A maior gestora de recursos do mundo, a BlackRock, divulgou uma informação que pode ser uma pá de cal nos esforços para direcionar investimentos para iniciativas que privilegiam questões ambientais e sociais —os famosos investimentos ESG.
Segundo o seu relatório anual de governança de investimentos, a gestora aportou em apenas 20 das 493 iniciativas ligadas a boas práticas ambientais e sociais apresentadas por seus acionistas nos últimos 12 meses, o que dá cerca de 4%. No ano anterior, o nível estava em 7% e, antes disso, em 2021/2022, em 47%, contabilizou o Financial Times.
Acontece que a BlackRock —com seus US$ 9,101 trilhões sob gestão— não está sozinha. A segunda maior gestora do mundo, Vanguard —com R$ 7,2 trilhões sob gestão—, segue pelo mesmo caminho. No último relatório, divulgado no ano passado, a empresa havia investido em apenas 2% dos projetos ligados a boas práticas ambientais e sociais. Antes disso, seu índice de aproveitamento era de 12%.
O movimento mexeu com investidores mais ligados à causa. No mês passado, a Vanguard anunciou seu novo CEO, Salim Ramji. Dias depois do anúncio, uma carta assinada por mais de 8.000 clientes da gestora pede que ele volte seus olhos para a pauta ambiental, uma vez que ela estaria "muito atrás na gestão e mitigação de riscos sistêmicos como as mudanças climáticas."
Não dá para adivinhar se ele dará ouvidos. A freada brusca no interesse em investimentos ESG tem uma lista de razões, mas a principal, a meu ver, é a redução do dinheiro em circulação, que fez os investidores reduzirem seus filtros. Se a preocupação, durante a "onda ESG", foi ganhar dinheiro com responsabilidade, agora, só ganhar dinheiro já parece um bom negócio.
A questão da insegurança energética também entra nessa conta. Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, em 2022, a redução no fornecimento de gás fez londrinos tomarem banho gelado. E as empresas de petróleo e gás, que estão entre os principais alvos das críticas dos ambientalistas, voltaram a ser vistas como investimentos seguros —já que a demanda parece longe de diminuir.
Na nossa Bolsa de Valores, com menos de 400 empresas negociando seus papéis, fazer uma carteira ESG já é um desafio e tanto. Pense que as gigantes Vale e Petrobras, duas empresas entre as de maior peso no Ibovespa, já seriam quase automaticamente descartadas, por tratar-se de uma mineradora e uma petroleira.
No índice ESG da Bolsa brasileira, montado pela S&P Dow Jones, as três ações de maior peso são a Weg, indústria de motores; a Engie, de energia; e a Rede D’Or, de hospitais. Juntas, elas são menos de 6% do nosso principal índice, o Ibovespa, que reúne as ações mais representativas do mercado.
Neste ano, enquanto o Ibovespa acumulou uma sofrida alta de 2,3%, o nosso índice ESG ainda está no vermelho, com uma queda de 1,87%.
Os gigantes dos investimentos pisaram no freio, mas confesso que parece um pouco tarde para as empresas voltarem atrás em seus posicionamentos em relação a boas práticas ambientais, sociais e corporativas. Além disso, grandes empresas dos EUA, como Salesforce e BestBuy, pararam, sem mais nem menos, de divulgar suas metas de inclusão e diversidade em seus relatórios anuais.
O otimista advogado Leonardo Barém Leite publicou, no site Monitor do Mercado, um artigo dizendo que o ESG tende a desaparecer, porque a sustentabilidade se tornará premissa básica, e não diferencial, das empresas. Que assim seja. Nos investimentos, entretanto, a premissa parece ser outra.
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