terça-feira, 13 de agosto de 2024

Prestes Maia, o Haussmann paulistano, Vicente Vilardaga, FSP

 

São Paulo

Se houve um prefeito decisivo, que definiu a nova configuração urbana de São Paulo, foi o engenheiro e arquiteto Francisco Prestes Maia (1896-1965). Ele governou a cidade entre 1938 e 1945 e, depois, entre 1961 e 1965. Foi um grande responsável pela construção da paisagem atual da metrópole, preparando as vias expressas para os automóveis e asfixiando os rios da cidade com avenidas no fundo de vale. Sob certo sentido, Prestes Maia pode ser considerado uma espécie de Haussmann local.

Georges-Eugène Haussmann (1809-1891) foi também prefeito e urbanista, como o brasileiro, e embelezou Paris a seu gosto e deleite, com um plano de abrir doze avenidas radiais em torno do Arco do Triunfo.

O projeto de Haussmann, que virou um padrão mundial para grandes reformas urbanísticas, previa a demolição de quase 20 mil imóveis e a construção de 34 mil no lugar. Saiu do papel em 1853 e continuou a ser implantado até a década de 1920. Suas ideias foram exportadas para várias cidades, entre elas Barcelona, Buenos Aires, Rio de Janeiro e São Paulo.

O prefeito de São Paulo Francisco Prestes Maia concede entrevista ao jornal Última Hora, em 1965

O centro de Paris, como a conhecemos hoje, foi Haussmann quem inventou. Em outra escala e na província, a capital paulista passou por um processo semelhante. Foi uma reurbanização mais tardia do que a do Rio, por exemplo, onde o prefeito Francisco Pereira Passos já na primeira década do século passado, construía grandes avenidas no coração da cidade.

Haussmann e Prestes Maia se diferem em muitos aspectos. Primeiro, pela grandiosidade do projeto de Haussmann. Muitas mudanças foram feitas em São Paulo, mas nada que se compare a Paris.

Na sua reforma, o francês pensou e executou uma grande rede de saneamento básico, ruas largas, grandes estações de trem e parques, enquanto o brasileiro pensava em carros e caminhões e pouco fez pela implantação do metrô ou em prol do saneamento.

Túnel na avenida 9 de Julho em1956: Prestes Maia concebeu um plano de avenidas para a cidade

Outra diferença é a do período histórico em que os dois trabalharam. Haussmann atuou na segunda metade do século 19, quando os trens eram a novidade. Já Prestes Maia é da era dos carros. Em uma viagem para os Estados Unidos foi visitar as fábricas da GM e da Ford. Maia estava mais ligado ao modelo urbanístico americano que ao europeu.

O que Haussmann e Prestes Maia têm em comum é a vontade de intervir na metrópole. É impressionante a lista de algumas obras executadas durante o governo de Maia. Começa com a urbanização do Vale do Anhangabaú, a abertura da Avenida Tiradentes e a construção do estádio do Pacaembu.

Passa pelo Viaduto Jacareí, pela ponte das Bandeiras e pelo túnel da avenida 9 de Julho. E chega no alargamento da rua Xavier de Toledo e das avenidas Liberdade, Vieira de Carvalho e Pacaembu.

A 23 de Maio foi concebida durante seu governo, mas foi inaugurada em 1969, por Faria Lima, ligando o Centro ao Aeroporto de Congonhas. Maia também retificou o rio Tamanduateí e pavimentou a avenida do Estado.

Fachada de prédio da Haussmann, em 2024: vias radiais e planos de habitação para a alta renda

Com seu plano de avenidas, Haussmann pretendeu tirar os pobres do região central e construir mansões no novo eixo viário, que foram erguidas entre 1860 e 1868 sobre as ruínas da cidade antiga. Ele também pensava no rápido acesso da polícia a áreas conturbadas do subúrbio. Para completar, o urbanista cobriu a cidade de belos prédios padronizados e amplos bulevares.

Ambos foram artistas demolidores, no sentido que seus projetos se ergueram em cima da ruínas, sobre um passado de construções ancestrais, rios e também sobre pequenas casas e estabelecimentos comerciais.

É uma paisagem em mutação. No caso de São Paulo, constante. A cidade não para de mudar. Diante de sua grande transformação nos últimos tempos, Prestes Maia virou só mais um prefeito obreiro do passado. Haussmann viu a totalidade de sua obra faraônica, a construção da Cidade Luz, permanecer.


Nenhum comentário: