terça-feira, 6 de agosto de 2024

Favela do Moinho tem sistema de rádio para monitorar PM, diz Promotoria, FSP

 

São Paulo

favela do Moinho, localizada em um trecho de linha férrea às margens da avenida Rio Branco, no centro de São Paulo, é apontada pelo Ministério Público como uma espécie de centro de inteligência do crime organizado, por estar equipada câmeras de monitoramento, vigilantes e antenas de comunicação capazes de captar o sinal dos rádios transmissores das polícias.

O local é um dos alvos de busca e apreensão nesta terça-feira (6) como parte da megaoperação Salus et Dignitas (saúde e dignidade, em latim), liderada pelo Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado de São Paulo (Gaeco), do Ministério Público, que busca desmantelar um ecossistema do crime instalado na região central de São Paulo, sob o controle territorial do PCC (Primeiro Comando da Capital).

A imagem mostra uma rua estreita em uma área urbana, com casas de tijolos expostos e paredes de madeira. O chão está molhado, indicando que choveu recentemente. À esquerda, algumas pessoas estão visíveis, e ao fundo, um prédio alto com uma pintura visível. Fios elétricos estão pendurados ao longo da rua.
Rua na favela do Moinho, no centro de São Paulo; investigação detectou esquema do PCC na região - Zanone Fraissat - 15.dez.2021/Folhapress

Segundo os promotores, os equipamentos de rádio transmissão são comercializados por criminosos e usados pelos chamados olheiros, que monitoram o movimento no entorno da favela e que usam os aparelhos para informar seus comparsas sobre a movimentação policial na região.

As investigações lideradas pelo Gaeco apontam Valdecy Mesias de Souza como responsável pela comercialização dos equipamentos codificados na frequência dos órgãos de segurança pública. A operação inclui um mandado de prisão para ele.

Informada pelos promotores sobre o uso criminoso de antenas no local, a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) participou do trabalho de campo e, com a utilização de equipamentos de rastreamento e escuta, constatou a existência de um esquema de monitoramento e vigilância permanentes através de rádios UHF no local.

A favela, tratada no âmbito da megaoperação como quartel-general do PCC na região central, também teria barracos usados por traficantes para embalar drogas, além de ser cenário para sessões do chamado "tribunal do crime", que julga extrajudicialmente infrações a regras estabelecidas pela organização criminosa.

Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Gaeco, que liderou as investigações, o chefe do tráfico de drogas no local é Leonardo Monteiro Moja, o Léo do Moinho. Ele teve mandado de prisão expedido pela Justiça durante a operação desta terça.

Preso em novembro de 2021 em um condomínio de luxo em Praia Grande, na Baixada Santista, ele está em liberdade condicional desde junho de 2023. "A favela do Moinho é onde fica a maior quantidade de drogas, apesar de haver moradores [inocentes] também, evidentemente", diz o promotor.

Moja também é apontado como o real proprietário de hotéis na região central registrados no nome de laranjas e que, segundo as investigações, seriam usados para a lavagem de dinheiro.

De acordo com Gakiya, "existe um interesse financeiro na presença do fluxo nesses locais", não só porque isso desorganiza o controle do Estado mas também porque desvaloriza os imóveis do entorno, favorecendo a compra deles por organizações criminosas.

A investigação liderada pelo Gaeco se deu a partir de medidas cautelares autorizadas judicialmente, dentre elas, a ação controlada, a interceptação telefônica e a quebra de sigilos bancário e fiscal, além da colaboração de duas testemunhas protegidas que atuaram por anos nas redes criminosas locais.

Entenda a operação

A megaoperação deflagrada nesta terça reúne diferentes órgãos públicos para desmantelar várias frentes de atividades ilícitas que alimentam uma espécie de ecossistema do crime sob o controle territorial da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), na região central de São Paulo.

Liderada pelo Gaeco, a ação teve a participação das polícias Militar, Civil Federal e Rodoviária Federal, além do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho, Receita Federal e estadual, Anatel (Agência Nacional de Telefonia) e Secretaria de Assistência Social do governo.

A ideia, segundo os promotores, é instituir um novo modelo de intervenção capaz de abarcar a complexidade do território, que como questão mais visível o consumo de drogas em cenas abertas de uso. O abuso de entorpecentes, no entanto, acontece em meio a crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, abuso de menores, receptação de roubos e furtos, e também condições de trabalho análogas à escravidão.

Com a atuação multidisciplinar, o Gaeco busca abalar a estrutura de controle integrado dessas atividades criminosas locais para romper com o monopólio que o PCC exerce sobre aquele território do centro de São Paulo.

A operação inclui 85 mandados de busca e apreensão, 48 medidas de confisco e bloqueio de bens, 45 medidas de suspensão de atividades econômicas e de interdição por lacração de estabelecimentos e sete prisões de pessoas apontadas como lideranças ou peças-chave da atuação desses grupos criminosos.

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