MANSO - Agência Estado
A presença intensiva da Polícia Militar na cracolândia desde janeiro deste ano para coibir o consumo e a venda da droga no centro de São Paulo prejudicou parte do trabalho que vinha sendo feito pela Secretaria Municipal da Saúde desde 2009. A conclusão está em balanço divulgado pelo Município.
Conforme os números, nos últimos sete meses, 71% dos que foram internados desistiram do tratamento ou pediram alta antes de serem dispensados pelos médicos. Considerando os dados desde novembro de 2009, esse total cai para 59%.
Nos últimos sete meses diminuiu também a eficiência do tratamento. Os pacientes que recebiam alta médica nesse período eram 25% dos internados. O porcentual de alta médica caiu pela metade (12%) desde que os policiais passaram a fazer patrulhas na região.
A média de internação, porém, se manteve praticamente inalterada. Entre 30 de novembro de 2009 e 31 de julho deste ano, foram internadas 2.586 pessoas nas comunidades terapêuticas e nos Serviços de Atenção Integral ao Dependente (Said). Dessas, 550 foram internadas entre 3 de janeiro e 31 de julho, período em que a PM passou a patrulhar mais intensamente a região central.
Antes dos policiais, a média mensal de internações era de 81 pessoas. Essa média foi mantida, com 78 internações por mês, depois que as viaturas e homens armados passaram a atuar na área.
Traficantes
A coordenadora de Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial do Município, Rosângela Elias, explica que, em um primeiro momento, no começo da operação, quando os policiais militares chegaram à região, as unidades de saúde ficaram vazias. Alguns dias depois, elas lotaram, com muitos consumidores indo pedir para serem internados ou tratados pelos profissionais que boa parte já conhecia desde 2009. Essas pessoas, no entanto, pediam para sair pouco tempo depois e não davam sequência ao tratamento. Iam mais para se proteger.
Rosângela, no entanto, acredita que foi importante a atuação da PM porque, no período da intervenção, os traficantes haviam fechado ruas e dificultado a ação de funcionários da Saúde. "Era importante pelo menos garantir que o tratamento chegasse aos usuários de droga", diz. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Rede pública adota a técnica da redução de danos

Fortalecida pelos movimentos antimanicomiais, a técnica da redução de danos é usada na rede pública de saúde que trata a dependência química. Na prática, isso significa que a escolha do consumidor em tratamento é respeitada, como ocorre nas repúblicas. A abstinência total não é considerada uma condição para que ele continue no tratamento. "É um processo terapêutico que deve ser analisado caso a caso. Há pessoas que não conseguem experimentar uma gota sequer de álcool por temer o retrocesso completo. Mas há outros que preferem largar aos poucos", diz Roxane Alencar Coutinho, responsável pela área de saúde mental da região sul de São Paulo.
Os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, por exemplo, que vedam o consumo do álcool, não são adotados na política de redução de danos. O médico Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, acredita que a técnica está ultrapassada. "Na Inglaterra abandonaram. A escolha do dependente químico é ambivalente. Ele tem dificuldade de decidir", diz. /B.P.M.

Boicote de auditores provoca rombo de R$ 6,5 bilhões


VANNILDO MENDES - Agência Estado
Em apenas dois meses de greve dos servidores da Receita, entre julho e setembro, cerca de R$ 6,5 bilhões deixaram de ser lançados no caixa da Tesouro, segundo estimativa do comando do movimento. O rombo decorre da operação Crédito Zero, que consiste no não lançamento dos créditos tributários da União, fruto de ações fiscais, uma atividade de competência exclusiva dos auditores da Receita, que recusaram a proposta de acordo e continuam em litígio salarial com o governo.
A direção da Receita informou que não fechou o levantamento de danos e não faz comentários sobre os efeitos da greve. Mas reconhece que a rotina da instituição está seriamente afetada. Os prejuízos à arrecadação tributária são apenas parte dos efeitos perversos da onda de greves, a maior desde o período pré-golpe militar de 1964. A mobilização tumultuou serviços essenciais do setor público brasileiro nos últimos quatro meses.
Pelos cálculos do governo, 93% dos servidores aceitaram a proposta de reajuste de 15,8%, divididos em três vezes, e voltaram ao trabalho. Mas cerca de 40 mil profissionais de dez categorias continuam em greve. Entre eles, estão 19 mil auditores e analistas da Receita e 8,9 mil policiais federais, entre agentes, escrivães e papiloscopistas. Eles somam apenas 7% do universo de ativos no setor público, mas ocupam funções estratégicas em carreiras típicas de Estado e os estragos são expressivos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo

