segunda-feira, 16 de maio de 2011

Fórum Nacional discutirá novos papéis de Brasil, China e Índia


Organizado pelo ex-ministro Reis Velloso, encontro inclui trabalho que prega ''ajuste fiscal inteligente'' para o País

15 de maio de 2011 | 0h 00
Fernando Dantas / RIO - O Estado de S.Paulo
O Brasil precisa fazer um "ajuste fiscal inteligente", que inclua medidas na área da Previdência e da assistência social, racionalização da política de pessoal, e recuperação da capacidade de planejamento de investimentos de infraestrutura, entre outras providências. Esse diagnóstico e conjunto de recomendações está no trabalho dos economistas Raul Velloso e Marcos Mendes, que será apresentado na quarta-feira no 23.º Fórum Nacional.
Organizado pelo ex-ministro do Planejamento João Paulo Reis Velloso desde 1988, o Fórum Nacional de 2011 será aberto na segunda-feira à tarde com a sessão A Competição do Século: China ou Índia? Ou China, Índia e Brasil?, que reunirá o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e Edmund Phelps, Prêmio Nobel de Economia.
Na abertura do fórum, na sede do BNDES, onde o encontro tradicionalmente é realizado, Reis Velloso fará uma apresentação sobre o tema em debate. Também participarão da mesa redonda nomes como Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau; e o ex-ministro do Desenvolvimento Luiz Fernando Furlan, copresidente do Conselho de Administração da Brasil Foods.
Na terça-feira de manhã, no debate Visões de Brasil Desenvolvido: as Instituições, estarão presentes os ministros Antônio Palocci, da Casa Civil, Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, e Moreira Franco, da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência. Outros participantes são Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), e Glauco Arbix, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Um destaque do fórum de 2011 é apresentação na quinta-feira de Sonia Rocha, professora da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, de Paris, sobre "O ciclo virtuoso de melhorias do bem-estar social e o fim da extrema pobreza".
O Fórum Nacional de 2011 se encerrará na quinta-feira à tarde com a sessão O Sentido da Vida - A Busca da Felicidade, que tem como convidado especial o filósofo e escritor Gilberto de Mello Kujawski. Também participarão dessa sessão, a ministra da Cultura, Ana de Hollanda, e o senador Cristovam Buarque (PDT/DF).
O Fórum Nacional, associação de cerca de cem dos principais economistas, sociólogos e cientistas políticos do País, é organizado pelo Instituto de Altos Estudos (Inae). Reis Velloso é presidente do Fórum Nacional e superintendente-geral do Inae. 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

