02/02/2011 do blog André Barcinski
Juro que não queria voltar ao assunto, mas o prefeito Gilberto Kassab não deixa.
Dias atrás, ele anunciou mais um plano para diminuir os engarrafamentos e a poluição em Sâo Paulo (leia a reportagem da Folha aqui).
Inacreditável: enquanto o planeta inteiro discute uma maneira de diminuir o número de automóveis nas ruas e melhorar o transporte coletivo, Kassab insiste em andar na contramão: quer fazer vias expressas e anéis viários que facilitem a vida dos motoristas.
Como é que ninguém tinha pensado nisso antes? Para melhorar o ar da cidade, a solução é abrir mais espaço para os carros, claro. Deixem os coitados correrem em paz!
Então lá vamos nós, despejar milhões de toneladas de asfalto na cidade já impermeável, criar mais faixas para carros e construir mais pontes e viadutos para evitar os cruzamentos indesejáveis.
Não é preciso ser nenhum vidente para adivinhar o que vai acontecer: com vias expressas e cada vez mais incentivo ao uso de carros, o número de carros nas ruas vai aumentar, claro.
Horácio Augusto Figueira, mestre em transportes pela USP, sintetiza com perfeição o projeto do prefeito: “É idéia de jerico. Falar em vias expressas na situação em que o planeta vive, numa cidade como SP, é assinar atestado de óbito."
Eu entendo o prefeito. Ele só está defendendo o interesse de quem realmente manda no país, as montadoras e empreiteiras. Assim como o Lula, que tirou todos os impostos que podia da venda de carros, e o Serra, que fez um trabalho admirável no combate à fumaça de cigarro, mas que parece não se importar tanto com a fumaça dos automóveis.
Sabe quando a situação vai melhorar? Quando o lobby das empresas de transportes alternativos for mais forte que o da GM e da Ford, ou quando todo o transporte coletivo do país for privatizado, num fenômeno semelhante ao da telefonia. Ou seja: nunca.
Enquanto isso, o povão, lobotomizado por Big Brothers, Ilhas de Caras e comerciais em que a grande realização da vida é desfilar num carro novinho, continua sonhando em comprar sua chumbreguinha em 1500 prestações e contando os dias para o próximo Salão do Automóvel. E tome fumaça.
Escrito por André Barcinski às 00h38