Acabou o namoro do governo com a 'república sindical'


O Estado de S.Paulo
Cenário: João Domingos
Pela primeira vez em quase dez anos de administração petista os sindicatos de servidores públicos tiveram de se contentar só com o que o governo quis dar de aumento até 2015. De acordo com informações de interlocutores da presidente da República, Dilma cobrava todos os dias de seus ministros atos que pusessem fim à greve que chegou a ter 350 mil adesões de 30 categorias diferentes, além de formas de enquadrar tanto a Central Única dos Trabalhadores (CUT) quanto a Confederação Nacional dos Servidores Públicos (Condsef), que juntos comandam cerca de 80% do funcionalismo.
Por inúmeras vezes Dilma disse aos ministros que não aceitava ver a CUT - braço sindical do PT - transformada em cabeça da radicalização da greve. Ela chegou a afirmar que os sindicalistas estavam fazendo "chantagem" e acusou os líderes do movimento de terem "sangue azul". Em outras palavras, os mais bem pagos. Para muitos, Dilma decretou o fim da "república sindical" que reinou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Configurando o fim do namoro do governo do PT com os sindicalistas, a CUT sabia que se não reagisse às ameaças do governo perderia bases para o PSTU e o PSOL. A Condsef, filiada à CUT, chegou a atacar a presidente numa entrevista ao Estado. "Dilma é a maior decepção de todos os tempos. Adotou uma política privatista, neoliberal, de ataque às bases sociais que elegeram seu governo", disse ao Estado Josemilton Costa, dirigente máximo da entidade.
Para ele, na relação com os sindicalistas e com os movimentos sociais, Dilma e Lula estão a uma distância de centenas de anos-luz. "O presidente Lula reconheceu que foi eleito pelos movimentos sociais e não pela elite. Dialogava com esses setores. A presidente Dilma, ao contrário, rejeita os movimentos sociais. Ela acha que foi eleita pelo Grupo Gerdau, pelo empresário Abílio Diniz, pelos banqueiros", afirmou Josemilton. Dilma terá o troco, aposta ele. "Na próxima eleição Dilma terá uma surpresa muito forte com o resultado das urnas."
De origem sindical, Lula não só conhecia pessoalmente a maioria dos dirigentes sindicais, como chamava para si boa parte das demandas dos funcionários públicos e dos trabalhadores urbanos e rurais. Lula costumava convidar alguns desses dirigentes para jogar futebol da Granja do Torto, com eles participava de churrascos e conversava sobre o fim dos anos 1970, quando juntos comandaram grandes greves no ABC.
Dilma, ao contrário, nunca teve convivência com os sindicalistas. Originária do movimento guerrilheiro urbano, sua atividade política legal começou no PDT, partido que a princípio foi rejeitado pela elite sindical, parte do clero e intelectuais que formaram o PT. A presidente da República só veio a se filiar ao PT em 2001, quando Lula já tinha participado de três eleições para a Presidência - e perdido todas elas. Veio a vencer as de 2002 e de 2006.
A presidente da República tem ainda uma forma diferente de conviver com os movimentos sociais. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) está orientado a passar uma mensagem de Dilma: ela não autorizará mais assentamentos em que a comunidade viva como favelados. "É um absurdo que os assentamentos sejam incluídos entre os setores mais pobres do campo, quando poderiam ter infraestrutura e suporte técnico para plantar e ter lucros", recomendou a presidente.