A América Latina e o exemplo da Índia

08 de maio de 2011 | 0h 00
Mac Margolis - O Estado de S.Paulo
Que tal uma casa nova por R$ 486? Parece piada. Nem uma porta decente sai por essa bagatela na maioria dos lugares. Só não conte isso a Vijay Govindarajan e Christian Sarkar. Ano passado, quando a dupla de professores da Escola Tuck, de administração, da Universidade de Dartmouth, lançou em seu blog o desafio de criar uma casa por US$300, a resposta foi impressionante.
Quem encarou o desafio, porém, não foram apenas ordens caridosas, mas dezenas de gabaritados profissionais nas áreas de design, arquitetura e engenharia. Que será que viam nesse concurso de valores tão pífios? A economia de amanhã, afirma Govindarajan.
Nos últimos anos, América Latina comemora a forte queda da pobreza. Graças ao aquecimento das economias e programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, milhões de pessoas estão ultrapassando a linha da pobreza. A classe média emergiu e, no seu cangote, seguem as classes de baixo. Melhor para a justiça social e para a economia.
Hoje, as empresas sabem que cidadania dá dinheiro. Há mais de uma década, o indiano C.K. Prahalad apontou para as oportunidades enterradas no fundo da pirâmide.
Os pobres que, se imaginava, possuíam apenas os seus sonhos de fato se revelaram consumidores importantes, engordando, vintém a vintém, os lucros das empresas. Dos sem teto aos sem telefone, tornou-se feroz a disputa por essa nova clientela das classes C, D e E - o "pré-sal" da economia, como diz o economista Marcelo Neri.
Como atender a base da pirâmide sem afundar a empresa? A resposta: inovação frugal. Termo cunhado por Carlos Ghosn, CEO da Renault, a inovação frugal é a arte de fazer mais com menos.
São serviços, máquinas, bens de consumo, até casas que são funcionais, atraentes e fáceis de construir e usar. Inventos resistentes, enfim, que saem a preços módicos.
Nesse quesito, a América Latina tem muito a aprender com a Índia. Com suas poderosas empresas de software e também a miséria abjeta, os indianos aprenderam a navegar entre extremos sociais. Os empreendedores nativos abraçam estratégias inusitadas para cortejar clientes que pouco interessavam à multinacionais ocidentais.
É que, anos atrás, pobres agricultores do Punjab inventaram uma máquina de irrigação móvel, montada sobre rodas, e a batizaram de "Jugaad". A metáfora pegou. Hoje ela significa a arte de improvisar soluções com recursos limitados, uma espécie de quebra-galho sistematizado.
Parece oximoro, mas há diversos exemplos. É o GE MAC 400, aparelho de eletroencefalograma portátil, desenvolvido pela General Electric da Índia, que realiza exames ao custo de US$ 1 por pessoa, já certificado em 113 países.
Há a Godrej Chottukool, uma minigeladeira que usa baterias. Outra é o Swach, um purificador de água que aproveita a energia da casca de arroz, em vez da eletricidade. A fabricante é o Grupo Tata, o mesmo do Nano, carro de US$2 mil, um upgrade do velho riquixá.
A adversidade é a mãe da inovação. Onde não tem banco, clientes recorrem a caixas eletrônicos móveis, dispositivos que cabem na palma da mão e permitem fazer transferências, depósitos e pagamentos - agência bancárias virtuais.
Puxados pela Índia, e agora China, os países emergentes viraram laboratórios de inovação. Das 500 maiores empresas da lista da Fortune, 98 já têm centros de pesquisa e desenvolvimento na China e 63 na Índia. O que levou a inovação aos países do "Sul" foi um forte caldo de cultura e circunstâncias: populações continentais, prioridade para educação (sobretudo tecnológica e científica) e abertura econômica (tardia, mas firme, no caso da Índia).
Na América Latina, a inovação tem seu charme, mas não tantos adeptos. "Apesar de algumas ilhas de excelência, a inovação não aflora na economia brasileira", concluiu, duramente, um estudo da Economist Intelligence Unit.
Parte do problema é o vício educacional, o país que privilegia advogados e médicos em detrimento de engenheiros e cientistas, com consequências para a economia. A Toyota, sozinha, registrou em 2009 mais patentes que todas as empresas do setor privado brasileiro naquele ano.
Clientes em potencial, a América Latina têm. No Brasil, onde 16 milhões moram na miséria, faltam 5,5 milhões de casas. Na Argentina, 2,5 milhões. O déficit habitacional colombiano cresce 140 mil casas por ano. Quem sabe os latinos podem imaginar uma casa de US$300? Quem ganhar o concurso de Dartmouth, que termina dia 31, leva US$ 25 mil - e a senha para a economia do futuro.
É COLUNISTA DO "ESTADO", CORRESPONDENTE DA "NEWSWEEK" NO BRASIL E EDITA O SITE WWW.BRAZILINFOCUS.COM 

Governo agora diz que Higienópolis terá estação de metrô


Moradores do bairro não querem a parada, mas empresa diz que ele será instalado em um raio de 300 metros da Avenida Angélica

