Ana Carolina de Almeida
Aposto que você já ouviu falar dos "nem-nem" ou sobre como é difícil inserir a geração Z no mercado de trabalho. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 31% dos jovens de 18 a 24 anos não estão interessados no mercado de trabalho nem engajados com a própria educação.
São os "nem-nem". Mas será que o desinteresse, puro e simplesmente, é responsável por isso? É como se estivéssemos aceitando como verdade absoluta a frase da música dos Engenheiros do Hawaii: "Nessa terra de gigantes, a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante."
Temos que ter cuidado com ideias preconcebidas e julgamentos injustos com essa parcela tão importante da sociedade, que representa o futuro do nosso país.
É preciso fazer um mergulho na realidade das juventudes, e isso não deveria ser difícil, pois todos já estivemos lá. Precisamos conhecer e reconhecer a atual realidade que eles vivem, que é diferente daquela que experimentamos.
Hoje, profissões alternativas, como tiktoker, influencer, youtuber, além de carreiras meteóricas e milionárias e o universo da ostentação contribuem para que jovens idealizem o futuro e o quão rápido devem alcançá-lo. Quando entram no mundo corporativo, lidam com a frustração —isso quando conseguem chegar lá.
Por um lado, há empresas que nem recrutam esses jovens sem experiência. Muitas vezes, são requisitos para cargos de entrada em uma organização anos de experiência, fluência em inglês e graduação completa.
Em um país como o Brasil, com ampla mão de obra, o que não faltam são pessoas para os cargos. Porém o próprio mercado já exclui esses jovens e não os vê como possibilidade.
Por outro lado, há empresas que recrutam essas pessoas, mas as tratam como "a banda da propaganda de refrigerante". Com isso, os jovens se sentem desacreditados, não pertencentes àquela organização.
Com frequência, os cargos não oferecem vivências e ferramentas para o crescimento pessoal e profissional, nem desenvolvem habilidades funcionais (competências alinhadas ao cargo) e, principalmente, socioemocionais (autonomia, confiabilidade, flexibilidade), tão importantes nesta faixa etária.
No B-EPIC (Brazil Enterprise Productivity & Inclusion Club), programa desenvolvido pela Fundação Dom Cabral e Gerdau com foco nos jovens aprendizes, é interessante ouvir como eles desejam espaço e aprendizado, mas também precisam aprender a lidar com a ansiedade de ver resultados rapidamente.
Resiliência é uma das qualidades mais trabalhadas. Entre gestores, a importância do reconhecimento também é destacada. Todos precisam de feedback, sobretudo a juventude. É uma fase de autoconhecimento que se estende ao mundo profissional e precisa ser enxergada, respeitada e estimulada.
Empresas devem formar profissionais que acolham os jovens, tenham um olhar empático sobre eles, confiem em seu potencial e entendam que incluir esse público traz aumento de produtividade e uma energia de renovação, além de impulsionar a criatividade e potencializar o crescimento do negócio.
O futuro de muitas empresas nos próximos anos depende de como elas estão lidando hoje com seus jovens talentos, formando competências, habilidades e futuras lideranças.
Trabalhar a inclusão produtiva das juventudes, principalmente em vulnerabilidade social, que não têm acesso a uma educação de qualidade, é um compromisso socioeconômico e ético que todas as organizações e executivos deveriam assumir.
É contribuir para a longevidade dos negócios, desenvolvimento sustentável, diminuição do desemprego e uma sociedade mais próspera.
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