BRUNO PAES MANSO - Agência Estado
A presença intensiva da Polícia Militar na cracolândia desde janeiro deste ano para coibir o consumo e a venda da droga no centro de São Paulo prejudicou parte do trabalho que vinha sendo feito pela Secretaria Municipal da Saúde desde 2009. A conclusão está em balanço divulgado pelo Município.
Conforme os números, nos últimos sete meses, 71% dos que foram internados desistiram do tratamento ou pediram alta antes de serem dispensados pelos médicos. Considerando os dados desde novembro de 2009, esse total cai para 59%.
Nos últimos sete meses diminuiu também a eficiência do tratamento. Os pacientes que recebiam alta médica nesse período eram 25% dos internados. O porcentual de alta médica caiu pela metade (12%) desde que os policiais passaram a fazer patrulhas na região.
A média de internação, porém, se manteve praticamente inalterada. Entre 30 de novembro de 2009 e 31 de julho deste ano, foram internadas 2.586 pessoas nas comunidades terapêuticas e nos Serviços de Atenção Integral ao Dependente (Said). Dessas, 550 foram internadas entre 3 de janeiro e 31 de julho, período em que a PM passou a patrulhar mais intensamente a região central.
Antes dos policiais, a média mensal de internações era de 81 pessoas. Essa média foi mantida, com 78 internações por mês, depois que as viaturas e homens armados passaram a atuar na área.
Traficantes
A coordenadora de Saúde Mental do Centro de Atenção Psicossocial do Município, Rosângela Elias, explica que, em um primeiro momento, no começo da operação, quando os policiais militares chegaram à região, as unidades de saúde ficaram vazias. Alguns dias depois, elas lotaram, com muitos consumidores indo pedir para serem internados ou tratados pelos profissionais que boa parte já conhecia desde 2009. Essas pessoas, no entanto, pediam para sair pouco tempo depois e não davam sequência ao tratamento. Iam mais para se proteger.
Rosângela, no entanto, acredita que foi importante a atuação da PM porque, no período da intervenção, os traficantes haviam fechado ruas e dificultado a ação de funcionários da Saúde. "Era importante pelo menos garantir que o tratamento chegasse aos usuários de droga", diz. As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.
Rede pública adota a técnica da redução de danos
Fortalecida pelos movimentos antimanicomiais, a técnica da redução de danos é usada na rede pública de saúde que trata a dependência química. Na prática, isso significa que a escolha do consumidor em tratamento é respeitada, como ocorre nas repúblicas. A abstinência total não é considerada uma condição para que ele continue no tratamento. "É um processo terapêutico que deve ser analisado caso a caso. Há pessoas que não conseguem experimentar uma gota sequer de álcool por temer o retrocesso completo. Mas há outros que preferem largar aos poucos", diz Roxane Alencar Coutinho, responsável pela área de saúde mental da região sul de São Paulo.
Os 12 passos dos Alcoólicos Anônimos, por exemplo, que vedam o consumo do álcool, não são adotados na política de redução de danos. O médico Ronaldo Laranjeira, da Unifesp, acredita que a técnica está ultrapassada. "Na Inglaterra abandonaram. A escolha do dependente químico é ambivalente. Ele tem dificuldade de decidir", diz. /B.P.M.