13 de maio de 2011 | 0h 00
Márcio Pinho e Renato Machado - O Estado de S.Paulo
Apesar do movimento contrário à estação do Metrô da Linha 6-Laranja em Higienópolis, estudos da companhia preveem que a nova localização será bem no coração do bairro. O ponto exato não está ainda definido, mas calcula-se que ela tenha de ficar em um raio de até 300 metros da posição anterior, ou a demanda de passageiros não seria suficiente para viabilizá-la.
Jose Patricio/AE
Jose Patricio/AE
Esquina. Estação polêmica seria na Angélica com a Sergipe
O próprio governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), garantiu que a estação não sairá do bairro. "Higienópolis terá estação de Metrô. Não é porque alguns não querem que não vai ter estação, mas a localização é uma decisão técnica", disse ontem.
O Metrô divulgou nesta semana que a estação inicialmente prevista para a Avenida Angélica seria substituída por outra mais perto da universidade Faap, no Pacaembu. Como a mudança havia sido solicitada por moradores preocupados com "inconvenientes" da estação, formou-se a polêmica que se estaria atendendo a esse grupo. O Metrô considera absurda a hipótese e diz que a decisão foi técnica.
A companhia afirma que a mudança foi necessária para equacionar as distâncias. Inicialmente, estavam previstas quatro estações na região: Higienópolis/Mackenzie, Angélica, Pacaembu e PUC/Cardoso de Almeida. A Estação Pacaembu foi excluída para baratear o custo da obra, uma vez que sua demanda seria baixa (17 mil usuários por dia).
O Metrô afirma que as distâncias da Estação Angélica ficaram desproporcionais: 610 metros até a Higienópolis/Mackenzie e 1,5 mil metros até a PUC/Cardoso de Almeida. Por isso, seria necessária uma nova posição.
Como a Pacaembu sozinha é inviável, o Metrô busca posicionar a nova estação em um ponto que aglutine o fluxo de estudantes da Faap com o já previsto para a estação que seria na Angélica. O local vai precisar levar em conta que 500 metros são o limite que uma pessoa costuma caminhar até uma estação. "Mas nesse caso nós estamos usando 300 metros, pois existe um desnível na região, que pode desmotivar. Mais do que isso nos faria perder a demanda da Angélica", diz o diretor de Planejamento do Metrô, Mauro Biazotti.
Uma das opções é que a estação fique no entroncamento das Ruas Sergipe e Ceará, onde não há edifícios residenciais. O terminal será subterrâneo, o que diminuiria o impacto de desapropriações. As saídas ficariam na frente da Faap e na Rua Sergipe. Outras alternativas são ainda na Sergipe, mas em outros cruzamentos, como com a Rua Bahia.
Especialistas em transportes avaliam que uma estação no meio de uma área residencial não é comum, mas também não é um impeditivo. "Se tiver boa iluminação e calçadas adequadas, não haverá problemas", diz o professor da Poli/USP Jaime Waisman. Países como a França mantém estações em locais estritamente residenciais.
A aposentada Lívia Pereira, de 78 anos, diz que a estação vai atrair "camelôs, mendigos e batedores de carteira". Afirma, porém, que sua opinião e a de muitos no bairro não tem a ver com a classe econômica dos moradores e pessoas que seriam atraídas pelo metrô, mas sim com a falta de necessidade da estação.
Já a coordenadora Tereza Candido, de 30, afirma que há sim argumento elitista por parte de quem não quer o metrô. Ela diz esperar que o serviço não saia do bairro, pois trabalha na zona sul e leva diariamente pelo menos uma hora para chegar de carro. "Poderia pegar o metrô na frente de casa e logo chegar lá."
3 PERGUNTAS PARA...
Maurício LopesPROMOTOR DE JUSTIÇA
1. Qual a sua opinião sobre os moradores contrários ao Metrô perto de casa? 
É o que eu quero entender. Vou estudar se devo mandar ofício para a associação de moradores de Higienópolis, para me explicarem formalmente a questão. A maior questão é demanda. Onde é mais necessário metrô? Na Praça Charles Miller, onde há feira quatro vezes por semana e jogos de futebol, ou na Angélica, perto da Santa Casa, do Hospital Sabará, de clínicas e laboratórios?
2. Que resposta espera receber do governo?
Quero um conjunto de documentos que comparem custo, desapropriações e estudo da demanda das opções na Angélica e no Pacaembu, para comprovar que a decisão foi técnica. Não me venham com fita métrica, que não é assim que se faz metrô no mundo.
3. O Metrô afirma que a decisão foi tomada por causa da proximidade entre estações. O senhor concorda? 
Há várias estações com distâncias inferiores umas às outras e isso não pode ser único argumento. Caso perceba que o critério para a mudança foi político, uma ação civil pública parece razoável.