Guilherme Boulos, 42, tenta pela segunda vez ser eleito prefeito de São Paulo. Deputado federal em primeiro mandato, o representante do PSOL busca um resultado diferente do de 2020, quando chegou ao segundo turno, mas foi derrotado por Bruno Covas (PSDB).
Covas morreu em 2021 e deixou o cargo para o então vice, Ricardo Nunes (MDB), hoje principal adversário do candidato do PSOL, apoiado pelo presidente Lula (PT).
Nome em ascensão na esquerda nos ciclos mais recentes, Boulos surgiu no debate público como líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), grupo que reivindica moradias em áreas urbanas, no qual militou durante mais de 20 anos. Foi coordenador nacional do grupo e atualmente está afastado da função.
A atuação no MTST reforçou uma imagem combativa e rebelde, o que levou adversários políticos a associarem Boulos aos rótulos de invasor de propriedades, radical e extremista. Para a campanha, ele buscou amenizar o estilo para se contrapor aos ataques, verbalizados principalmente por Nunes.
O representante do PSOL foi ungido por Lula seu representante na corrida municipal para enfrentar o campo político do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apoiador da reeleição do atual prefeito. A decisão fez com que o PT ficasse sem candidato próprio na cidade pela primeira vez em quase 40 anos.
Para ocupar a vaga de vice, Lula articulou a volta ao PT da ex-prefeita Marta Suplicy, numa estratégia para compensar a inexperiência administrativa do cabeça de chapa e resgatar o legado das três administrações do PT na cidade, com Luiza Erundina (hoje no PSOL), Marta e Fernando Haddad.
A candidatura de Boulos em 2024 começou a ser preparada ainda em 2020, quando ele alcançou 40,6% dos votos válidos contra o então candidato à reeleição, no que foi interpretado à época como uma vitória política para ele, o PSOL e a esquerda como um todo, apesar da derrota objetiva.
Visto desde então como pré-candidato, ele confirmou a intenção ao aceitar um acordo com Lula em 2022 pelo qual abria mão de concorrer ao Governo de São Paulo para favorecer a unidade em torno do nome de Haddad, em troca do apoio do partido à candidatura a prefeito dois anos mais tarde.
O membro do PSOL acabou concorrendo à Câmara dos Deputados e, com mais de 1 milhão de votos, foi o deputado federal mais votado no estado de São Paulo. Ele passou a usar o epíteto de "deputado de esquerda mais votado da história do Brasil" e usou o mandato para ganhar experiência na política institucional e tentar demonstrar que dialoga com adversários e adere a negociações.
Em maio, ele votou pelo arquivamento do processo no Conselho de Ética da Câmara que mirava o colega governista André Janones (Avante-MG) em caso de "rachadinhas", episódio que é explorado por adversários.
O processo de suavização da imagem, para se contrapor às pechas de radical e extremista exploradas pelos adversários, sobretudo Nunes, foi aprofundado ao longo da pré-campanha para a prefeitura.
Desde o segundo semestre de 2023, sua comunicação é orientada pelo marqueteiro Lula Guimarães, que tem no currículo, entre outras, a campanha vitoriosa de João Doria (PSDB) a prefeito da capital em 2016.
Paulistano com origem em família de classe média, Boulos cresceu na região de Pinheiros (zona oeste) e, aos 15 anos, ingressou no movimento estudantil, quando era militante da UJC (União Juventude Comunista). Aos 19 anos, saiu da casa dos pais para viver com integrantes do MTST, grupo que adota invasões como meio de pressionar o poder público a oferecer políticas de habitação popular.
Conciliando estudos e militância, Boulos se formou em filosofia na USP e fez mestrado em psiquiatria na mesma universidade —fez pesquisa sobre a incidência de depressão em comunidades de sem-teto em São Paulo. Também se especializou em psicanálise e foi professor. No atual pleito, declara patrimônio de R$ 199 mil.
A visibilidade pública dele começou com a participação nos protestos de junho de 2013 e em mobilizações contra os gastos para a Copa do Mundo de 2014. Também ajudou a liderar manifestações contra o impeachment de Dilma Rousseff (2016) e contra o governo de Michel Temer (MDB) e atos contra a prisão de Lula pela Operação Lava Jato, o que fortaleceu a relação entre os dois.
Boulos estreou em eleições em 2018, concorrendo à Presidência da República pelo PSOL, partido ao qual se filiou no mesmo ano. Naquele pleito, vencido por Jair Bolsonaro (à época no PSL e hoje no PL), terminou em décimo lugar, conquistando 617 mil votos. Sob Bolsonaro, o MTST e seu principal líder engrossaram manifestações de oposição e puxaram atos pelo impeachment do então presidente.
Nos últimos anos, o deputado buscou ampliar seu espaço no PSOL, levando seu grupo político a se tornar hegemônico na legenda, com as direções municipal, estadual e nacional do partido passando a ser comandadas por aliadas e aliados dele.
Boulos foi colunista da Folha em dois períodos, de 2014 a 2017 e de 2021 a 2022. Tem como companheira a advogada Natalia Szermeta, que conheceu também no MTST, e duas filhas. A família mora há mais de dez anos no Campo Limpo (zona sul), em uma casa que o pai doou oficialmente para o deputado em 2022.
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